sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

P187: CONVERSAS DO MAJOR ALVERCA E DO ALMIRANTE VERMELHO - 2


EXTRACTO DA CORRESPONDÊNCIA ENTRE

O MAJOR ALVERCA E O ALMIRANTE VERMELHO

BANALIDADES MÉDICAS...

                 Caro Almirante Vermelho

Tenho seguido com curiosidade as histórias ultimamente narradas na tabanca-mãe (vulgo Tabanca Grande) envolvendo médicos que prestaram serviço na distante Guiné nas longínquas décadas de 60 e 70 do século passado. Um parêntesis para lhe confessar que a frase anterior me deixou um pouco deprimido pois senti-me como que tendo estado envolvido em episódios que remontam ao período jurássico. E, embora também os haja lá por Sesimbra, esta última apreciação faz-me de imediato lembrar a Lourinhã e os seus dinossauros, sendo um dos mais famosos da zona o nosso companheiro Luís Graça, um viajante destemido que à custa das suas permanentes deambulações já poderia/deveria ter escrito um guia para viajantes iniciados.

Bom, com isto tudo desviei-me do tema que tinha escolhido para conversar consigo – os nossos médicos. Isso traz-me de imediato à memória o médico que apoiou a minha evacuação quando mandei um malho em plena mata guineense. Não interessa aqui referir-lhe o nome pois isso não iria influenciar minimamente a história, mas recordo que depois de umas vinte horas sem ter ninguém com quem conversar e assolado por um grande desconforto quanto à incerteza do meu futuro, já tinha os platinados a falhar e deveria apresentar um comportamento algo bizarro, para não dizer pior. Vai daí, quando me viu o nosso doutor resolveu disponibilizar-me uns goles de um frasco de Coramina líquida que trazia no seu kit. Depois de vinte horas sem beber nada e apesar de anteriormente dessedentado pelos camaradas FT, continuava com uma grande sedinha e despejei um bom trago do referido frasco… O  facto é que fiquei com uma passada que ninguém me parava! Só me calei quando me apresentaram a conta do tratamento no HM 241… (EhEh! Estava a brincar, que o tratamento ficou por conta do Estado…)

Curiosamente cerca de um ano depois voltei ao HM 241 por ter detectado, uma de cada lado da coluna, na área lombar, duas massas que me deixaram preocupado, pois pelo tamanho e localização receava que na sequência da ejecção brutal que tinha sofrido pudesse ter deslocado algumas peças de estimação por efeito da aceleração a que tinha estado sujeito... Tranquilizou-me o médico dizendo que os objectos detectados não faziam parte da minha estrutura original, sendo simplesmente dois quistos sebáceos sem perigo de maior. O facto é que aindo cá os tenho, que sou uma pessoa muito poupada, mas das duas uma: ou eles estão mais pequenos ou estão mais protegidos pela massa corporal que se foi acumulando à volta…

E por hoje fico por aqui aproveitando, em jeito de despedida, para lhe apresentar os meus cordiais cumprimentos

Major Alverca


Caro e distinto Major Alverca

Perdido no mar revolto do meu computador, lá encontrei a sua distinta missiva escrita há longos meses .

Estivesse o nosso relacionamento em fase mais conturbada e Vossa Senhoria já me teria enviado insultos, ofensas e mesmo coléricos ultrajes em resposta ao meu silêncio. Ainda bem que ultrapassamos essa fase mais quente e com a chegada do frio e do espírito natalício a calma e a correcção caiu sobre nós!

Sabemos ambos das guerras que travámos pois quando Vª. Exª. largava as suas bombas, logo as minhas canhoeiras respondiam com condizente metralha.

Peço-lhe perdão por ignorar o seu parágrafo que diz respeito aos dinossáurios, mas é assunto que não domino e relembrar-me o período jurássico faz-me sentir alguma mágoa de tempos bons que passaram e não voltam mais!

Li com muita atenção os seus queixumes, os seus desconfortos, a sua solidão, os falhanços nos seus platinados, a Coramina e o aparecimento dos tais objectos estranhos no seu corpo diagnosticados como quistos sebáceos!

Vamos por partes não sem antes de lhe dizer que tive de convocar os sábios que comigo vão privando dado que a latitude da sua carta abarcava assuntos tão variados e de áreas tão específicas que nem a minha intelectualidade, internacionalmente reconhecida, sabia responder.

1, Esses gajos da Força aérea eram uns privilegiados! Sentiu-se desconfortável e sozinho no mato e só lá passou umas horas? Tadinho do menino!. Levasse uma revista de Sudoku, umas palavras cruzadas uma Penthouse  ou mesmo a Playboy, isto para não falar em gira discos onde ouvisse umas óperas, ou treinasse a ler Lobo Antunes ou Saramago que era o que a tropa macaca mais evoluída fazia quando diariamente dormia no mato! No mínimo dos mínimos um livrinho da distinta  colecção “Livros RTP” essa tão útil oferta que fizeram pelo Natal à tropa e à milícia. Diga lá a esse aviador que nós nas emboscadas líamos D.Francisco Manuel de Melo, MIGUEL de Unamuno ( não lhe diz nada este nome?), Fernando PESSOA ( e este, também não?), Vitorino Nemésio e Goethe, o preferido da milícia!

E saíram de rompante o Crocodilo de Mata Cães mais o Tigre do Cumbijã!

 2. Foi mais simpático o Agostinho dos leitões que nos explicou que o falhanço das superfícies de contacto intermitente de certos interruptores automáticos de corrente eléctrica revestidos de uma liga metálica, vulgarmente conhecidos por platinados, não era de grande importância pois a consequência mais gravosa era a queda abundante de cabelo, o que realmente lhe aconteceu senhor Major, mas, que lhe sirva de consolo, o tal dos leitões terá tido avaria mais grave que a sua.
 
3. De mui difícil análise e discussão de dias foi a problemática “Coramina versus Quistos sebáceos”! Cada médico dizia a sua e ninguém se entendia. Havia até um, cá para mim era delegado sindical dos senhores doutores, que estava sempre a resmungar:” Aquele gajo destrói um avião por andar a fazer acrobacias, é tratado á “borliu”  e ainda vem para aqui gozar com os custos dos tratamentos, isto é com os nossos impostos? Desculpem kamaradas, mas não kero nada com este kavalheiro!"

A discussão continuou por mais quarenta horas até que eu tive uma ideia brilhante:

 “Vou chamar o furriel miliciano enfermeiro Oliveira da C.Caç.675” e é para já!"

Corri com os doutores e reuni–me, de imediato, com um homem habituado à guerra da Guiné e á escrita, que logo me avisou, mal eu lhe colocara o problema: isto é assunto sério, portanto nada de clubismos nem de piadinhas nem de intimidades e afivelou um ar grave e sisudo que eu não lhe conhecia.

Entoou o “Quem passa por Alcobaça”, para aclarar a voz e quando eu me preparava, em resposta, para cantar como sinal de boas vindas “O Hino de Buarcos”, fui de imediato ameaçado com um seco "toma nota ou vou-me embora”! Não querem ver este gajo!

"Tenho de acabar de fazer uns licores para uns frades do mosteiro que bebem como o caraças e de mostrar o Convento ao meu neto!"

Logo me concentrei e o nosso douto JERO  começa de enfiada e passo a citar: “CORAMINA ( C10H14N2O) é uma substância derivada do ácido nicotínico utilizado como estimulante cardíaco e respiratório!
Se o Major Alverca bebeu tal líquido em quantidade superior á aconselhável tinha que ter consequências, mas as massas de que ele fala não são nenhuns quistos sebáceos!"

"O que o sr. Major Alverca tem, não são nem mais nem menos do que duas bolas de tabaco provocadas pela solidificação do tal ácido nicotínico. Diz-lhe da minha parte que se não preocupe pois as bolas vão encolhendo com a idade e este encolhimento não tem nada a ver com o que ele chama de crescimento da sua massa corporal. Aqui para a gente, que ninguém nos ouve, o sr. Major está muito mais magro! Creio que está em dieta rigorosa, disse eu, e já perdeu perto de catorze gramas."

Despedi-me do Camarigo Jero com um forte abraço, tão forte como o que lhe envio meu caro Sr. Major Alverca.

Almirante Vermelho

4 comentários:

Alferes Roketadas disse...

Esta coisa de um "majorzeco" tratar um Almirante por caro Almirante, está mal e deixa muito mal visto este espaço recheado de militares, de tal modo que se poderia considerar praticamente uma unidade militar na disponibilidade.

Vamos lá a dobrar a língua Senhor Major e usar os correspondentes Excelências, etc., etc.

Claro, também não fica bem ao Senhor Almirante tratar o Major em causa por "caro e distinto Major"!

Ou deveria ser Senhor Major à moda da Marinha, ou então Nosso Major à moda da Força Aérea e Exército, penso eu de que!

Passando de lado estes preciosismos, no entanto importantes para que não se pense que somos um bando de ignorantes do léxico militar, quero dar os meus parabéns aos autores da escrita que não deixam por mãos alheias o humor bem Português do trocadilho e do uso das palavras.

Fico no entanto com a "pulga atrás da orelha" em relação à frase do Almirante, onde cita um tal de "Crocodilo de Mata Cães" esperando que não se esteja a referir à minha pessoa!

Assina:
Alferes Roketadas

Anónimo disse...

Salazar era a tua tia
Como me competia acorri ao chamamento do nosso Almirante Vermelho. E confesso que fui depauperado (que raio de palavra…).Com efeito dois dias antes, na extracção de um dente dos meus tempos da Guiné, um jovem médico de bata azul extraiu-me o dito e suas raízes, e fez-me uma sutura na gengiva de 5(cinco) pontos .Que rapidamente se avermelharam…
Embora tivesse gostado de recordar a letra de Silva Tavares (Quem passa por Alcobaça) não me interessava ouvir o “Hino de Buarcos” que, ao que julgo saber, não foi escrito pelo Gil Vicente.. Não o de Barcelos mas o “outro”… o da “Barca do Inferno).E disse-o a quem de direito.
Quanto aos frades do Mosteiro de Alcobaça não eram os licores que me preocupavam mas o estudo dos seus impostos que nos séculos XVIII e XIX estavam mais avançados do que os da Troika”.
Digo mais: esperemos que os “troikanos” não tenham ouvido falar dos “quintos da azeitona, do “quarto” dos legumes e pão, dos “dízimos” verdes, da “jugada e fogaça”sobre um alqueire de trigo, das “portagens”, dos “terrados” das feiras, da “galinha de casario”, das “maquias” dos lagares de azeite, dos “foros” dos moinhos, do “montado” bianual dos porcos, da “lagarádiga”, dos direitos sobre as águas e os ventos …
Mas avancemos.
Revistados os aposentos onde a nossa conversa veio a decorrer e não tendo sido encontrado nenhum microfone nem câmara da TVI (estava-me fresco no pensamento o caso Gaspar/Schauble) estou em condições de confirmar todos os dados referidos e referentes sobre o Major Alverca.
Quanto às duas bolas “que vão encolhendo com a idade” e ao emagrecimento brusco e repentino de catorze gramas não estou tão seguro (não me refiro ao Secretário-Geral do PS…).
Aconselhava-lhe um tratamento termal. Ele que se mexa e consulte o Mexia…
Fortes abraços aos camarigos do Centro, do meio e de todo o Portugal …uno e indivisível.
(Salazar…Salazar era a tua tia).
JERO
(ex-Furriel Milº.Enfermeiro da gloriosa CCaç. 675)

Anónimo disse...

Mas porque será que todos teimam em ofender a pobre da...Tia?!

Anónimo disse...

Amigos "Tabanqueiros do Centro". Vejo que continuam com a boa disposição do costume o que é óptimo, para o espírito,nesta terra entristecida por tantos cortes, Fico sempre bem disposta ao ler as vossas picardias, que acho muita graça.A propósito, como vai de saúde o Sr. Almirante Vermelho, com a sua "Águia Vitória" a voar cada vez mais alto?
O Leão é que anda com as garras muito desgastadas, mas hoje não se saíu nada mal. Eu já tenho preparada a garrafa de azeite para pôr na lanterna do meu Vitórrria. Bom, como se aproxima o Carnaval resolvi brincar um pouco e desta forma,com os amigos. Um abraço e não façam muitas partidas.MªArminda