sábado, 14 de outubro de 2017

P956: INSISTÊNCIAS...

A VISITA AÉREA ÀS COMPANHIAS…
QUE NÃO ACONTECEU…

Joaquim Mexia Alves
Quando estava na Ponte de Udunduma com o Pel Caç Nat 52, fui chamado a Bambadinca para reforçar a CCAÇ 12, numa qualquer operação de que não me lembro, mas na qual nada deve ter acontecido, pois senão até a minha fraca memória se lembraria.

A verdade é que ao fim da manhã (a operação começaria ao fim da tarde), quando já estava em Bambadinca a fim de combinar a coisa com o meu grande amigo Capitão Bordalo, comandante da CCAÇ 12, e os seus Alferes, aterra um DO 27 na pista do quartel.

É sabido, pelo menos no meu tempo assim era, que os Comandantes de Batalhão (passo a crítica jocosa), se pelavam por uma voltinha de avião ou helicóptero, com a desculpa da visita às Companhias mais afastadas.

É curioso que as colunas de abastecimento, pelos vistos, não serviam tal propósito, vá-se lá saber porquê, o que pelo menos no caso do meu batalhão era uma realidade.

Mas, voltando aos factos, logo o Comandante do Batalhão se deslocou à pista para tomar assento no avião e dar a sua volta aérea.

Foi então que o piloto, grande amigo meu de Monte Real, Jaime Brandão, perguntou por mim, convidando-me para ir com ele até Nova Lamego, pois iria acontecer uma noite da fados e era muito importante a presença da minha voz.

Acrescentou ele que não havia problema, pois no outro dia voltava a Bissau e no caminho deixava-me em Bambadinca (Era fácil, declaravam uma porta aberta e assim tinham de aterrar…).

A cara do Comandante era indescritível e eu disse ao Jaime que era impossível porque tinha aquela operação.

Voltámos para a messe e passadas uma hora ou duas ouve-se um helicóptero aterrar e aí o Comandante disse:
- Agora é que é!!!

Claro que fui também até à pista.

Do helicóptero sai o Pedro Melo Ribeiro, outro amigo, este de Lisboa, que não era piloto mas vinha a acompanhar, e me diz:
- É pá, vimos-te buscar porque esta noite há fados em Nova Lamego e o pessoal disse logo que tu eras imprescindível!!!

A vossa imaginação está agora com certeza a ver a cara do Tenente-Coronel, com o espanto e sei lá mais o quê bem retratado na fisionomia.

Claro que dei a mesma resposta e retirei-me para a messe, sob os olhares gozões de uns e o olhar reprovador de outro, que não sabia bem o que fazer e até talvez meditando na importância da minha pessoa.

Por volta das 3 ou 4 horas da tarde, depois de uns uísques bebidos para animar as tropas, aterra outro DO 27, e o Comandante entre o incrédulo e ansioso, lá se dirigiu para a pista, comigo e já um número de camaradas a acompanhar.

Era novamente o Jaime Brandão, que com um sorriso dispara:
- Então vens ou não?

Escusado será dizer que a resposta foi a mesma e que o Comandante neste momento já não tinha cara, mas uma máscara de incredulidade, espanto, irritação, etc. etc.

Nos dias que se seguiram o gozo foi enorme, umas vezes mais descarado, outras mais disfarçado.

À noite lá fomos para a operação que, como digo acima, não teve nada de especial a reportar.

E assim foi a visita aérea que... não aconteceu!!!!

Durante uns tempos foi lenitivo para as agruras e desconforto da guerra e só por isso já foi muito bom!!!

         Joaquim Mexia Alves

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa tarde gente boa
Apetece-me começar por "Ah fadista".
É uma memória com piada que deve ter provocada uma grande azia" ao nosso Ten-Coronel !
Grande abraço Joaquim e obrigado pela partilha.
JERO