AVENTURAS DE UM CAPACETE…
E NÃO SÓ…
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Miguel Pessoa |
Há tempos foi publicado neste blogue um
Poste (P866) da autoria do meu camarada Alberto Roxo da Cruz, em que ele relatava
as peripécias que envolveram a sua ejecção e recuperação nas matas da Guiné. Dessa
história – que naturalmente conhecia, pois eu também estava lá… - fixei uma
frase ali escrita:
“Aí,
apercebi-me que tinha perdido o capacete, que estava com o francalete bem
justo, assim como a máscara e a viseira colocadas. Quem quiser, que experimente
retirar o capacete da cabeça, nestas circunstâncias. Nós tentámos essa
experiência e ninguém conseguiu!”
A cena da perda do seu capacete na ejecção,
essa desconhecia-a. Mas é em tudo igual ao que me tinha acontecido meses antes
no Sul da Guiné, quando também tive que me apear dum Fiat G-91 em andamento… No
meu caso não dá para relatar a minha descida em paraquedas pois não me lembro
de nada entre o disparo da cadeira de ejecção e a recuperação da consciência
uns minutos (?) depois da queda.
Esses pormenores já os relatei anteriormente no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" (podem ver aqui) .
Sobre o capacete, posso assegurar que também eu tinha
a máscara de oxigénio colocada, o francalete devidamente ajustado e a viseira
em baixo. Mesmo assim, o facto é que o capacete se foi embora durante a ejecção,
o que mostra a brutalidade desta medida de emergência…
O que não contei então é que, mais
tarde, em conversas tidas com o Gen. Paraquedista Norberto Bernardes (meu
camarada e amigo desde os tempos da Academia Militar em 1965) me foram
relatadas as peripécias da recuperação desse meu capacete, encontrado no mato
pelo grupo que ele comandava (então como Capitão), inclusive com recurso a um
ramo para ver se o IN o teria armadilhado…
Bom, como quem procura tem prioridade,
no fim desse dia o meu amigo Bernardes estava na posse do meu capacete… e do
meu paraquedas, os dois em razoável estado de conservação.
Magnânimo, o Norberto Bernardes
propôs-me decidir qual a peça que eu gostaria de recuperar, ficando ele com a
outra. Optei por ficar com o paraquedas, que achava ser uma boa recordação;
afinal, iria ter um capacete novo quando voltasse a voar. E assim se fez: Eu
guardei o paraquedas e o Norberto Bernardes levou o capacete para a sua casa.
Foi assim que em determinada altura o Norberto Bernardes me informou que tinha oferecido o meu capacete para ser exposto no Museu da Base Escola de Tropas Paraquedistas, em Tancos.
Achei a ideia interessante e resolvi
oferecer o meu paraquedas ao Museu do Ar, da Força Aérea, oferta essa que
acabou por não se concretizar por “falta de espaço para exposição do material”
(palavras do responsável, que me escuso de comentar…).
Desde há muitos anos, principalmente
desde a data da minha recuperação, os Paraquedistas têm sido uma família para
mim, com quem gosto de me dar e que sempre me recebem bem.
Foi por isso que em
2006 naturalmente resolvi oferecer o meu paraquedas ao Museu da Base Escola de
Tropas Paraquedistas, onde hoje repousa na companhia do meu capacete, após uma
longa separação de 33 anos, iniciada no longínquo ano de 1973…
Com um abraço especial ao Norberto Bernardes, um camarada por quem tenho grande amizade e consideração, lembrando também com saudade outro camarada que foi essencial na minha recuperação, o Cap. João Cordeiro, falecido num trágico acidente num salto de paraquedas, poucos meses mais tarde.
Com um abraço especial ao Norberto Bernardes, um camarada por quem tenho grande amizade e consideração, lembrando também com saudade outro camarada que foi essencial na minha recuperação, o Cap. João Cordeiro, falecido num trágico acidente num salto de paraquedas, poucos meses mais tarde.
Miguel Pessoa