O ANIMAL MAIS PERIGOSO…
O nosso camarada José Belo deixa-nos hoje algumas dicas como caçador experimentado, já com mais de quarenta anos de provas dadas no extremo norte da Suécia, na sua querida Lapónia.
Quem vive isolado nesta região, sem vizinhos próximo, está habituado a providenciar o seu próprio sustento através da caça e da pesca. Arcas congeladoras são importantes para guardar durante todo o ano as grandes quantidades de carne selvagem que aqui vai sendo abatida e consumida, para além dos diversos peixes locais como a truta e o salmão.
Lembro que um alce fornece muitos mais quilos de carne consumível que um cavalo grande. As renas funcionam um bocado como os porcos na Lusitânia... tudo se consome, desde o lombo, filé, febras, perna fumada, sangue para enchidos etc.
Por aqui encontrar alces e abatê-los não é difícil pois existem alguns milhões (!) na Escandinávia. O problema surge quanto ao transporte da carne do animal abatido para casa.
Um alce adulto é maior e mais carnudo que um cavalo grande. Para um grupo de caçadores é fácil distribuir a melhor carne por todos. Aqui onde vivo o vizinho mais próximo está a cerca de 300(!) quilómetros da minha casa, por isso a “equipa” de caçadores é constituída por este Lusitano único...
Ou se tem a sorte de abater o alce à beira da picada (a densidade das florestas e o tipo de terreno preferido pelos alces tornam praticamente inutilizáveis os veículos aqui usados ) ou há que esquartejá-lo aproveitando unicamente a carne mais conveniente para grelhar, assar ou fumar.
Julgar que se pode deixar o cadáver esquartejado para vir buscar mais carne, curtas horas depois, traz sempre a surpresa de só restarem no local a pele mais grossa e… os cornos da alimária!
Os caçadores lusitanos habituados (noutros tempos!) a colocar uma dúzia de perdizes à cintura devem levar em conta este pequeno-grande detalhe.
E, para colocar a carne ao ombro, há que não esquecer que a mesma deverá ter sido cuidadosamente raspada de toda a pelagem. Não o fazer leva a que tanto o pescoço, as costas e o vestuário fiquem completamente crivados de carraças, que incrivelmente sobrevivem aos quarenta e tal graus negativos dos invernos locais!
Apesar das vacinas há sempre o perigo das muito graves consequências da febre da carraça.
Sem querer entrar em humor político o facto é que de há muito sofremos de
uma invasão russa de uma espécie de carraças, transportada pelos rebanhos de
renas nas suas deslocações e pelos animais selvagens, que obviamente não
“reconhecem” a fronteira russa.
A experiência diz-nos que as vacinas actualmente existentes não afectam este tipo de carraças novas na Escandinávia. Por isso, com o humor “seco” típico da Lapónia, os locais respondem sempre aos visitantes que perguntam quais são os animais mais perigosos que podem ser encontrados (esperam referências a ursos, alcateias de lobos ou víboras):
- “O animal mais perigoso de encontrar na floresta é… a carraça!”
4 comentários:
Só imagino......
O Miguel é um editor cheio de criatividade, sobretudo quando o escritor sabe descrever com estilo e humor o que pretende dizer.
Grande abraço Zé aqui dos locais de mais calor.
Um complemento ao texto.
A Tv sueca informou hoje ter-se atingido o maior número de infeções sérias provocadas pelas carraças desde que se efectuam estatísticas sobre o assunto.
627 pessoas necessitaram cuidados hospitalares,e um milhão e setecentos mil foram já vacinados.
A doença (TBE),quando as carraças estão infectadas,provoca inflamação cerebral,temperaturas muito elevadas,dores musculares,e mesmo paralisias parciais.
Estes sintomas graves são antecipados por uns dias com febre que o afectado costuma recuperar-se provisoriamente.
(Aparentemente a febre da carraça é bastante comum entre os geniais políticos lusitanos)
Um grande abraço do JBelo
Meus caros amigos
Desculpem tão tardio comentário mas só agora me foi possível fazer.
A moral desta história, aliás, informação, é a de que muitas vezes não são os que aparentam dimensão e volume os que mais nefastos podem ser, mas sim seres aparentemente mais insignificantes.
E, é bem verdade, "carraças" há por aí bastantes, demais talvez.
Abraço
Hélder Sousa
Enviar um comentário