El-Rei D.Dinis deve estar às voltas no túmulo,
revoltado com o que está a suceder…
UMA FICÇÃO MINHA, A CONDIZER COM A
TRISTE REALIDADE, A DESTRUIÇÃO DAS MATAS NACIONAIS
Seguíamos os dois dentro do carro, eu e
a Hortense, Estávamos então a entrar nas tristes matas nacionais, totalmente
queimadas, cuja visão nos provocou fortes exclamações de pesar ao vermos tanta
destruição.
Ao chegarmos junto da Ribeira de São
Pedro deparámos com um casal já muito velhinho deitado no chão. Pensámos que
tinham sido vítimas do fogo, por isso parámos o carro e eu tentei ver o que se
passava.
Com os conhecimentos de enfer-magem
adquiridos no decorrer da minha comissão em África, procurei de imediato
socorrê-los. Abeirei-me dos dois corpos, repa-rando que estavam inanimados; logo
tentei reanimá-los da melhor maneira possível. O velhinho casal lentamente começou
a voltar ao normal, iniciando uma série de desabafos entrecortados com uns
gemidos - «Ai, a minha linda mata toda queimada!» - exclamavam.
Calmamente fui-lhes fazendo perguntas,
ao ponto de identificar o velho casal, posto o que chamei a Hortense perto de
mim e segredei-lhe dizendo quem eram.
Com a nossa ajuda o casal lá acabou por
se levantar, parecendo então que nos tinham reconhecido. O velhinho
inesperadamente excla-mou, «Ai os meus primos, o Manel Kambuta dos Dembos e a esposa!».
Abraçámos-no os quatro mas não houve
conversa para matar saudades. Eu só lhe fiz a pergunta - “Primo D.Dinis, depois
de tantos séculos da vossa partida para o túmulo para um descanso merecido,
depois de tanto terem trabalhado para bem da nossa Pátria, do nosso lindo
Portugal, de terem mandado semear e plantar as lindas matas nacionais, afinal o
que vos levou a voltar agora?”
O meu primo D. Dinis e a esposa, a minha
prima Isabel de Aragão, responderam que estavam nos seus túmulos dormindo um
sono profundo, quando tiveram um triste sonho que os fez acordar. E explicaram que
uns criminosos sem coração, sem qualquer amor à pátria, tinham ateado o fogo e
destruído as nossas lindas matas nacionais. O sonho era tão real que acordaram,
e de tanto espernearem, rebentaram com o túmulo e saíram correndo como loucos
só parando naquele local. E caíram no chão desmaiados ao verem tanta falsa
liberdade, tanta má educação, tanta maldade, tanta falta de civismo, tanta falta
de amor pelo País, tanta destruição.
E, digo eu, quem tem respon-sabilidades
para resolver situações como a protecção das matas não tem feito muito por isso.
E os incendiários ficam em liberdade, prontos para prosseguirem a sua nefasta
acção.
No tempo da velha senhora, por muitos
criticado, no entanto as matas mantinham-se sempre limpas, havia guardas
florestais e casas da guarda. Quando tudo isso terminou, as matas nacionais
ficaram abandonadas e à mercê destes criminosos.
O meu primo D. Dinis deu-me um forte
abraço dizendo - “Primo Manuel Kambuta, és de uma geração de jovens que tudo
fizeram na guerra do ultramar por amor ao nosso País, e que hoje se sentem revoltados
com estas situações assim como eu me sinto. Peço-te que não te canses de
escrever desabafando todas as verdades, que quem diz a verdade não merece
castigo. Esta gentalha que anda a destruir o nosso País passará um dia a ser
cinza e pó, não vai levar nada consigo, para quê tanta maldade, tantas
destruições, roubos, fogos, mortes?”
O meu primo D. Dinis deu-me um último abraço
de despedida - “Vou-me embora muito triste e desgostoso com tudo o que estou a
ver, prefiro morrer outra vez e voltar para o meu túmulo; e prometo nunca mais
voltar a um espaço que mandei semear e plantar com tanto amor e carinho”.
Esta minha ficção foi escrita com todo o respeito e dedicada ao nosso Rei
D.Dinis, com muita mágoa pela destruição das matas que ele mandou semear e
plantar para bem do seu e nosso amado País.
Manuel Kambuta dos Dembos
1 comentário:
Oxalá o D. Dinis e o seu progenitor D. Afonso III não sejam chamados a depor em mais um inquérito parlamentar para justificarem a plantação do Pinhal de Leira, uma vez que aparentemente este não cumpria as normas de segurança contra fogos. A prova é que ao fim de quase 800 anos não resistiu ao vandalismo da civilizada geração do séc XXI.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
(irradicada definitivamente de palmeiras e pinheiros)
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