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Escassos
dias antes de embarcar para a Guiné, em Dezembro de 1971, e como estava
aquartelado no RAP 2, Vila Nova de Gaia, o meu irmão António, (que morava em
Santo Tirso na altura), veio buscar-me ao Porto para ir almoçar a casa dele.
O
meu irmão António é meu padrinho de Baptismo e foi o único para além de mim,
entre os irmãos, que esteve na guerra de África, mais precisamente no Norte de
Angola entre 1962 e 1965, salvo o erro.
Para
além de outros factores, esse facto de termos estado na guerra une-nos de uma
forma especial, como une todos aqueles que passaram por tal “experiência”.
Recentemente
o António enviou-me umas fotografias desse dia de encontro e já despedida, que
agora aqui partilho com todos vós.
Também
nessa altura, o meu irmão escreveu um poema de despedida, que muito me tocou e
aqui coloco.
Era
realmente um pouco “imberbe” quando demandei terras da Guiné, ainda por cima
com a pesada responsabilidade de comandar homens numa guerra.
Ajudou-me
no entanto a compreender as prioridades da vida e fez de mim, (apesar de alguns
futuros desmandos), um homem mais responsável.
A guerra não faz bem nenhum a ninguém, e devia ser e é absolutamente desnecessária!
O
mesmo não digo da tropa, que ajuda a maior parte das vezes os jovens
adolescentes a encontrarem, em primeiro lugar uma igualdade de tratamento que
nos torna mais iguais e mais unidos, uma certa forma de disciplina, sempre
muito necessária, sobretudo nos dias de hoje, e um respeito pelos outros, que
já não se nota na sociedade nos tempos que vão correndo.
Tem
coisas que não interessam?
Sem
dúvida que tem, mas a mim e a muitos ajudou-nos a crescer e a enfrentarmos a
vida com mais denodo e persistência.
Sei
de muito jovem, (da minha família por exemplo), a quem faria muito bem passar
três meses de recruta num qualquer quartel!
Um
abraço para todos
Joaquim
Mexia Alves
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2 comentários:
Meu caro amigo Joaquim
Não podia deixar de estar mais em acordo com as tuas palavras.
De facto, a guerra é abominável, mas subscrevo a ideia que uma prestação de serviço militar (uma recruta e uma 'aprendizagem') fazem muita falta à muito jovem.
Não que as noções de responsabilidade, de dever, de convivência, etc., não possam (não pudessem) ser ministradas pelos pais, familiares, professores, etc., mas bem sabemos que a prática do dia-a-dia nesta vertiginosa vida que se leva nos dias de hoje não deixa margem para esse diálogo, para essa transmissão de valores.
Então, vindo 'de fora' terá mais possibilidade de dar frutos. Os jovens saem da 'tranquilidade' das suas casas, das suas 'certezas', dos terrenos que bem conhecem, para enfrentar um ambiente de exigência, de rigor, de competição, de solidariedade, de amizade, etc., e aí vão obter ganhos de maturidade.
Para além disto, quero também dizer-te que achei o poema muito bom, muito apropriado.
E achei muito interessante que te recomendasse que levasses "um ramo de acácia". Muito interessante e curioso.
Abraço
Hélder S.
Amigo J. Mexia Alves. Achei uma ternura o poema do deu irmão António.Devia estar preocupado com a sua ida para a Guerra e se nessa altura se sabia que ia para a Guiné, pior um pouco. A Guerra como diz nunca devia existir, mas o serviço militar fez bem a homens e também a mulheres, foi o nosso caso.Um abraço Mª Arminda.
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