segunda-feira, 16 de maio de 2022

P1339: 25 ANOS DEPOIS DE ABRIL

ALVORAR

                                                                                Um poema do António Lúcio Vieira 

era quase alvor a liberdade

era quase a vida quase a voz

era um rio em cheia quase foz

brandos ventos feitos tempestade

++

e foi alevantado este meu povo

gente viva, erguida, agigantada

era um tempo velho feito novo

tempo aceso luz na alvorada

++

assim nasceu esta ânsia de nascer

de novo neste chão por amanhar

chão regado a pranto e a sofrer

chão de medos, chão de tanto esperar

++

e das noites algemadas de morrer

e das horas avisadas de acordar

que eu sou do povo que então quis saber

quanto de si o povo sabe dar

++

e sou também desta terra feita

de cravos, de soldados e canções

da pátria onde me deito e onde se deita

a gesta que moldou mil gerações

++

e sou o filho e sou também irmão

dessa gente que já vive na memória

sou da noite de escrever libertação

com a pena do poeta coração

e as musas de inventar a nova história

++

e era assim o dia a madrugar

no sangue e no fio de uma espada

esperança tanto sonho embainhada

olhos tanta noite a vigiar

++

e as lágrimas que correram tanto mar

e as vozes que rasgaram tanta estrada

e as armas onde a flor se viu plantada

não eram já as armas de matar

que o povo tem no peito e na raiz

a seiva da floresta libertada

++

aqui, e era Abril e era amar

estava a renascer o meu país

quando se alvorou a madrugada


                          António Lúcio Vieira

                25-4-1999 - 25 anos

2 comentários:

Carlos Pinheiro disse...

Grande Lúcio. Ainda és lembrado todos os dias. Que estejas em paz.

Anónimo disse...

Lindo poema. Descanso eterno para o poeta Lúcio.
M Arminda