A história por aqui desconhecida do nosso embaixador Soto Maior no Reino da Suécia.
Existem referidos milhares de
detalhes deste interessante português, por ali mais conhecidos que na terra
pátria. O que é sintomático... como sempre!
Curioso o facto de ele ter sido considerado “inconveniente” em Portugal, o
que levou a que o colocassem como embaixador na felizmente tão distante Suécia.
UM PORTUGUÊS NO REINO DA SUÉCIA
Trata-se do Sr. Visconde António da Cunha Soto Maior, nascido em 1812,tendo falecido em 1894 em Estocolmo. O seu túmulo encontra-se em local de destaque do cemitério católico de Estocolmo.
Filho de um diplomata português da família Soto Maior no Brasil, foi primeiro militar e posteriormente político membro da Câmara do Reino.
Tanto pelo temperamento como pelo
espírito boémio tornou-se menos “conveniente” tanto para a família como para a
alta sociedade portuguesa. Falou-se em aventuras amorosas com senhoras casadas
pertencentes a famílias do mais alto nível no Reino.
De qualquer modo, foi enviado como
embaixador para a convenientemente distante Suécia.
Dispondo a sua família em Portugal de
avultados bens ele depressa se tornou uma figura de referência na boémia da
mais alta sociedade sueca da época. Para além da impecável elegância com que
sempre vestia, era também célebre pela sua generosidade económica tanto em
festas como nos locais mais exclusivos das Noites de Estocolmo.
Depressa as meninas da alta sociedade
local lhe arranjaram um apelido exclusivo fazendo um trocadilho de Soto Maior
para... ”Söta Majorn”... ou seja : ”Doce Major “ em sueco.
Frequentador assíduo de um dos ainda hoje mais luxuosos e renomados restaurantes (Salão Berns) de Estocolmo, a sua mesa favorita ainda lá se encontra, agora adornada com elegante placa de prata com as suas referências pessoais.
Como uma das figuras centrais da
sociedade local em fins do Século XIX, acabou por vir a ser ainda hoje
recordado nas ementas de restaurantes conhecidos em toda a Suécia que servem o
seu então prato favorito - Gös filé Soto Maior* (filé de perca ou lúcio).
Como elegante modelo do mais exclusivo
vestuário da aristocracia inglesa fazia inveja com a sua infindável colecção
das típicas gravatas de 1800, sempre decoradas com alfinetes de peito
feitos de jóias célebres pelo seu preço e trabalho de ourivesaria.
Nos numerosos jantares e festas na sua
residência particular fazia sempre questão de se ausentar da mesa em cada
intervalo dos inúmeros pratos servidos. Fazia-o para então mudar de gravata e
respectivo alfinete de peito na busca de surpreender os convidados.
Isto sucedia cinco vezes, ou mais, em cada banquete!
O seu temperamento não aceitava atitudes menos correctas e, apesar da sua frágil estatura, com facilidade acabava em duelos.
Cita-se como exemplo um tal Sr.Baker, diplomata inglês, que se referiu de modo menos correcto quanto falava de uma amiga de Soto Maior. O Sr. Baker sobreviveu ao duelo mas... sem uma orelha!
Acabou por falecer com 81 anos, só, na
sua residência de Estocolmo, sem qualquer família ou contactos próximos em
Portugal.
José Belo
10 comentários:
Portugal não é nem nunca foi pequeno!
Pequenos são estes gajos que agora mandam!!!
Grande abraço meu amigo
Joaquim
Ora bem, mais um "português da diáspora" que se "foi safando" até ao final onde, afinal, acabou sozinho e aparentemente não muito feliz.
Claro que só posso agradecer esta narrativa, que desconhecia, e que vem também ilustrar de modo convincente aquilo que sabemos e que é que o dinheiro dá poder e facilita muito a vida.
Não sei se mandarem o nosso personagem para a "convenientemente distante Suécia" teria sido "um castigo" ou antes um "prémio" dadas as conhecidas (?) generosidades suecas.
Seja como for ele por lá progrediu, deixou marca e deixou "marcas".
As dos duelos terão sido algumas. A postura, também.
O que me deixou intrigado foi a de mudar de gravata e de alfinetes aí umas 5 vezes por refeição. Tem piada e certamente atingia o objetivo de impressionar, conforme se diz. Mas o que me intriga é "onde" ele guardava esses acessórios não usados enquanto usava um conjunto deles. Os alfinetes de gravata caberiam todos numa pequena (?) caixa que ficaria num bolso qualquer mas já as 4 gravatas poderiam ficar amarrotadas. Enfim, pormenores.
Já a existência de "placa comemorativa" na, ou junto, à mesa que por hábito utilizava, é bem sintomático da "marca" que por lá deixou.
Uma vez mais os meus agradecimentos ao JBelo por esta deliciosa memória histórica, que nos faz lembrar que Portugal tem sempre produção de muitas e desvairadas gentes.
E aproveitando o comentário do meu querido amigo Joaquim que, se me permitir, considero (o comentário...) um tanto "desajustado", acabo afinal por secundá-lo propondo que "Make Portugal great again"!
Hélder Sousa
Quanto à pergunta do Amigo e Camarada Helder no respeitante aos alfinetes de peito e às gravatas... aparentemente torna-se necessária uma leitura mais atenta.
A fazê-lo,verificará que este mudar de gravatas e jóias decorativas das mesmas era efectuado durante banquetes decorrentes em *sua casa*.
Obviamente que *em casa* teria espaço para guardar as mesmas.
OBS/ O meu uso do termo “gravata” será menos apropriado.
O usado na época referida,meios de 1800,mais não era que um lenço de tecido nobre,enrolado ao pescoço,caindo à frente em cascata com elegante nó.
Lá se encontra descrito em alguns romances de Eça de Queiroz.
A gravata dos nossos dias só se popularizou no século XX.
Um abraço do J.Belo
Chamava-se plastron!
Lembro-me bem do meu pai ainda o usar.
Caro Helder estás no teu pleno direito de considerar o meu comentário desajustado.
Abraços meus amigos
Chamava-se plastron!
Lembro-me bem do meu pai ainda o usar.
Caro Helder estás no teu pleno direito de considerar o meu comentário desajustado.
Abraços meus amigos
Talvez mais importante do que hoje ter a sua mesa favorita ,no luxuoso salão de variedades de Estocolmo, decorada com uma placa de prata com referências pessoais,será o facto de o seu prato de peixe favorito ainda fazer parte da ementa (com o seu nome) na maioria dos melhores restaurantes suecos de qualidade.
Já passou quase século e meio,tempo suficiente para muita água passar sob as “pontes culinárias”.
J.Belo
Chamava-se plastron o tal lenço do pescoço, claro!
A família Soto Maior estava estabelecida tanto em Portugal como no Brasil.
O que veio a provocar “confusão” aproveitada por certos meios culturais brasileiros na Escandinávia para se apoderarem do “nosso” Soto Maior e das suas histórias em Estocolmo.
Este “abrasilamento” incorreto terá a ver com o facto de o Soto Maior pai(!) ter sido embaixador de Portugal no Brasil,enquanto o Soto Maior filho(!) foi embaixadode Portugal na Suécia,somado ao facto de haver membros da mesma família com estas nacionalidades.
As histórias como a do Visconde de Soto Maior mais não são do que um pequeno reflexo da muitifacetada sociedade portuguesa do passado e presente.
Dentro dos tais politicamente corretos procurar ignorá-las não as torna inexistentes.
Vistas desde diferentes perspectivas policio-sociais poderão ser interpretadas,apreciadas,julgadas ou mesmo condenadas.
Como ponto comum são histórias de portugueses espalhados pelo mundo que a seu modo deixaram marcas para além das da História com “H” maiúsculo.
Olhadas e interpretadas ( a ser-me desculpada a jurisprudência) dentro das perspectivas acima referidas, não haverá qualquer semelhança entre o que se pode considerar um “grito de alma” por parte de um comentador com as “ máximas” do Sr.Donald Trump.
Máximas eivadas de ignorâncias criminosas e incompetências abissais, mesmo que da nossa parte estas sejam utilizadas com ironias evidentes.
Um abraço do J.Belo
Caros amigos
Acho que é necessário aclarar algumas coisas.
A primeira é para dizer/confirmar que realmente a parte onde o nosso protagonista trocava de "gravatas e alfinetes" era de facto nos repastos em sua (dele) casa.
Como quando estava a fazer o comentário o texto principal estava "oculto" deixe-me levar pela sua (dele) presença nos outros locais.
Agradeço ao JBelo a chamada de atenção e correção e também as referências ao tal "acessório" (lenço de pescoço) do século XIX.
Agradeço também ao meu amigo Joaquim o trazer à colação o "plastron", cujo nome nem sei se conhecia e não me lembrava ou então desconhecia mesmo e também, e ainda, a autorização para a minha particular consideração de "desajustado" ao comentário que tinha feito.
Devo dizer que o "desajustamento" me pareceu assim tendo em vista o texto e o contexto de que se deveria retirar ilações positivas (a meu ver, claro), e menos para o que foi "produzido".
Vá lá, vá lá, que as ironias foram evidentes...
Abraços, meus caros.
HSousa
Posteriormente,tive conhecimento de que para além de ávido colecionador de”plastrons” e de muito valiosos alfinetes para os mesmos o nosso Soto Maior também colecionava escovas para vestuário.
Obviamente que,sendo ele quem era, não se tratavam de escovas vulgares.
Ele colecionava escovas cujas pegas e “costas” eram confecionadas com madeiras raras,madre pérola,trabalhadas a prata ou mesmo ouro,algumas com incrustações de brilhantes caros.
As escovas eram de tal modo numerosas que, na sua residência,estavam expostas numa sala para isso dedicada e resguardados em estantes com portas de cristal batido ( um certo ultra luxo na Suécia de então).
Aquando da sua morte,e muito lamentavelmente, está coleção rara foi vendida em peças separadas a compradores europeus e norte-americanos.
Dizem que o seu “dito” favorito nas mais diversas ocasiões era qualquer coisa como :
“La vie c’est une folie
Et la folie ca se dance!”
“A vida mais não é que uma loucura
E as loucuras dançam-se!”
Se me desculparem...quase que o estou a ouvir o seu “dito”.......isto quanto aos compreensíveis gritos de alma ou máximas do Trump.
E,como sempre, um mui respeitoso abraço do
J.Belo
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