AOS MEUS
AMIGOS
FERNANDO PESSOA
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhámos.
Saudades até dos
momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as
amizades continuassem para sempre.
Hoje já não tenho tanta
certeza disso.
Em breve cada um vai
para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a
encontrar-nos, quem sabe... nas cartas
que trocaremos.
Podemos falar ao
telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no
tempo...
Um dia os nossos filhos
verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram
nossos amigos e... isso vai doer tanto!
- Foram meus amigos, foi
com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!
A saudade vai apertar
bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
Quando o nosso grupo
estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo
e, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada
do passado.
E perder-nos-emos no
tempo...
Por isso, fica aqui um
pedido deste humilde amigo:
Não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam
a causa de grandes tempestades....
Eu poderia suportar,
embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"
Fernando Pessoa
1 comentário:
Feliz escolha do poema, muito a propósito de mais um aniversário da Tabanca do Centro.
Sobre os Amigos Fernando Pessoa escreveu:
"Ontem,passei nas ruas como qualquer pessoa.
Olhei para as montras despreocupadamente
E näo encontrei amigos com quem falar.
De repente vi que estava triste,mortalmente triste,täo triste que me pareceu impossível viver amanhä,näo porque morresse ou me mata-se,
Mas porque seria impossível viver amanhä e mais nada."
Um abraco do J.Belo
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