Provavelmente
até poderia tratar-se de um recorde do Guiness, mas nunca me interessei por
aprofundar o assunto. Mas, reconheço-o envergonhadamente, a verdade é que
durante todo o período da minha comissão na Guiné nunca passou pelo meu
corpinho outra água que não fosse a do chuveiro do meu alojamento… Banhocas no
rio, em tanques, em charcos, no mar, nunca se proporcionaram – talvez porque
não me agradassem. Quanto à piscina do Quartel General (QG) em Bissau – uma hipótese a considerar – não me
agradando aquele ambiente resolvi nunca pôr lá os pés. Nem um bom banho com
recurso às latas de fruta em calda, cheias de água de duvidosa qualidade - como
já nos referiu o nosso amigo Joaquim Mexia Alves aqui há uns tempos - me passou
sequer pela cabeça…
O
facto é que, sendo o privilegiado detentor de um quartito individual com um
sóbrio WC privativo – onde imperava o chuveiro – nunca me senti tentado a
experimentar outro modo de me refrescar que não fosse com recurso ao duche que
ele me proporcionava.
Assim,
passava-se o tempo, e o fato de banho que me tinha acompanhado desde Lisboa lá
se quedava sem uso, dentro do armário do meu alojamento. Bem, chamar-lhe
armário ou roupeiro poderá ser um exagero – o espaço onde guardava os meus
pertences mais se assemelhava a uma pequena despensa, com algumas prateleiras
onde colocava a minha roupa. O “roupeiro” dispunha na parte superior de uma
lâmpada que éramos aconselhados a manter permanentemente acesa de modo a evitar
o avanço da humidade – e do bolor daí resultante – na roupa que ali
guardávamos…
Estão
a perceber agora o título que escolhi para esta conversa – afinal trata-se de
uma não história, pois à primeira vista parece que o tal fato de banho acabou por não ter
parte activa em toda esta cena. Acabou por não ser bem assim, pois um camarada
piloto da minha Esquadra de Voo, tendo descoberto (não sei como) que eu possuía
um fatinho de banho todo jeitoso, em óptimo estado de conservação, e vendo que
o tamanho se adequava (atenção, a história passa-se em 1973!...) resolveu
pedir-mo emprestado para se ir refrescar na tal piscina do QG.
Custa-me
dizer, mas não vi com bons olhos a cedência do fato de banho. Tinha grande
estima nele pois, associado a um tecido extremamente agradável ao tacto – meio
aveludado – dispunha de um design e cores muito agradáveis. Enfim, para não
fazer a desfeita ao rapaz lá acedi ao seu pedido – e lá vi partir o meu fatinho
de banho para a sua primeira experiência aquática na Guiné – finalmente!
Penso
que o dia na piscina decorreu normalmente e que nada de mau sucedeu aos dois –
ao meu camarada e ao meu fato de banho… O pior foi no dia seguinte, quando vejo
o desgraçado chegar-se ao pé de mim, todo atrapalhado, a explicar-me que tinha
deixado o meu querido fato de banho a secar no exterior, junto ao seu alojamento
e que constatava agora, muito consternado, que alguém o teria entretanto
roubado.
É
claro que me ia passando… e mais enfurecido fiquei quando aquele meu camarada
acrescentou com ar ingénuo: “Ó Kurika, não te preocupes que se eu vir alguém
com o fato de banho eu topo logo, que eu lembro-me perfeitamente como ele é!”…
Claro
que nunca mais vi o fato de banho. A esta distância passou-me entretanto a
irritação – afinal, até ao fim da comissão não precisei de nenhum fato de banho
para nada – e ao tipo que mo roubou até poderei hoje dizer:
“Eh pá, se ainda
tens o fato de banho bem podes continuar com ele, que também já não me serve!...”
Miguel Pessoa
3 comentários:
Boa Miguel!
Também agora já não te servia!!!
Grande abraço
Quem tem fato de banho tem tudo,
Quem não tem fato de banho não tem nada!
O Miguel tinha de banho um fato
Que lhe servia lindamente
Mas com’ homem de fino trato
Emprestava-o a toda a gente.
Um dia muito garboso
Do tecido aveludado
Emprestou-o a um vaidoso
Para dele se usar um bocado.
Todo contente com as cores
O inusitado utente
Deu braçadas, das melhores,
E espantou toda a gente.
Descuidou-se no entanto,
Numa braçada mais forte
E para de todos espanto
Deu um traque de morte.
Sentiu-se na obrigação
De lavar a peça de roupa,
Bem lavadinha à mão,
Pô-l’ a secar foi coisa pouca.
Mas o ladrão muito atento
Que aquele fato cobiçava,
Foi-se pelo seu quarto adentro
E num instante o roubava.
Triste foi o companheiro
Dar a notícia ao Miguel
Roubaram-te o fato, inteiro,
Nem deixaram escrito, um papel.
O Miguel incomodado
Fez logo ali uma jura
Fato de banho emprestado,
Nunca mais, nem ao pendura.
Mas foi mais longe a promessa
E tomou-a de corpo inteiro
Banhos de mar ninguém me peça
Pois fico-me pelo chuveiro.
Em cima da mesa de entrada
Em sua casa desde esse dia
Está a peça de roupa roubada
Numa bela fotografia!
Senhor de Morais Alves
Visconde do Ulmar
Terras do Ulmar, 17 de Agosto de 2012
Esta história publicada
Mesmo logo pela manhã
Já a conhecia da Guiné
Pois chegou ao Cumbijã
Não é porém verdadeira
A versão apresentada
Aqui vos conto o que sei
E juro, não inventei nada.
O senhor piloto Kurica
Dono do tal fato de banho
Se não emprestava o "maillot"
Não era por causa do tamanho
Havia segredo maior
Para o calção esconder
Contou-me amigo meu
O que agora vou dizer.
Tinha a cor do arco íris
O famoso do calção
E o nosso macho piloto
Receava a gozação.
A muito custo o cedeu
Ao amigo que o vestiu
E ao colorido calção
Nunca mais ninguém o viu.
O amigo do piloto
Atacado por um pretão
Fugiu a sete pés
E só parou no Pilão.
Teve medo e entregou-o
A um combatente amigo
Que afinal nos traía
E alinhava no inimigo.
Foi então capturado
Após grande confusão
E o calção de banho apareceu
Para os lados de Mato Cão.
Junto do chefe da Tabanca
Irei até confirmar
Pois se foi no tempo dele
Aqui virá comentar!
Um mergulhador de Buarcos que usa calção de banho de uma só cor : O Vermelho!
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