quarta-feira, 22 de agosto de 2018

P1049: OS MEUS CARROS DE SOLTEIRO – 1

Nesta fase morna do Verão, propensa à publicação de temas ligeiros que não puxem muito pela cabeça, lembrei-me de falar dos carros que possuí no meu tempo de solteiro. Vão por isso ser publicados sucessivamente três textos em que faço referência às máquinas que tiveram a desdita de me passar pelas mãos nessa fase, um texto por cada um dos carros, afinal todos eles relacionados com o início da minha carreira militar tendo, cada um à sua maneira, deixado gratas recordações.

BIFES N’ “O RELENTO” E RAMPA DA PENA…

Miguel Pessoa
Estávamos em finais de 1968 e iniciava eu então o meu tirocínio como Aspirante a Oficial-Piloto-Aviador, na Base de Sintra. Começando a auferir um vencimento mais robusto, pensei então em avançar com a compra de um carro para as minhas deslocações. Não dispunha no entanto de dinheiro para avançar com uma compra a pronto, pelo que teria que me contentar com uma oportunidade que surgisse. E ela veio de um familiar que, através dos seus conhecimentos, conseguia arranjar-me um carrinho com 3 anos de uso e que, convenientemente, poderia adquirir sem entrada inicial e com 35 prestações mensais de um conto de réis cada uma…

Avancei destemidamente com a compra e vi-me proprietário de um Hillman Imp, um carrinho inglês simpático mas que fugia à moda dos Minis que então grassava. Tinha um motor traseiro e tracção traseira, ao contrário dos Minis, que tinham motor e tracção dianteiros e um comportamento bastante diferente.

Na altura a minha preocupação era outra, pois ainda não tinha tirado a carta de condução… Assim, vi-me restringido ao uso do carro dentro da Base, enquanto aguardava o exame de condução, a fazer no Centro de Instrução de Condução Auto, na Base de Tancos, fazendo entretanto umas tantas aulas de condução numa Escola de Condução em Lisboa e ganhando mais alguma experiência no jipe do Oficial de Dia, quando estava de serviço…

Finalmente, no início de 1969 lá fui fazer o exame de condução, o qual decorreu sem problemas de maior pois já tinha adquirido entretanto uma experiência razoável. E, porque poucos dispunham ainda de carro próprio, foi uma mais valia a juntar ao ainda reduzido parque automóvel dos tirocinantes.

Por coincidência, um outro camarada do meu curso – o AM, que o pessoal conhece dos nossos encontros – tinha também um Hillman Imp, embora reconheça que o dele era bem melhor do que o meu – bem calçado de pneus e com um motor mais saudável.

E nos meses seguintes o grupo lá se juntava para umas passeatas fora das horas de serviço, que não raras vezes descambava numas corridinhas por montes e vales, a ver quem chegava mais depressa… E tive a oportunidade de receber desse meu camarada uns ensinamentos na arte de fazer piões, o que me levou a rapidamente ter que substituir os pneus traseiros – que por já serem recauchutados (moda da altura) rapidamente foram perdendo o piso…

E porque o parque automóvel era reduzido, várias vezes foram acordar-me para dar boleia a uns tantos famintos ávidos de uma ceia aconchegante. E lá seguíamos para um restaurante em Algés, “O Relento”, para mandar abaixo o bife à moda da casa… E como a noite ainda era uma criança ainda seguíamos para a Serra de Sintra para fazer a rampa da Pena…

Como o meu Imp era menos potente e não tinha a primeira velocidade sincronizada, o meu camarada AM seguia à frente, que era mais rápido. Já a descer era eu que saía primeiro, que tinha os travões mais fracos… e talvez fosse mais maluco…

Lembro-me com alguma saudade desses tempos, pois o carrinho proporcionou-me bons momentos. Com a tampa do motor ligeiramente levantada para melhor arrefecimento e o vidro traseiro levantado (à laia de aileron traseiro…) era garantido o cheirinho da gasolina dentro do carro, o que dava um ambiente muito racing

E com o aproximar do fim do curso de pilotagem outras ideias foram surgindo, o que me levou a considerar a possibilidade de trocar o Hillman Imp por um novo carro, mais potente. Mas isso será tema de uma próxima história, que irei aqui contar…

Miguel Pessoa


2 comentários:

Anónimo disse...

Histórias que ficam para sempre na memória. Faz bem recordál-las e contar aos amigos.
Aguardo a do segundo carro.
Um abraço. amigo .
M Arminda

Hélder Valério disse...

Miguel

É "dos livros" que tudo tem um começo....
E esse Hillman, adquirido antes de se ter carta, as suas experiências e depois o progressivo à-vontade com ele ilustram isso muito bem.
Notei particularmente (nem sei porquê...) aquela parte de "a descer era eu que saía primeiro..." eh eh eh.

Abraço
Hélder Sousa