Nesta fase morna do Verão, propensa à publicação de temas ligeiros que não puxem muito pela cabeça, lembrei-me de falar dos carros que possuí no meu tempo de solteiro. Vão por isso ser publicados sucessivamente três textos em que faço referência às máquinas que tiveram a desdita de me passar pelas mãos nessa fase, um texto por cada um dos carros, afinal todos eles relacionados com o início da minha carreira militar tendo, cada um à sua maneira, deixado gratas recordações.
Miguel Pessoa |
Estávamos em finais de 1968 e iniciava
eu então o meu tirocínio como Aspirante a Oficial-Piloto-Aviador, na Base de
Sintra. Começando a auferir um vencimento mais robusto, pensei então em avançar
com a compra de um carro para as minhas deslocações. Não dispunha no entanto de
dinheiro para avançar com uma compra a pronto, pelo que teria que me contentar
com uma oportunidade que surgisse. E ela veio de um familiar que, através dos
seus conhecimentos, conseguia arranjar-me um carrinho com 3 anos de uso e que,
convenientemente, poderia adquirir sem entrada inicial e com 35 prestações
mensais de um conto de réis cada uma…
Avancei destemidamente com a compra e
vi-me proprietário de um Hillman Imp, um carrinho inglês simpático mas que
fugia à moda dos Minis que então grassava. Tinha um motor traseiro e tracção
traseira, ao contrário dos Minis, que tinham motor e tracção dianteiros e um
comportamento bastante diferente.
Na altura a minha preocupação era outra,
pois ainda não tinha tirado a carta de condução… Assim, vi-me restringido ao
uso do carro dentro da Base, enquanto aguardava o exame de condução, a fazer no
Centro de Instrução de Condução Auto, na Base de Tancos, fazendo entretanto umas
tantas aulas de condução numa Escola de Condução em Lisboa e ganhando mais
alguma experiência no jipe do Oficial de Dia, quando estava de serviço…
Finalmente, no início de 1969 lá fui
fazer o exame de condução, o qual decorreu sem problemas de maior pois já tinha
adquirido entretanto uma experiência razoável. E, porque poucos dispunham ainda
de carro próprio, foi uma mais valia a juntar ao ainda reduzido parque
automóvel dos tirocinantes.
E nos meses seguintes o grupo lá se
juntava para umas passeatas fora das horas de serviço, que não raras vezes
descambava numas corridinhas por montes e vales, a ver quem chegava mais
depressa… E tive a oportunidade de receber desse meu camarada uns ensinamentos
na arte de fazer piões, o que me levou a rapidamente ter que substituir os
pneus traseiros – que por já serem recauchutados (moda da altura) rapidamente
foram perdendo o piso…
E porque o parque automóvel era
reduzido, várias vezes foram acordar-me para dar boleia a uns tantos famintos
ávidos de uma ceia aconchegante. E lá seguíamos para um restaurante em Algés, “O
Relento”, para mandar abaixo o bife à moda da casa… E como a noite ainda era
uma criança ainda seguíamos para a Serra de Sintra para fazer a rampa da Pena…
Como o meu Imp era menos potente e não
tinha a primeira velocidade sincronizada, o meu camarada AM seguia à frente,
que era mais rápido. Já a descer era eu que saía primeiro, que tinha os travões
mais fracos… e talvez fosse mais maluco…
Lembro-me com alguma saudade desses
tempos, pois o carrinho proporcionou-me bons momentos. Com a tampa do motor
ligeiramente levantada para melhor arrefecimento e o vidro traseiro levantado (à
laia de aileron traseiro…) era garantido o cheirinho da gasolina dentro do
carro, o que dava um ambiente muito racing…
E com o aproximar do fim do curso de
pilotagem outras ideias foram surgindo, o que me levou a considerar a
possibilidade de trocar o Hillman Imp por um novo carro, mais potente. Mas isso
será tema de uma próxima história, que irei aqui contar…
Miguel Pessoa
2 comentários:
Histórias que ficam para sempre na memória. Faz bem recordál-las e contar aos amigos.
Aguardo a do segundo carro.
Um abraço. amigo .
M Arminda
Miguel
É "dos livros" que tudo tem um começo....
E esse Hillman, adquirido antes de se ter carta, as suas experiências e depois o progressivo à-vontade com ele ilustram isso muito bem.
Notei particularmente (nem sei porquê...) aquela parte de "a descer era eu que saía primeiro..." eh eh eh.
Abraço
Hélder Sousa
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