sábado, 20 de janeiro de 2018

P989: POEMA DE UM DOS GRANDES ESPÍRITOS NACIONAIS

AOS MEUS AMIGOS
FERNANDO PESSOA


"Um dia a maioria de nós irá separar-se.


Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhámos.


Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido. 

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje já não tenho tanta certeza disso.


Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.


Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas
que trocaremos.

Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...


Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.

Vamo-nos perder no tempo...


Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?

Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!


- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!

A saudade vai apertar bem dentro do peito.


Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...


Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo
e, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.

Então faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes  daquele dia em diante.


Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a  viver a sua vida, isolada do passado.
E perder-nos-emos no  tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo:
  Não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades....
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, 
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

Fernando Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

Feliz escolha do poema, muito a propósito de mais um aniversário da Tabanca do Centro.


Sobre os Amigos Fernando Pessoa escreveu:

"Ontem,passei nas ruas como qualquer pessoa.
Olhei para as montras despreocupadamente
E näo encontrei amigos com quem falar.
De repente vi que estava triste,mortalmente triste,täo triste que me pareceu impossível viver amanhä,näo porque morresse ou me mata-se,
Mas porque seria impossível viver amanhä e mais nada."

Um abraco do J.Belo