quinta-feira, 19 de outubro de 2017

P958: NA RESSACA DE UMA TRAGÉDIA

HOMENAGEM

ÀS FLORES QUEIMADAS DO PINHAL DE LEIRIA,
AO REI D. DINIS E AO SEU PAI D. AFONSO III


D. DENIS


     Ay flores, ay flores do uerde pyno,
se sabedes nouas do meu amigo!
              Ay Deus, e hu é?

     Ay flores, ay flores do uerde ramo,
se sabedes nouas do meu amado!
             Ay Deus, e hu é?

     Se sabedes nouas do meu amigo,
aquel que mêtiu do que pos cômigo!
            Ay Deus, e hu é?

     Se sabedes nouas do meu amado,
aquel que mêtiu do que mh á jurado?
           Ay deus, e hu é?

     Vos me perguntades polo uoss` amigo,
e eu ben uos digo que é san`e uivo;
           Ay Deus, e hu é?

      Vos me perguntades polo uoss` amado,
e eu bê uos digo que é uiu`e sano,
           Ay Deus, e hu é?

      E eu bê uos digo que é san` e uyuo,
e seera uosc` ant` o prazo saydo;
           Ay Deus, e hu é?

      E eu bê uos digo que é uyu` e sano,
e seera uosc` ant` o prazo passado!
           Ay Deus, e hu é?


NOTA - Esta "Cantiga de amigo" foi escrita pelo nosso Rei Poeta D. Dinis, em meados do Séc. XII, há mais de 650 anos, num português arcaico próprio da época.

O poema que acabastes de ler fala-nos de uma namorada ansiosa que pede notícias do amigo ausente às cristas floridas dos pinheiros do verde pyno do pinhal de Leiria. Estas cristas dos pinheiros respondem que o amigo da donzela apaixonada chegará antes do prazo.

O nosso Rei D. Dinis, vivendo no Castelo de Leiria, passou muito do seu tempo por terras de Monte Real (sede territorial da Tabanca do Centro) e arredores, embalado pelos seus encantos amorosos. Hoje, se voltasse, já não encontraria mais cristas floridas nos vetustos pinheiros do pinhal que plantou.


Morreu o verde pinho do Rei Poeta e Lavrador. Arderam as naus do amanhã. Há sempre "alguém" que não gosta da Natureza, que não gosta da Poesia, que não gosta do Amor! 

Manuel Frazão Vieira
ex- Alferes Milº (ex-CMT Pel Caç Nat 55)


1 comentário:

joaquim disse...

Bela homenagem caro Manuel!

Com efeito em Monte Real ainda existem as ruínas do chamado Paço da Rainha Santa, onde diz a tradição D. Diniz ficava quando "inspeccionava" a semeadura do Pinhal de Leiria.

Aliás, à volta de Monte Real, os nomes das terras, têm fortes ligações às lendas de D. Diniz.

Grande abraço e obrigado
Joaquim