sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

P68: Ainda o 7º Encontro pela pena do José Brás.

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O Sétimo e o Oitavo


Dizem que em sete dias fez Deus o mundo e calculo que tenha sido no sétimo que fez o homem, um pouco à pressa como se confirma pelos defeitos da peça.
E deve ter sido ao oitavo, já fora da primeira semana, que, olhando a obra geral tão completa e bela e no meio dela aquele pelintra meio perdido na selva de africana, onde, parece, tudo começou, achou que, por um lado, lhe faltava qualquer coisa que desse brilho aos olhar parado e imbecil que mostrava, e por outro lado, lhe sobrava outra coisa, a costela que tinha posto a mais e desequilibrava a figura.
Vai daí, mais descansado da gigantesca tarefa anterior, tirou o que estava a mais a Adão, esmerou o trabalho e criou a demonstração física e espiritual que mais exprime a sua inspiração global, a mulher, para felicidade de Adão e minha, digo aqui sem pudor nem complexos, por achar tal criação a síntese da beleza do mundo.
Entrando assim nesta "incumbência" do camarigo Joaquim, pensava eu que me benzia, achando bengala no número sete, e, afinal, quebrei o nariz. O sete era para mim o algarismo central da peça, de onde partiria para me alargar acerca do sétimo. Do 7.º digo, do 7.º almoço/convivo desta Tabanca do Centro cada vez mais gorda de tanto, tão suculento e apetitoso cozido que a dona Preciosa tira da sua inspiração, quase tão grande como a do criador do mundo e dos comedores do dito.
Embrulhei-me e, de repente, estava no oito, algarismo muito pouco apropriado aqui porque, como sabem, é a antítese do oitenta, podendo então correr o risco de sugerir que a mulher foi mesmo criada ao octogésimo dia, coisa muito credível pelo valor da obra, mas que deixaria o pobre do Adão a pão e laranjas quase três meses.
O sete sim, que é um número cheio de significâncias antropológicas e no imaginário das gentes. Sete são as maravilhas naturais de Portugal, sete são os pecados mortais, sete são os chakras, sete são os corpos, sete são os raios e sete os céus, os dias da criação, os selos do apocalipse, e por último (mas não menos importante) os sete anões.
Como vêem, o sete vem mesmo a calhar para falar do 7.º almoço/convívio sem dizer grande coisa, sem me comprometer com opiniões sobre isto e aquilo, quem esteve e quem não esteve, os mais bonitos e o menos, quem falou ou esteve calado, quem comeu mais ou comeu menos, e mais de cozido e mais de leitão, e de quem, como eu, ficando na margem, aproveitou dos dois, enfim...
Há uma coisa que penso ter detectado neste refeitório que junta soldado com oficial superior, comendo da mesma panela, bebendo do mesmo pipo, falando de táctica e de estratégia, como se viéssemos todos da mesma formação, tuteando-se sem complexos ou medos de carecada, detectei, penso eu (de que), uma muito maior aproximação, uma crescente capacidade de aceitar diferenças nisto tudo e de garantir um abraço sinceramente fraterno.
E, provavelmente, não foi por acaso que pus o oitavo dia como o que levou Deus a criar a mulher. Talvez que por instinto me tivesse chegado a ideia do oitavo.
Se o sétimo morreu, que viva o oitavo


José Brás


Obrigado camarigos José Brás e Belarmino Sardinha!
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