O HOMEM GRANDE, A BAJUDA E O
FUZILEIRO
UMA HISTÓRIA DE
AMOR
Esta era uma dessas ocasiões e a única solução era a Aldeia Formosa dispensar-nos alguns géneros.
Assim, deslocámo-nos alguns quilómetros para uma zona onde
o Rio Corubal podia ser atravessado por canoas.
Chegados à beira do rio, montou-se segurança e aguardámos
que a travessia se concretizasse.
Lá vinham os barcos com a nossa bianda, mas também vinham
a bordo várias mulheres.
A travessia não estava a ser pacífica. Entre as mulheres
notava-se alguma agitação. Com o aproximar dos barcos, também vozes e choro se
começaram a tornar audíveis.
As canoas encostaram à margem, descarregaram-se os sacos de bianda ao som de choro de uma jovem, talvez com quinze ou dezasseis anos. As mulheres mais velhas, talvez umas quatro, ralhavam e seguravam a bajuda, que de forma alguma queria desembarcar e muito menos subir para a minha Berliet.
Nós, os soldados, assistíamos sem podermos intervir, pois
aquele caso era quase assunto de Estado.
A bajuda vinha para casar com o Homem Grande da Tabanca de
Campala. Homem muito importante das relações (quando tinha que ser) do General
Spínola.
Quando os soldados souberam o que se passava, logo ficaram
do lado da jovem – “O filho da p*** do velho!”
Chegados ao destacamento, logo a jovem foi empurrada para a
tabanca e para o seu destino, em que se tornaria a décima mulher do Homem
Grande.
Tinha deixado em Aldeia Formosa o grande amor da vida dela,
um jovem fuzileiro nativo. Estava
inconsolável.
A noite chega rápido naquelas paragens.
Ao amanhecer, com a chegada de um helicóptero - que foi
directo à aldeia - viemos a saber do sucedido.
O noivo, na noite de núpcias, entendeu mesmo contra vontade
da noiva, exercer os seus direitos de macho. A noiva após ter esgotado por
todas as formas, evitar que ele lhe tocasse, resolveu o assunto, pegando no pau
do pilão e partindo uma perna ao marido…
A acção psicológica assim mandava…
A jovem foi presa debaixo de uma árvore, com as mãos e
pernas presas. Ia ser vergastada e ficaria presa mais de trinta dias.
Logo começou uma romaria de soldados que lhe levavam toda a
espécie de guloseimas. Laranjada, latas de conserva, doce e pão. Enfim,
gerou-se uma onda de solidariedade, que levou a que a pena não fosse cumprida.
Os pais da noiva terão finalmente devolvido o dote que o
Homem Grande tinha pago por ela.
Ela voltou para Aldeia Formosa, com o coração a sair-lhe do
peito. Lá estava um certo fuzileiro, que de certo não esperaria um final tão
feliz.
Não fosse a coragem dela...
Juvenal
Amado
2 comentários:
Caro Juvenal
Histórias de coragem e de determinação estão sempre a ocorrer.
Acontece que nem sempre (raramente) obtêm visibilidade.
Fizeste bem em nos dar a conhecer este caso.
Hélder Sousa
Estes homens Grandes tinham todo o direito sobre as pobres mulheres jovens mas este enganouse isto ja devia ter acabado a muitos anos porque andei por ai nesta guine e vi com os meios um destes homens grandes tinha 4 ou 5 mulhers muitas das quais jovens e caras lindas nao faziam nada as pobres muhleres e trabalhavam para eles
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