sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

P753: JUVENAL AMADO - O PORQUÊ DE UM TÍTULO

Ainda a propósito do livro do Juvenal Amado, “A tropa vai fazer de ti um homem!”, recebemos deste nosso camarigo um texto em que ele aprofunda as razões que o levaram a escolher este título para a sua obra.

Lembramos que o lançamento oficial do livro se realiza amanhã, 23 de Janeiro, em Lisboa, (ver pormenores aqui) e que, de aqui a mais alguns dias, em 29 de Janeiro, o Juvenal irá apresentar esta sua obra no decorrer do nosso 50º convívio, em Monte Real, onde poderá ser adquirida pelo pessoal presente.

Aqui fica o texto…

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Escrevi este texto com o objectivo de descodificar o termo "na tropa vão fazer de ti um homem" que era muito usado na minha região.
A foto mais abaixo é de um grupo de "motoqueiros", para aí de 1965, e talvez aqueles tenham servido de inspiração a Dennis Hopper, Peter Fonda e Jack Nicholson no filme de culto “Easy Rider”,  que estreou em 1969…
Bem, este pessoal é de Alcobaça. Eu era puto ao pé deles e nunca tive uma motorizada, a não ser dois ou três anos depois de vir da Guiné. Já não tinha idade para maluqueiras em duas rodas…
JA


LÁ IRÁS PARA ONDE O PAGUES

Na década de sessenta com a guerra ainda em expansão, nós os miúdos olhávamos para ela como coisa longínqua. Na verdade ela ia atingindo as famílias de tal forma, que só tornava importante quando sabíamos que alguém perto de nós tinha sido mobilizado.

Aceitávamos como um assunto para nos preocuparmos na devida altura.

Eu tinha dezasseis anos quando o meu irmão foi mobilizado para Moçambique e a guerra ficou mais próxima.
Até demais.

Mas isso não impediu que grande parte dos jovens desse tempo continuasse a viver sem se preocupar em demasia com o assunto e só sofríamos um sobressalto quando se sabia que tinha morrido fulano, sicrano, beltrano,  ou filho de...

Na grande maioria tinham ido trabalhar mal fizeram a quarta classe, pois o rendimento das famílias era pequeno e seguir os estudos não era para todos, ou - direi  melhor - era para bem poucos.

Próprio da idade, a que podíamos chamar irreverência da juventude (hoje na maioria das vezes chamamos parvoíces), cometíamos toda a casta de imprudências, fazíamos tábua rasa das advertências e arriscávamos as nossas vidas gratuitamente em toda uma série de disparates.

Beber uns copos, noitadas, deixar crescer o cabelo assim que conseguímos rodear as ordens dadas no barbeiro para termos sempre à nossa disposição um corte de cabelo à “inglesa curta”.

Mas em lugar cimeiro estavam as motorizadas; quem não tinha babava-se e tinha pena de não ter. Compradas a muito custo para possibilitar trabalhar mais longe de casa, serviam depois para ir aos bailaricos e para toda a espécie de gincanas junto das moças.

Não eram poucas vezes que essas exibições resultavam em quedas aparatosas, com manifestações de regozijo entre a assistência por as “habilidades“ nas duas rodas terem resultado em malhanço com o nariz no chão.

Regozijar-nos com o mal dos outros não deve ser só uma atitude portuguesa, mas também por vezes escondia uma disfarçada inveja pelo o tipo de “máquina” que o outro fulano tinha,  e a quem responsabilizávamos pelo maior sucesso que ele tinha junto do sexo feminino.

Assim, o improvisado “artista” mal caía levantava-se logo como se tivesse molas; e mesmo perdido de dores, sorria para a multidão como se nada se tivesse passado e acelerava a 50 centímetros cúbicos, Famel ou Zundapp – em casos mais raros uma Honda ou V5. Depois aparecia no café no mesmo dia ou dias depois, consoante a pancada.
Os mais velhos diziam então, que a tropa nos estava a fazer falta e que lá iam fazer de nós uns homens.

Nasce então o termo que soava a ameaça, desejo ou premonição, “Lá irás para onde o pagues”, ou “A tropa  é que vai fazer de ti um homem”.

Não sei se foi isso resultou comigo, mas como saber ?

Um abraço para todos

Juvenal Amado

2 comentários:

Juvenal Amado disse...

Tenho que agradecer este excelente trabalho de publicação ao blogue T.C.

Está claro que o suspeito é o do costume não é Miguel?

Joseph disse...

Meu caro Camarada e Amigo

"Deixar crescer o cabelo" ???

O Exército,com o seu típico castigo de entäo (a carecada),fez de muitos uns...Homens.
E näo é que,para os mais saudosistas como eu,a carecada tornou-se...CONTÍNUA !

Aquele abraco do José Belo.