quarta-feira, 26 de agosto de 2020

P1247: COZINHA GOURMET...


O PETISCO DO JOSÉ ORABÉ

Fazia-se noite no Mato Cão e eu lá fui dar a minha voltinha pelas duas ou três tabancas dos soldados, entre os abrigos (se é que se podia chamar àquilo abrigos), para dar as minhas boas noites ao pessoal e assegurar a minha presença ali no meio deles, tanto mais que passado pouco tempo seria noite escura, pois o Mato Cão não sabia o que era luz!

Ao passar junto da tabanca do José Orabé (se a memória me não falha), fui atraído por um cheiro carregado de paladar que saía duma qualquer panela à porta da tabanca.

O cheiro inconfundível do óleo de palma a cozinhar pequenos pedaços de carne.

Não resisti e pedi ao Orabé que me deixasse experimentar, o que ele muito atrapalhado quis negar.

Mas Alferes é Alferes e o direito “imperou” e lá experimentei uma espécie de coxa de um qualquer animal de um sabor extraordinário.

Claro que lhe perguntei o que era aquilo ao que ele veementemente se negou a informar… e só depois de muita insistência e o exercício de alguma autoridade me foi fornecida então a proveniência do manjar.

De cara no chão disse-me o Orabé: São ratos da mata, Alfero!!!

A Guiné era a Guiné e como tal o petisco não deixou de ser petisco - que não me importava nada de o repetir um dia!!!!

Joaquim Mexia Alves

7 comentários:

Hélder Valério disse...

Caríssimo Joaquim

Mais um exemplo das várias experiências que o pessoal experimentou.
Muitas vezes, quase todas, inicialmente, na ignorância.
É claro que todos (acho eu) temos os nossos preconceitos relativamente aos hábitos "dos outros" mas o que nos relatas é que, antes do preconceito, veio a curiosidade, a vontade de experimentar (fosse ou não "incentivado" pelas qualidades olfactivas).
Estás vivinho e sãozinho (assim parece) pelo que a tal experiência não fez mal algum e até dizes que serias capaz de repetir.....

Abraço
Hélder Sousa

paulo santiago disse...

Coisas estranhas se comiam no Mato Cão...
É possível que já tenham visto uma foto,tirada no Mato Cão,poucos dias após a ocupação,onde estou eu,o Ten-Cor.Polidoro Monteiro, o Alf Médico,Dr Vilar,e um
"lagarto"morto na viagem de Bambadinca para aquele destacamento.
Logo que o bicho,"deu entrada"no sintex,o Médico,profetizou..."vai dar uns bons bifes".Chegados à "estância",o Vilar,encarregou dois africanos da esfola do réptil.Nem cor de peixe,nem cor de carne,era uma "coisa" branca com laivos esverdeados...
Meti na boca,após grelhado,um pouco da "coisa",mas como o aspecto,em cru,não me agradara,não consegui engolir,preferi ração de combate.Só o Médico,e alguns africanos optaram pelos bifes.

Abraço
P.Santiago

Anónimo disse...

Caro Joaquim

Invejo-te no teu “petisco.
Tive oportunidade de ver Balantas grelhar sobre a brasa ratos apanhados de fresco.
Levantavam-nos pelas longas caudas,abriam a boca e comiam-nos inteiros.
Não se davam ao trabalho de lhes extrair as entranhas.
Ficavam certamente mais suculentos!
Vi mas....experimentar?!?

Por outro lado,quem queira conhecer “por dentro” os Estados Unidos não deve perder as oportunidades de se sentar no automóvel e percorrer os States usando estradas secundárias.
Nos bares e “restaurantes “ na beira das estradas a clientela sempre genuína,os hambúrgueres fantásticos,as bem temperadas porções de chili com carne inesquecíveis.
Mas há uma pergunta que nunca devemos nos colocar:
-Quais os animais que contribuíram para aquela saborosa carne picada?

Um grande abraço do J.Belo

joaquim disse...

Meus caros Hélder, Paulo e José

Pois foi uma agradável surpresa!!!!

Nunca fui homem de me incomodar como essas coisas e lembro-me de ter comido um bife de javali frito em banha da cobra propriamente dita que estava muito saboroso.
O raio da carne do facochero é que era rija como cornos que o animal já devia ter algumas 4 comissões em cima do pêlo.

Lembremo-nos que o rato do campo é um animal extremamente limpo, ao contrário do rato doméstico.

As melhores galinhas são as que estão no campo e comem, entre outras coisas, a trampa das outras!!!!

Abraços
Joaquim

josé eduardo oliveira disse...

Renovado o convite para almoçar em Alcobaça. Até breve Joaquim amigoJERO

josé eduardo oliveira disse...

Renovado o convite para almoçar em Alcobaça. Até breve Joaquim amigoJERO

Juvenal Amado disse...

Joaquim ficaste então fâ.
Não lembro de ter visto ratos nem gatos lá para os meus lados, mas não me admiro que fosse um petisco, pois já os asiáticos comem entre outras coisas ratos do campo que parecem coelhos.
Mas diz lá era uma idade e uma situação que nos levava a ser temerários.
Lembrar-me que fui comer cogumelos sem nenhum de nós saber se eram dos bons. Periquito disse que eram parecidos com os de cá mas quatro vezes maiores.

Um abraço