terça-feira, 29 de setembro de 2015
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
P698: DO JUVENAL, MAIS UMA DE FARMÁCIAS...
Meus caros, agora que o Outono chegou é altura de verem se têm as vacinas contra a gripe em
dia para depois não se virem queixar que não podem ir aos convívios da Tabanca
do Centro.
Para isso
nada melhor que uma estória sobre farmácias…
O DR.
CARLOS EPIFÂNIO
As
estórias das farmácias… ou como diria o José Hermano Saraiva, que diria “foi…
foi ali... naquele estabelecimento que se curou das suas maleitas o príncipe D.
Afonso”. Algumas são tão velhas que acabam por pertencer a milhares de boticas
e seus ilustres boticários.
Convém
informar os caríssimos confrades desta Tabanca que esta é mesmo verdade,
sabendo eu que nunca será preciso jurar a pés juntos para que esta minha simples
narração seja posta em causa e assim, pôr a altíssima figura que passo a
apresentar, numa situação de menoridade perante a História.
Toda
a gente conhece em Alcobaça a Farmácia
Epifânio, de que foi em tempos responsável técnico o Dr. Carlos Epifânio (*),
figura impar do pião e almofariz, o qual estudou em Coimbra, onde deixou
vastíssimas legiões de apreciadores dos seus dotes, sendo lá conhecido pelo honrosos
cognome de o VENENO.
Pessoa
de enorme estatura (um metro e cinquenta e tal…) vem assim provar que os homens
não se medem aos palmos; e era ver uma roda de rapaziada à volta dele para
ouvir na sua cateterística voz fanhosa, as suas estórias de estudante
universitário, durante os intervalos no Cine Teatro de Alcobaça. Naquele tempo
havia sessões às Quintas, Sextas, Sábados e Domingos, com a sala quase ou
sempre cheia de espectadores. Não se falava ainda dos clubes de vídeos, que nos
permitem ver em casa os que queremos, mesmo os mais malandrecos, coisa
impensável pela moral e bons costumes de então.
Ele
capitalizava de tal forma as atenções que a malta deixava por vezes o filme a meio para o ouvir
e, não muito raramente, o Sr. Neves, responsável pela sala, vinha mandar-nos calar quando a risota
ultrapassava o volume razoável para quem tinha reocupado o seu lugar e queria continuar
a ver o filme.
Mas
estórias que ele contava eram umas, porque depois havia as que contavam a
respeito dele.
É uma dessas que passo a contar.
Assim
foi, o homem esperou de parte para falar com o ilustre farmacêutico, não fosse
alguma incauta dama, na sua total ignorância, sujeitar-se a penetrar na famosa
botica que tanta fama tinha.
Quando o homem lhe transmitiu ao que vinha, o nosso herói fez uma risada curta e fanhosa e disse ao ajudante para ir buscar o medicamento. Era este o não menos famoso Mário (Farelo), responsável por algumas gravidezes indesejáveis quando por sacanice, resolveu pregar uma partida a alguns fregueses e lhes vendeu preservativos, que ele antes tinha criteriosamente furado com uma agulha finíssima…
Assim
foi, mas no acto de pagar o homem apresentou uma nota de mil escudos, que - já
se vê - era naquele tempo uma importância de respeito e para a qual não tinham
troco. O homem, conciliador, disse “Olhe, vou ali ao Café Portugal tomar alguma
coisa, que ainda estou a jejum, e já cá venho pagar”.
O
tempo foi passando e, já próximo da hora do almoço e do encerramento da
farmácia, o nosso doutor mandou o Mário ao Café Portugal para saber do homem. Lá
o responsável, Sr. José Afonso, informou-o que ele só tinha uma nota grande,
que tinha ido à Papelaria Império para a trocar e que já vinha pagar a conta.
O
nosso Mário seguiu a pista qual cão pisteiro e ao apresentar ao que vinha ao Sr.
Adelino da papelaria levou com igual resposta, que já conhecia dos outros
estabelecimentos, pois entretanto o gastador compulsivo tinha ido à loja de
ferragens do Sr. Gilberto Coutinho para trocar a malfadada nota. A verdade é
que o homem nunca mais apareceu…
No
dia seguinte alguém pegou com o Carlos Epifânio a respeito dos milagrosos
comprimidos, que no seu palavreado tão correntemente polido onde juntava algumas
palavras começadas com “C”, respondeu
assim:
-
São do melhor, ainda ontem me apareceu cá um gajo logo ao abrir a porta, que me
comprou uma embalagem e até à hora do almoço aquele ***** já lixou (F enorme)
quatro ou cinco!
Depois
venham cá dizer que eles não dão resultado…
Uma boa semana e não se
cansem muito, pois Sexta Feira é preciso estar em forma!
Juvenal Amado
(*) Como nota de rodapé não resistimos a "desviar", de um texto do nosso amigo JERO, um extracto do que sobre o Dr. Epifânio ele refere. Com a devida vénia, claro:
Carlos Epifânio da Franca, “O Veneno”, que herdou a farmácia (ao tempo”pharmácia”) de seu pai António Epiphânio da Franca (1868-1939).
A sua irreverência, os seus ditos espirituosos, apimentados e com utilização de português vernáculo, deixaram uma memória que foi passando de geração em geração, já que foi na verdade uma figura mítica, absolutamente invulgar. Toda a gente sabe uma história a seu respeito - nem sempre contáveis mas com uma graça única. À Carlos Epifânio.
Algumas das pessoas que com ele trabalharam também passaram à “história de Alcobaça”, como são os casos de Manuel Gonçalves (vulgo Manuel das Laranjadas), Mário Belo e o “Farelo”. Este último ficou associado a algumas estórias deliciosas.
Para os mais novos vamos “deixar” uma das que ouvimos em “miúdo” (...):
(...) Ter-se-á passado num dia de mercado semanal (quando as pessoas das aldeias vizinhas se deslocavam em grande número à sede do concelho para tratar dos mais diversos assuntos). Um aldeão apresentou-se na Farmácia Epifânio para mostrar uma mão em muito mau estado. Um dedo tinha um corte profundo e a mão estava inchada e muito vermelho. Era óbvio que a ferida estava infectada.Na sua voz nasalada Carlos Epifânio perguntou-lhe como é que ele tinha “arranjado” aquele ferimento tão feio. O “paciente” respondeu que se tinha cortado com um podão e para ajudar a cicatrização fez o que era costume na sua terra: - urinou no ferimento para ajudar a cicatrização da ferida.
A resposta do farmacêutico foi imediata e “venenosa”:- "Ah mijaste-lhe?! Então agora caga-lhe!!!"
As cenas seguintes não passaram à história mas não acreditamos que Carlos Epifânio não tenha recomendado um medicamento adequado para a infecção do “mijão”!
Do Blogue do JERO
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
P696: VASCO DA GAMA - UMA DE FARMÁCIAS
HISTÓRIAS FARMACÊUTICAS VERDADEIRAS
A errática Tabanca do Centro publicou há uns meses a esta parte um conjunto de historietas acontecidas em farmácias, da autoria do nosso ilustre camarigo JERO, jornalista de Alcobaça e Homem com obra publicada. Eu, pobre aprendiz da “escrevinhação”, vou atrever-me também a contar uma história, verdadeira, que me foi relatada há umas semanas por um amigo de há muitos anos, amizade que reciprocamente dedicamos desde os tempos do Jardim Escola.
O
que vos conto aconteceu em inícios da década de cinquenta, alguns de nós ainda
não nascidos, outros muito crianças, mas com memória capaz de saber como
funcionavam as farmácias que, para além de cumprirem a sua função de venda de
medicamentos, eram também locais de tertúlia e de “consultório médico”, pois
médico era uma profissão que rareava nas cidades e vilas da província.
Até
no meu imponente Buarcos lindo sempre à frente da extinta freguesia vizinha de
São Julião, existia apenas um médico, por sinal primo direito do meu pai, o Dr.
Fernando Traqueia, autêntico João Semana, hoje perpetuado num busto que o povo
de Buarcos em justa homenagem lhe dedicou.
A
farmácia, que ainda hoje existe com o mesmo nome, e onde se passou o que vos
relato, situada na Figueira da Foz, não fugia à regra no auxílio aos fregueses
mais assíduos e próximos, com “consultas” de carácter mais intimista e de
desenrascanço, a melhor arma do português.
O
ajudante de farmácia, Monito de sua
alcunha, desenrascava tudo e todos, sempre com ar dominador de dentro do
balcão, capaz de atender duas ou três pessoas ao mesmo tempo e é um dos
personagens principais, a par do “cliente” J.A.,
empregado, na altura, na Hidráulica da Figueira da Foz.
O
senhor J.A. era um homem atarracado,
a puxar para o forte e por demais conhecido pelas suas aventuras amorosas.
Muito pouco praticante da castidade, da abstinência sexual e da fidelidade
conjugal, era cliente habitual, que se apresentava ao Monito sempre com queixas de doenças venéreas, referência a Vénus,
deusa etrusca do Amor!
Falavam
em código, e um belo dia, após tratamento aturado do Monito, o senhor J.A. entra na farmácia com um sorriso rasgado e
logo o Monito lhe pergunta de dentro
do balcão, com a farmácia cheia de gente:
-
Então, Senhor J.A., o “braço” está
melhor?
-
Muito melhor! Já mijo bem!
Dr. Seringa, historiador da
FRELIBU
terça-feira, 15 de setembro de 2015
P695: KAMBUTA - A RECEPÇÃO AOS "MAÇARICOS"
FUI PARA A GUERRA PARA OS DEMBOS,
NORTE DE ANGOLA, EM 1973.
REGRESSEI EM 1975 - PARECE QUE FOI ONTEM
Já lá vão 42 anos, parece que foi ontem.
Recordo com alegria e satisfação tudo o que já lá vai, pois fui daqueles Combatentes que foram para a guerra do ultramar na década sessenta/setenta que tiveram a felicidade de ir e voltar com vida, o que não aconteceu a muitos que tombaram por lá. E a outros que já tombaram por cá e não podem contar as suas histórias como eu e outros companheiros.
Foi no
longínquo ano de 1973, mas bem próximo na minha memória. A nossa companhia
desembarcou no aeroporto de Luanda às nove horas da manhã, fomos colocados em Berliets
que nos esperavam e que nos levaram para o Grafanil. Eu era um rapazinho
nascido e criado numa aldeia rural do Vale do Lis, habituado a viver e crescer
na aldeia, nos campos e pinhais e que não trocava a sua aldeia por nenhuma
cidade do mundo. Afinal, mal conhecia a minha cidade de Leiria. Lisboa, essa, só
de passagem quando fui para o aeroporto para embarcar para Angola.
Assim que
desembarcámos e ao passarmos pelas ruas da cidade de Luanda em direcção ao
Grafanil, tanto eu como a maioria dos meus camaradas íamos pasmados e de boca
aberta ao vermos tanta beleza - uma cidade nova em tudo e muito linda, muito
colorida, com as lindas acácias e lindos e perfeitos prédios, uma cidade
maravilhosa onde se viam muitas pessoas brancas e negras, estas em maior número.
Passámos
quatro dias no Grafanil. Havia ali um cinema e um bar onde podíamos comprar bebidas;
foi aí que conheci e comecei a beber groselha e coca-cola.
A primeira
lição que aprendi em Angola foi logo no primeiro dia, à tardinha, ali no bar do
Grafanil. Aproximei-me de uma enorme árvore com suculentos frutos. Antes de
apanhar um para provar não o quis fazer sem me esclarecer pois não sabia quem
era o dono. Ia a passar um militar negro com a farda de camuflado já muito
velha e fiz-lhe esta pergunta «Ó preto, sabes dizer-me que árvore é esta? E
será que estes frutos são bons para comer? Se forem, posso apanhar um?»
O soldado
negro parou, ouviu as minhas perguntas e calmamente respondeu «Meu amigo, vê-se
bem que és maçarico e ninguém te ensinou o mais importante, saber falar com as
pessoas de outra cor. Não te preocupes, amigo, eu vou ensinar-te. Olha, trata a
pessoa de outra cor por Patrício. Este nome aqui em Angola quer dizer que somos
da mesma cor. Queres ver como vou tratar aquele branco?” Ele chamou um soldado branco
velhinho por Patrício, e entenderam-se; tomei consciência de que era a primeira
lição que eu aprendia na minha comissão.
Ainda deu para
ir com os meus colegas a pé conhecer algumas ruas e avenidas e as praias de
Luanda e a bela e maravilhosa baía. Gostei. Chegou então o dia de partirmos com
destino a Quibaxe, que ficava a duzentos quilómetros de distância. Para meu
espanto o nosso transporte foi em camionetas de taipais altos que por cá eram
utilizadas para transportar porcos e vacas… Fizemos o percurso em velocidade
lenta; tendo saído de madrugada chegámos a Quibaxe à noite; mantivemo-nos em pé
durante todo o trajecto, encostados aos taipais e de arma em punho, seguindo as
ordens do nosso Comandante.
Lembro que
passámos ao Caxito, ao Úcua, onde páramos. Fiquei muito triste e perturbado ao ver crianças e idosos negros falando o português a pedir a nossa ração de
combate, dizendo que tinham fome. Pensei no momento «Então, afinal diz-se que
Angola é Portugal, mas em Portugal nunca vi isto! Que guerra é esta com toda
esta gente com fome a pedir comida?».
Antes de
chegarmos à Pedra Verde, a coluna de camionetas de transporte de gado parou. Um
oficial avisou para termos muita atenção, que a todo o momento podíamos sofrer
uma emboscada. Nenhum de nós sabia o que era uma emboscada… e logo todos nós
ali metidos em gaiolas de porcos e vacas…
Mesmo ao
passarmos junto da Pedra Verde ouvimos um tiro, ali bem pertinho de nós. Toda a
coluna parou, ninguém se mexeu. Alguém foi perguntar-nos se tínhamos sido nós -
não tinha sido ninguém da nossa malta, tinha sido na mata… e lá seguimos
viagem.
Ao passarmos junto
duma enorme Sanzala de nome Quesso, mesmo à beirinha da estrada, fiquei muito
feliz e contente e com outra impressão diferente à que trazia na minha cabeça,
ao ver no meio da Sanzala num alto mastro a minha linda e amada Bandeira. Ali estava
representado o meu País, Portugal. Afinal aquele povo era tão português como
eu.
Ao chegarmos
ao Piri foi o fim da macacada. Estavam algumas Berliets carregadas de soldados
em altos berros e cantorias, com muitos cartazes e uma improvisada câmara de
televisão... Eram os soldados da companhia que íamos render que tinham vindo
ali ao controlo para nos receberem e nos escoltarem até Quibaxe,
Foi um
tormento até chegarmos ao Quartel… Para nós, que não estávamos preparados, foi
uma cena um bocado revoltante para mim. Ainda recordo os cânticos que eles
entoavam - e que nós, afinal, viríamos a utilizar mais tarde quando, no fim do
nosso tempo, fomos rendidos por novos maçaricos…
«Maçaricos já
chegaram, ai ai ai que coisa boa, fazem cá operações, fazem cá operações, e nós
vamos para Lisboa»
«Ó maçarico,
trabalha agora, olha a velhice que se vai embora, que se vai embora, que se vai
embora»
«Ora vai para a mata, ó meu malandro, por tua causa é que eu
aqui ando, é que eu aqui ando, é que eu aqui ando»
Mas nem tudo
foi mau, todos nós debaixo de uma tremenda carrega de nervos, eu só pensava «Mas
afinal que mal fiz eu para estar a receber esta palhaçada? Ai minha mãe, por
favor vem buscar-me, isto é só gente doida».
Ao chegarmos
em frente ao Quartel de Quibaxe fomos obrigados a dar a volta de honra por toda
a vila, a servir de palhaços, mas finalmente lá entrámos no grande e
maravilhoso Hotel 5 Estrelas que iria ser a nossa casa durante toda a nossa
comissão.
Assim que entrámos
à porta de armas passou a reinar finalmente a calma e o sossego; tudo serenou,
desembarcámos das pocilgas dos porcos que não deixaram saudades a ninguém e fomos
recebidos pelo Comandante velhinho e por todos os “veteranos”.
Os velhinhos militares
tentavam encontrar no meio da nossa malta conterrâneos seus. Eu encontrei um
amigo de uma aldeia vizinha, que por sinal veio a ensinar-me o ABC daquela
guerra e de toda aquela zona que eu desconhecia, o que me permitiu levar a bom
termo uma comissão sem grandes percalços.
A noite chegou
e a hora do tacho também. Fomos todos - velhinhos e maçaricos - para o
refeitório Foi uma festa de arromba, comida boa e à farta com direito a baile,
feito com um conjunto musical da Sanzala do Banza Quibaxe, que faziam inveja a
qualquer um de cá da Metrópole.
Os velhinhos, para nos animarem e para esquecermos
a praxe que tínhamos levado, fizeram-nos uma surpresa. Foram às sanzalas
vizinhas, convidaram as raparigas para participarem no baile, onde todas elas
deram festival. Fizeram amizades com todos nós, maçaricos, agarraram-nos e
ensinaram-nos a dançar merengue. Foi lindo, e no final cada um de nós ficámos a
saber quem passava a ser a nossa lavadeira para toda a nossa comissão.
Foi em 1973,
mas parece que foi ontem. Recordo esses momentos com alegria e satisfação.
Manuel “Kambuta
dos Dembos” Lopes
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
domingo, 13 de setembro de 2015
sábado, 12 de setembro de 2015
P692: DIVULGAÇÃO
O nosso camarigo Mário Ley Garcia, presidente do núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes, fez-nos chegar este anúncio do 4º Encontro dos Combatentes do Concelho de Leiria, a decorrer naquela cidade no próximo dia 20 de Setembro. Aqui fica a devida divulgação.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
P690: RECORDAÇÕES ANTIGAS... MAS SEMPRE ACTUAIS...
GUINÉ!
Guiné! Dos pântanos, das bolanhas, dos mosquitos e das febres.
Guiné! Da mata onde havia momentos em que todos os ruídos paravam.
Não se afastavam ou diminuíam, antes tudo se calava abruptamente, como se
os seres vivos tivessem recebido uma ordem.
"Ouviam-se" então coisas impossíveis... o soprar húmido do vento,
o suor dos nossos camuflados, a actividade frenética dos insectos, e mesmo, o
bater do nosso coração.
Guiné! Dos escravos, das revoltas nativas, das muralhas do Cacheu, que lá
estavam quando cheguei, e lá ficaram ao partir.
Guiné! Dos Fulas, Mandingas, noites de luar na Tabanca, falando dos
"avós dos avós”, de outros "chãos" onde nunca houvera fome, dos
pastores que no céu escuro guardam os rebanhos de estrelas.
Guiné! Dos Balantas, símbolo pujante da África que luta, que trabalha as
suas chamas que também se sabe divertir.
(A velha aguardente de cana!)
Guiné! Dos Beafadas, Nalus, dos Papéis, dos guerreiros Felupes bebendo
vinho de palma pelo crânio dos inimigos vencidos.
Guiné do matriacado Bijagó!
Guiné! De Bubaque... miragem de guerra!
Guiné! De Ponte Varela, "Copacabana" sem casa, sem gente, mas na
qual num dia solarengo do princípio dos anos sessenta Brigitte Bardot
(PASME-SE!) tomou bom banho de mar!
![]() |
Guiné! Das bajudas de "mama firmada”, lavadeiras de tantas lamas, (e
porque não?) de algumas águas bem cristalinas.
Guiné! De Bissau, vilória perdida, cidade feita de... avenida única... pouco
mais!
Da cerveja gelada, das ostras grelhadas com molho picante, dos
"mininos" vendendo mancarra em coloridos alguidares de esmalte.
Das tascas, dos "restaurantes" que serviam gostoso chabéu que o
Joäossssssinho - Manjaco tão bem preparava!
Bissau das muralhas do forte da Amura, lembrança constante de um... estar
pelas armas.
Bissau da piscina em Clube de Oficiais, mas também Bissau do Hospital
Militar.
Bissau! Os minutos que valiam ouro... roubados à morte que esperava no
mato.
Guiné! Da violência, da guerra tribal... dividir para governar
![]() |
Guiné! Do Comando Africano, jovem herói, usado e abusado para matar
"os seus" em guerras não "suas".
Guiné de Amílcar Cabral! Que, com humildade, soube ouvir os gritos de um
povo.
Do diálogo possível... e por tal... do "diálogo assassinado"!
Guiné! Onde General destemido tentava tapar com mãos "nuas" os
buracos nos diques, pretensiosamente levantados aos maremotos da História.
Saberia ele? Saberíamos nós?... Quando o víamos chegar aos locais mais
perigosos da luta, ou visitar interessado os feridos, que olhávamos o último
dos Comandantes África num Portugal que jamais seria o mesmo?
Guiné onde um Império acabou por ruir!
Guiné de um "círculo".
Dos amigos. Dos inimigos. Dos amigos-inimigos e, mais tarde, dos
inimigos-amigos.
Guiné de tantas e profundas lições!
Terra vermelha de argila e sangue!
Da estrada de Buba a Aldeia Formosa, de Aldeia Formosa a Gandembel.
Terra que abraçámos com violência, quando contra ela nos comprimíamos em chão
de emboscadas!
Terra que "comungámos" no pó e saliva que nos enchia a boca em
rebentamento de minas!
Terra regada com tantas lágrimas de saudade, dramas pessoais, frustrações e
dor... a juntarem-se às vossas... de povo africano mártir.
Guiné de Mampatá! Tabanca perdida na selva, onde, tão longe de tudo e todos,
acabámos por nos "encontrar"!
Guiné que foi Vossa/Nossa, mas que hoje sendo Vossa/Vossa é bem mais Nossa
que antes.
José Belo
Estocolmo, Setembro 1981
Imagens retiradas da Net, na sua maioria provenientes de "Luís Graça & Camaradas da Guiné" e "Ultramar Terraweb", que aqui reproduzimos com a devida vénia.
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