Ainda a propósito do livro do Juvenal
Amado, “A tropa vai fazer de ti um homem!”, recebemos deste nosso camarigo um
texto em que ele aprofunda as razões que o levaram a escolher este título para
a sua obra.
Lembramos que o lançamento oficial do livro
se realiza amanhã, 23 de Janeiro, em Lisboa, (ver pormenores aqui) e que, de aqui a mais alguns
dias, em 29 de Janeiro, o Juvenal irá apresentar esta sua obra no decorrer do
nosso 50º convívio, em Monte Real, onde poderá ser adquirida pelo pessoal
presente.
Aqui fica o texto…
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Escrevi este texto com o objectivo de descodificar o
termo "na tropa vão fazer de ti um homem" que era muito usado na
minha região.
A foto mais abaixo é de um grupo de
"motoqueiros", para aí de 1965, e talvez aqueles tenham servido de
inspiração a Dennis Hopper, Peter Fonda e Jack Nicholson no filme de culto “Easy
Rider”, que estreou em 1969…
Bem, este pessoal é de Alcobaça. Eu era puto ao pé
deles e nunca tive uma motorizada, a não ser dois ou três anos depois de vir da
Guiné. Já não tinha idade para maluqueiras em duas rodas…
JA
LÁ IRÁS
PARA ONDE O PAGUES
Na
década de sessenta com a guerra ainda em expansão, nós os miúdos olhávamos para
ela como coisa longínqua. Na verdade ela ia atingindo as famílias de tal forma,
que só tornava importante quando sabíamos que alguém perto de nós tinha sido
mobilizado.
Aceitávamos
como um assunto para nos preocuparmos na devida altura.
Eu
tinha dezasseis anos quando o meu irmão foi mobilizado para Moçambique e a
guerra ficou mais próxima.
Até
demais.
Mas
isso não impediu que grande parte dos jovens desse tempo continuasse a viver
sem se preocupar em demasia com o assunto e só sofríamos um sobressalto quando
se sabia que tinha morrido fulano, sicrano, beltrano, ou filho de...
Na
grande maioria tinham ido trabalhar mal fizeram a quarta classe, pois o
rendimento das famílias era pequeno e seguir os estudos não era para todos, ou
- direi melhor - era para bem poucos.
Próprio
da idade, a que podíamos chamar irreverência da juventude (hoje na maioria das
vezes chamamos parvoíces), cometíamos toda a casta de imprudências, fazíamos
tábua rasa das advertências e arriscávamos as nossas vidas gratuitamente em
toda uma série de disparates.
Beber
uns copos, noitadas, deixar crescer o cabelo assim que conseguímos rodear as
ordens dadas no barbeiro para termos sempre à nossa disposição um corte de
cabelo à “inglesa curta”.
Mas
em lugar cimeiro estavam as motorizadas; quem não tinha babava-se e tinha pena
de não ter. Compradas a muito custo para possibilitar trabalhar mais longe de
casa, serviam depois para ir aos bailaricos e para toda a espécie de gincanas
junto das moças.
Não
eram poucas vezes que essas exibições resultavam em quedas aparatosas, com manifestações
de regozijo entre a assistência por as “habilidades“ nas duas rodas terem resultado
em malhanço com o nariz no chão.
Regozijar-nos
com o mal dos outros não deve ser só uma atitude portuguesa, mas também por
vezes escondia uma disfarçada inveja pelo o tipo de “máquina” que o outro
fulano tinha, e a quem
responsabilizávamos pelo maior sucesso que ele tinha junto do sexo feminino.
Assim,
o improvisado “artista” mal caía levantava-se logo como se tivesse molas; e
mesmo perdido de dores, sorria para a multidão como se nada se tivesse passado
e acelerava a 50 centímetros cúbicos, Famel ou Zundapp – em casos mais raros
uma Honda ou V5. Depois aparecia no café no mesmo dia ou dias depois, consoante
a pancada.
Os
mais velhos diziam então, que a tropa nos estava a fazer falta e que lá iam
fazer de nós uns homens.
Nasce
então o termo que soava a ameaça, desejo ou premonição, “Lá irás para onde o
pagues”, ou “A tropa é que vai fazer de
ti um homem”.
Não
sei se foi isso resultou comigo, mas como saber ?
Um abraço para todos
Juvenal Amado
2 comentários:
Tenho que agradecer este excelente trabalho de publicação ao blogue T.C.
Está claro que o suspeito é o do costume não é Miguel?
Meu caro Camarada e Amigo
"Deixar crescer o cabelo" ???
O Exército,com o seu típico castigo de entäo (a carecada),fez de muitos uns...Homens.
E näo é que,para os mais saudosistas como eu,a carecada tornou-se...CONTÍNUA !
Aquele abraco do José Belo.
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