APRESENTAÇÃO DO LIVRO FOI EM 11 DE DEZEMBRO
Sinceramente contávamos que pudesse estar mais gente presente na apresentação do livro do António Matos aos camaradas da Guiné, mas compreendemos que muitos factores terão contribuído para esta menor afluência de pessoal, sendo uma delas o afastamento geográfico de muitos dos eventuais interessados. Mas a sessão decorreu bem, com manifesto interesse dos presentes, o que levou inclusive a um período no final, com perguntas e respostas e esclarecimentos de parte a parte.
O António Matos e o Régulo da Tabanca do Centro, Joaquim Mexia Alves.
O António Matos e o Régulo da Tabanca do Centro, Joaquim Mexia Alves.
O António Matos posa aqui ao lado do Luís Graça, editor-chefe da Tabanca Grande, blogue onde publicou os seus primeiros textos, o que acabou por incentivá-lo a escrever o livro agora editado.
Dois camaradas presentes nesta sessão, o Vitor Caseiro e o Agostinho Gaspar - que não costumam faltar a estas apresentações - com o Régulo da Tabanca do Centro, Joaquim Mexia Alves, convidado para a mesa de honra como representante do nosso blogue.
Algumas figuras conhecidas da Tabanca do Centro: Aqui em primeiro plano, o JERO e o Juvenal Amado, vendo-se ainda em segundo plano o Agostinho Gaspar e o Vitor Caseiro. Lá atrás o Carlos Silva, camarada que vemos circular por quase todas as Tabancas... Na foto não é muito visível a presença do Helder Valério Sousa, um camarada que esporadicamente nos dá o prazer da sua companhia nos nossos convívios.
Naturalmente estas sessões envolvem normalmente a aquisição da nova obra, o que é o caso do Vitor Caseiro, que ainda adquiriu mais algum exemplar para oferta.
Ao fundo vemos a Giselda a conversar com a Teresa, filha do António Matos, psicóloga que colaborou no livro com um capítulo da sua área de formação.
O Miguel Pessoa também lá esteve, mas ficou atrás da máquina fotográfica...
Na mesa de honra para além do autor três convidados representando blogues que reúnem combatentes da Guiné - Victor Barata (Especialistas da BA12), Joaquim Mexia Alves (Tabanca do Centro) e Luís Graça (Luís Graça & Camaradas da Guiné, vulgo Tabanca Grande).
Na imagem, entre a assistência o JERO e o filho, sendo este uma versão do pai nos velhos tempos, mas num tamanho ligeiramente maior...
Na imagem, entre a assistência o JERO e o filho, sendo este uma versão do pai nos velhos tempos, mas num tamanho ligeiramente maior...
Um aspecto da assistência, que seguiu com interesse as apresentações dos três oradores e as palavras finais do autor do livro.
No final o António Matos agradeceu o apoio do pessoal que esteve presente na sessão de apresentação desta sua obra e que assim quis acompanhá-lo neste momento significativo da sua vida. É que, tendo já plantado duas árvores e criado dois filhos, a este livro poderá juntar brevemente um segundo, que ele pelos vistos gosta de fazer tudo a dobrar...
Deixamos-vos para leitura o texto que o Joaquim Mexia Alves leu no decorrer da sessão - sistema que, segundo ele, garantiria que assim não iria alongar-se muito para além do que tinha sido programado...
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INTERVENÇÃO DO JOAQUIM MEXIA ALVES
"Escuso-me
de fazer cumprimentos formais, visto que estamos entre camaradas de armas,
combatentes, amigos.
Uma
palavra apenas de cumprimentos aos meus colegas de mesa, muito especialmente ao
António Martins Matos, autor do livro e meu amigo, o que com orgulho afirmo.
O
António Martins Matos é um homem desassombrado, frontal, sincero, honesto,
consigo próprio e com os outros, (especialmente com os seus amigos), e que não
se preocupa, nem tem receio do “politicamente correcto”, dizendo sempre aquilo
que são os factos e a sua opinião sobre eles, sem medo de que possa “ficar
mal”.
Por
isso mesmo, este é um livro que apresenta todas essas qualidades, quanto a mim,
claro, pois é um livro desassombrado, sincero, frontal, onde o autor não se
coíbe de apresentar factos, emitir opiniões e, como se costuma dizer em
português corrente, “chamar os bois pelo nome”, sejam eles do passado ou do
presente.
E
é um livro que se lê num só folego, porque o António não escreve, fala connosco
e conta-nos a sua história, as suas histórias, no tom coloquial directo que
quem o conhece, lhe reconhece.
Mas
não se pense no entanto que, por causa do atrás afirmado, o António não se
deixa levar pelos sentimentos, pela emoção, pela delicadeza, o que está bem
presente no episódio que conta sobre a enfermeira paraquedista Maria Celeste
Costa, que ele termina com uma frase cheia de significado: «O hélice continuava
a rodar…»
Para
além de tudo o que esta frase significa de sentimento e delicadeza, tem também
um ensinamento, que a nós vulgarmente chamados “tropa do chão”, não nos deve
passar desapercebido e que é a referência ao hélice no masculino.
Com
efeito o António ao longo do livro vai-nos ensinando os termos da Força Aérea e
não só, que a alguns de nós, “tropa do chão”, são desconhecidos e por isso
mesmo por vezes causam pequenas irritações nos Pilotos da Força Aérea, o modo
como nos expressamos em relação aos aviões, avionetas e outros mimos como estes.
Eu
por acaso até tenho alguma formação na coisa, dados os muitos fins de tarde passados
na Esquadra dos Falcões em Monte Real, em alegres convívios, (para não dizer
mais), em que volta e meia lá me diziam que eu já devia ter aprendido tais
nomenclaturas.
Esses
fins de tarde até deram origem a um voo de A7P, pilotado pelo “Fininho”, não o citado
no livro, mas outro que também esteve na Guiné, e que é uma das coisas da minha
vida que nunca esquecerei.
Mas
continuemos no livro.
Se
esperam de mim uma recenção literária de fino recorte e saber, desiludam-se,
porque para tal não tenho engenho nem arte e este livro é, pelo menos para mim,
demasiado terra-a-terra, no bom sentido, claro, e como tal merece muito mais
que fale do coração do que do intelecto.
Uma
das muitas coisas que retiro deste livro é a forma como o mesmo se vai
desenvolvendo, a mobilização, a chegada, o ajustamento às circunstâncias, o
tirar partido do pouco ou muito que se tem à disposição, a experiência que o
vai tornando veterano e a partida e chegada ao ponto de origem.
É
que ao lê-lo também eu fui sendo conduzido pelo mesmo caminho e a atravessar
memórias que estavam guardadas há muito cá dentro, na cachimónia.
E
o António vai-nos brindando com expressões de humor, do melhor humor português,
aquele que se faz de subentendidos, de tiradas maliciosas sem o serem verdadeiramente,
aquele humor tão bem identificado nos velhos filmes portugueses, e que hoje se
perdeu, para se transformar em rebaixaria e outras coisas que tais.
Claro
que o António nos fala da guerra, não só da sua, mas da de todos nós, e não se
coíbe de apresentar factos e deles tirar ilações lógicas, opiniões
fundamentadas, não tendo receio de afirmar o que muitos sabem, mas têm medo de
afirmar porque não estão em consonância com o pensamento uniformizador que hoje
em dia, (e já do anterior tempo), se pretende instalar nas cabeças entorpecidas
pela apatia e o comodismo individualista.
Por
causa da minha ligação à Força Aérea atrás referida, (até tenho um irmão que
foi Piloto no tempo da famosa Base de Sintra), sempre tive por aquela gente uma
grande admiração e sempre soube e percebi da sua generosidade e disponibilidade
para os outros, mas a verdade é que ainda hoje em dia, (e naqueles tempos
também), para muitos a Força Aérea pouco ou nada fazia, não chegava quando era
precisa e mais ainda, protegiam-se, não se colocando em risco demasiado.
Neste
livro o António dá-nos a dimensão do esforço dessa gente da Força Aérea, desde
o Piloto ao Cabo mais simples, passando pelas enfermeiras paraquedistas,
mostrando-nos toda a sua disponibilidade e entrega, mau grado tantas condições
adversas que viviam, e, obviamente o enorme risco de vida que corriam.
Nós,
“tropa do chão”, temos que reconhecer todo o trabalho que esta gente do ar nos
prestou na Guiné, e não só, e percebermos que muitos de nós, provavelmente
estamos vivos, porque alguém da altura dos céus da Guiné nos protegeu e ajudou.
Fala-nos
também do Ten. Cor. José Almeida Brito, primeiro Piloto a falecer por causa do
míssil Strela, com a voz repassada de orgulho, mas também de indignação, pelo
modo como foi tratado todo aquele processo, para não lhe chamar outra coisa.
E
mais à frente volta ao tema, (que quem me conhece sabe que piso e repiso,
infelizmente sem grande sucesso), do abandono dos corpos dos militares
falecidos por terras de África, e também ao abandono dos militares africanos
que juraram a mesma Bandeira Portuguesa, como nós e foram abandonados à sua
sorte madrasta, que culminou para uma grande parte deles no fuzilamento pelos
novos senhores dos novos países.
E
depois leva-nos a pensar nesta coisa de sermos combatentes, do tal Dia dos
Combatentes, permanentemente enxovalhados por uns sujeitos que fazem uns
discursos, (tipo palmadinha nas costas), para nos adormecer e manter
caladinhos, até porque já faltam poucos anos para todos desaparecermos da
história dos vivos e assim tudo fica resolvido: “Tudo como dantes, quartel
general em Abrantes”!
Chama
a sua filha para nos falar dos medos, das ansiedades, das recordações da guerra
e nos lembrar que ainda há tantos que sofrem na pele, no seu dia-a-dia todos
esses problemas, abandonados a maior parte das vezes por um estado que nem quer
ouvir falar deles, mas que tem recursos, pelos vistos, bastos e disponíveis
para aqueles que, perdoem-me a nota humorística, dele se servem, perdão, queria
dizer, ou talvez não, o servem.
A
sua filha diz mesmo que um “dos factores determinantes para a capacidade de
resiliência mental do ser humano é sentir-se amado.
Se
aqueles que sofrem ainda a guerra poderão ser amados pelos seus familiares, não
o são com certeza pelo Estado que serviram, aliás, não só não são amados como
nem sequer reconhecidos.
Mais
uma vez peço perdão pelas minhas palavras, mas quando nos recordam a guerra e
os nossos camaradas de armas como tão bem o António nos faz neste livro, também
eu parto para a frontalidade e não me consigo calar.
Por
isso, obrigado António!
Para
finalizar uma nota de humor!
Ao
chegar ao fim do livro e perante os anexos não pode deixar de sorrir ao ver nos
documentos ali retratados o carimbo de Muito Secreto!!!
E
eu que pensava que secreto era secreto, mas pelos vistos, também há o muito secreto!
Termino
contando-vos um segredo, mas este classificado como pouco secreto:
O
António Martins Matos tem neste livro uma obra acabada, mas que não acaba,
porque continua viva dentro de nós combatentes.
Por
isso mais uma vez: Obrigado António!
Lisboa,
11 de Dezembro de 2018
Joaquim
Mexia Alves"
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Posteriormente informou-nos o nosso camarada António Martins de Matos que o livro "Voando sobre um ninho de Strelas", já pode ser comprado online.
Podem então fazê-lo através da loja "Pássaro de Ferro", sítio a que podem aceder carregando aqui.
A Tabanca do Centro
4 comentários:
Boa noite Camarigos.
Começo com várias "primeiras palavras" de saudação-
1) Ao Miguel Pessoa pela oportunidade da publicação como é seu hábito.
2) Ao Joaquim Mexia Alves pelo brilho das suas palavras na sua intervenção escrita e muito bem dita.
3) Ao nosso Ten.General António Martins de Matos pelo lançamento do seu livro e pela abertura" e sinceridade dos seus comentários.
Para um militar que como eu andou pela Guine nos anos de 1964-66 a história dos "strelas" pôs-me de rastos. Que incompetência ao nível das mais altas patentes !
Foi uma noite que me ficou marcada.Agora vou ler o livro para depois tentar escrever algumas coisas.
Abraços de Alcobaça.
JERO
Ora pois então!
Uma sessão bem interessante e com gente interessada.
As intervenções foram boas e motivadoras, a do Luís Graça, a do Mexia Alves e a do Barata, que não conseguiu evitar a emoção aquando do episódio que provocou a morte da Enfermeira Paraquedista.
A intervenção do "nosso" AMMatos foi igualmente muito interessante e deixou umas fortes pinceladas sobre algumas situações que, afinal, foram e são muito reveladoras da "não-competência" das "cabeças pensantes" e de como as consequências dessas "omissões" afectaram o desenrolar de muitas coisas.
A assistência (onde pontuou um razoável número de pessoas ligadas à Força Aérea) também completou muito bem as intervenções e foi confortante ver como um Oficial Superior da Força Aérea que fez a sua comissão em Angola se mostrou genuinamente solidário com o pessoal que "fez" a guerra na Guiné e se mostrou confortável por estar ali no meio de tanto "miliciano".
Há ainda a salientar a ênfase que AMMatos entendeu dar no livro e reforçou na sua intervenção sobre os "Anexos" constantes nele e que se referem explicitamente à "Acta" de uma importante reunião ocorrida e que, bem lida, agora que foi desclassificada deixando de ser "muito secreto" é altamente esclarecedora e explicativa do precipitar das "coisas" para o caminho que se seguiu e que todos conhecemos.
Foi bom.
Hélder Sousa
Já agora....
Também gostei de (re)encontrar vários amigos que costumo ver pela Tabanca do Centro e que também acorrem ao "Encontro Anual da Tabanca Grande", nomeadamente o Agostinho Gaspar, o Vítor Caseiro, o Jero e o seu filho (tal e qual o pai em algumas fotos do passado) bem como o Miguel e a Giselda, o Carlos Silva, o Juvenal, etc.
Abraços
Hélder Sousa
Os livros são sempre um bom momento condimentado pelo reencontro fos amigos. Ao Antonio Martins de Matos os meus parabens
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