domingo, 23 de julho de 2023

P1410: MUITA EXPERIÊNCIA ACUMULADA...

             FAZER  ANOS  DEPOIS  DOS  SETENTA


É curioso isto de ir fazendo anos a partir dos setenta, não digo de propósito envelhecendo, porque ficar velho é uma coisa e fazer anos é outra.

Podemos ir fazendo anos e, claro, as dores aparecem, as articulações não ajudam, uma série infindável de achaques fazem-se presentes, mas não temos que ficar velhos, isto é, não temos que ficar como aqueles que de quem se diz está um chato, está um velho!

O cérebro envelhece?

Não sei, não faço ideia, (tirando obviamente as doenças que o possam atacar), mas tenho para mim que continua a “trabalhar” perfeitamente e mais ainda, que nos guarda surpresas fantásticas.

É que faz-nos lembrar de coisas passadas a que não ligávamos nada, e agora são motivo para um sorriso que nos aparece na boca, para uma conversa, não só com os mais novos, mas também com os da nossa idade, conversas que a maior parte das vezes arrancam gargalhadas aos intervenientes e fazem as delícias dos mais novos que as ouvem.

Alguns desses mais novos até nos olham com aquele olhar de quem se espanta como o pai, o irmão, o amigo, fizeram aquelas coisas que estão a contar e, afinal, se divertiram tanto com coisas tão simples.

E quando avançamos para os acontecimentos mais arriscados, mas temerários, mais aventureiros, quase nos digladiamos amigavelmente a ver quem fez “pior”, mais arriscado, enquanto os mais novos ficam espantados com as loucuras que aquela gente de mais idade fez durante a vida.

Às vezes até ficamos todos orgulhosos quando os ouvimos contar aos amigos das suas idades, as aventuras do pai, do irmão ou do amigo!!!

E é curioso que não se cansam de ouvir repetidas essas histórias de um passado que não conheceram, e às vezes até são eles que no-las recordam, para que as repitamos, fazendo-o nós sempre com todo o gosto e acrescentando sempre um qualquer pormenor para dar mais sumo à história tantas vezes recontada.

A gente até pensa às vezes que devia escrever aquelas histórias, mas o que é verdade é que lidas perdem bastante do seu encanto e, claro, não lhes podemos acrescentar mais uma coisa ou outra que mesmo não sendo totalmente verdade, não são, com certeza, mentira e dão mais brilho à narrativa.

E o que é engraçado é que a gente só se vai lembrando destas coisas à medida que vamos fazendo anos, talvez assim a partir dos setenta, e por isso mesmo não vamos ficando mais velhos, vamos é acrescentado anos às histórias dos nossos anos!

Joaquim Mexia Alves

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Olá Joaquim, meu bom amigo.

Pois tens toda a arzão: uma coisa é "fazer anos", outra bem diferente é "ficar velho".
E o que acrescentas para sustentar a tese também é bem verdade.
Há apenas um reparo que posso fazer. É que muito do que diferencia o "fazer anos do ficar velho" tem a ver com as atitudes próprias. Quem passar o tempo amargurado, com ressentimentos vários, com implicâncias diversas, dificilmente não deixará de "ser um velho".
Em relação às coisas que se fizeram (acho que todos teremos algo do que hoje seria considerado "menos próprio") é também verdade que muitas vezes, nos tempos correntes, ao "passar conselhos" aos mais novos dou por mim a sorrir para dentro, e a pensar naquela do "bem prega Frei Tomás..."
Abraço
Hélder Sousa