segunda-feira, 6 de março de 2023

P1376: APOIO AOS COMBATENTES PORTUGUESES

      COMO OS COMBATENTES PORTUGUESES SÃO TRATADOS

                                                                                                                     CarlosPinheiro 

Falemos dos Combatentes Portugueses e da forma como sempre foram tratados.

Sem pretender fazer um tratado sobre os Combatentes, teremos que começar pelo CEP - Corpo Expedicionário Português - que mobilizou, mal e apressadamente, cerca de 100.000 soldados.

Portugal enviou dezenas de milhar de militares para Angola e principalmente para Moçambique, que a Alemanha queria conquistar.

É certo que Portugal, como aliado da Inglaterra tinha apresado dezenas de navios alemães nos nossos portos e essa terá sido uma das razões para que a Alemanha atacasse Moçambique de forma feroz.

Morreram na guerra em Moçambique dezenas de milhar de militares portugueses, a maior parte dor doença, na medida em que não iam preparados para aqueles climas e os serviços de saúde eram exíguos; e quanto a armamento nem é bom falarmos.

Entretanto, em 1917 foram também para França outros milhares de Soldados portugueses, também sem condições, sem preparação e sem armamento conveniente e foram mesmo carne para os canhões dos alemães enquanto viviam, ou sobreviviam nas trincheiras.

Porque a miséria era muita em todos os aspectos, em 1921 foi criada a Liga dos Combatentes chamada da 1ª Grande Guerra, a fim de auxiliar os sobreviventes, especialmente os feridos e doentes, as viúvas e os órfãos, dada a miséria que grassava no país.

Como a 1ª Grande Guerra nunca ficou bem resolvida, em 1939 rebentou a 2ª que durou até 1945. Nessa não tomámos parte, apesar do país ter sofrido, fome e miséria a rodos enquanto outros se encheram de dinheiro a custa do trabalho escravo na pesquisa do dito volfrâmio que era vendido a peso de ouro aos dois beligerantes.

Depois, em 1961 rebentaram as guerras de África que duraram até 1974, na Guiné, em Angola e em Moçambique já depois  da India se ter tornado independente da Inglaterra em 1947 e ter começado a invadir os enclaves de Dradá e Nagar Aveli em 1954 no chamada Estado da India Portuguesa e em  18 de Dezembro de 1961 ter invadido por terra, mar e ar os enclaves de Goa Damão e Diu, prendendo todos os militares portugueses sobreviventes, porque ainda houve alguns mortos portugueses apesar das nossas forças em nada se pudessem comparar com as Forças Indianas. As nossas tropas foram presas e seguiram para campos de concentração depois do Governador Vassalo e Silva não ter respeitado a Ordem de Lisboa para que resistíssemos até ao último homem.

O regresso a Portugal desses militares aconteceria em Maio de 1962, com uma ponte aérea de Goa para Carachi, no Paquistão. Daí, os militares foram transportados em navios até Lisboa.

À chegada, foram chamados de traidores. Oito oficiais, incluindo o governador-geral, foram demitidos como era a política da época, sem mais comentários.

Isto é um pequeno resumo, muito resumido, do que as nossas forças armadas ali passaram até serem repatriadas como acima se refere,

Mas nessa altura já estavam em marcha as três Guerras de África, Guiné, Angola e Moçambique. Também tínhamos tropas em Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e até em Macau e Timor. com as dificuldades inimagináveis, em territórios com climas tórridos e escaldantes, sem estradas, sem pontes, sem pistas de aviação, sem quartéis, sem nada.

Foram os nossos soldados, que para além de combaterem o inimigo, também foram construindo algumas estradas, inventando algumas pontes e algumas pistas de aviação, e construindo alguns barracões para servirem de quartéis, outros aproveitando antigos celeiros que também passaram a servir de quartéis, onde normalmente viviam cercados de arame farpado, muitas vezes cheios de minas e armadilhas, para que se evitassem incursões indesejáveis.

Muitos viveram em abrigos subterrâneos cobertos por troncos imensos de árvores e viveram tempos debaixo do chão. E o material de transportes, pelo menos nos primeiros anos, eram as velhas GMC e os jipões da 2ª Grande Guerra. Era a guerra.

A Liga dos Combatentes criada, foi organizada  em 1921 e tem vários serviços de apoio aos Combatentes mas ainda hoje vive com orçamentos insignificantes; mesmo assim mantém dois Lares para Combatentes idosos - um em Estremoz e outro no Porto - certamente com ajudas locais; recentemente, abriu-se-lhe uma oportunidade de criar uma nova unidade no centro do País, mais concretamente no Entroncamento, fruto da oferta da Câmara Municipal do Entroncamento dum terreno para a construção de um Centro de Dia, de uma  Creche, de um Lar para Idosos e de uma Unidade de Cuidados Continuados. Como se pode imaginar, uma obra de vulto que os Combatentes bem merecem e bem precisam.

Claro que a Liga não tem meios para tão grande como útil obra, e ter-se-á candidatado a Fundos da UE, parece que ao PARES, mas exigiram-lhe um projecto da obra. Porém, esse projecto custará cerca de 150.000 Euros e parece não haver dinheiro para o projecto, até porque não há certeza de que o financiamento seja garantido.

Aliás, a Liga na sua Revista de Dezembro de 2022, no seu Editorial do Presidente General Chito Rodrigues, denuncia claramente esta situação, que põe em risco a construção de uma unidade polivalente para os Combatentes na sua fase final da vida terrena. Mas não se conhecem respostas ou comentários do poder instituído, o que é lamentável, para quem deu o melhor da sua juventude ao serviço de Portugal

É assim que os Combatentes são tratados. Aliás já estão habituados a serem bem tratados com a esmola de 70 ou 100 Euros anuais que normalmente recebem em Outubro, sujeita a impostos.

E está tudo bem e ninguém diz nada.

Não temos dinheiro para ajudar os nossos que precisam, mas mesmo assim vamos ajudando outros lá longe, que também precisam, é certo, mas para os nossos não há nada.

É triste, mas é o que temos.

Carlos Pinheiro

Sócio nº 143620 da Liga dos Combatentes

5 comentários:

Anónimo disse...

Foi COMBATENTE em Angola de que me preso ter sido, sou o sócio COMBATENTE nº 74.524 que me parece ser alguma coisinha mais velhinho que quem escreveu aquilo que escreveu. Discordo de muitas coisas por ele escritas e a primeira de outras é que o estado apoia, ( quer dizer a UCRÂNIA) mas o estado português desde o 25 de abril que sempre desprezou os militares que o foram no antigo Ultramar. Não vale apenas ir buscar coisas do arco da velha para tal justificação quando a própria liga, seus dirigentes e até parece que alguns familiares vivem à grande. A liga hoje não representa nada para nós combatentes do antigo ULTRAMAR e muito menos nos defende. Que interessa construir num local certa obra quando por todo o país existem pessoas combatentes com necessidades extremas? Que a liga e seus grandes amigos dos amigos defendam coisas tudo bem, mas; era necessário que essa ajuda fosse geral e não só em um local exato pois não se consegue deslocar pessoas para tantas centenas de kilometros de distancia deixando de parte seus familiares. Temos muita, mas muita coisa que a liga poderia fazer em prol dos COMBATENTES do ULTRAMAR antigo. mas me parece que neste momento muitos defendem mais aqueles que vão em missões de paz e pagos a preço de ouro. VERDADE OU MENTIRA? Para os que não gostam do apoia à Ucrânia eu pergunto: AFINAL O QUE VOZ FARIAM NESTE CASO? Imaginem que amanhã aparecia um maluco na Espanha e fazia a mesma coisa que o putim está fazendo? Falar ou escrever é fácil, mas quando nos tocar a nós então todos se escagaçam e os heróis de hoje passam a mijarem se todos. Ainda gostava saber em que sitio o comentador fez seu tempo de combatente e em que ano? Peço desculpa aos que lerem meu comentário, mas eu sou apenas um doutoramentado que com ORGULHO só andou 3 anos na escola. Manuel Mendes, 1º cabo radiotelegrafia que fez seu tempo de serviço no ex ULTRAMAR no Norte de Angola durante 26 meses e com muito orgulho.
26 de Dezembro d4e 1965 a 10 de Fevereiro de 1968.

Manuel Mendes disse...

Fiz meu comentário que aparece como anónimo, mas nele está a minha identificação.

Carlos Pinheiro disse...

Caro Camarada Manuel Mendes.
Agradeço as suas palavras em relação ao que escrevi. De qualquer forma também tenho que esclarecer algumas coisas para que tudo fique bem claro.
Nasci em 1945, fui à Inspecção Militar em 1965 e assentei praça em Outubro de 1967.
Em Outubro de 1968 embarquei para a Guiné de onde regressei em Novembro de 1970.
Quanto à Liga dos Combatentes acho que o amigo tem muita razão mas a Liga será aquilo que os Combatentes quiserem mas nós já não temos idade para fazermos manifestações nem coisas parecidas, mas mesmo assim podemos escrever a colocar as nossas opiniões e certamente que nos responderão.
Quanto à hipótese de ser feito um Lar, um Centro de Dia e uma Unidade de Cuidados Continuados no Entroncamento, penso que a ideia terá partido da Câmara Municipal quando se dispôs a oferecer o terreno para as instalações a construir pela Liga, pelo que acho que é de louvar a proposta da Câmara do Entroncamento. É pena é que das outras 307 Camaras Municipais não apareçam ofertas semelhantes.
Porém, é fácil adivinhar que a Liga não terá meios financeiros para uma obra daquela envergadura quando só o projecto custaria uma pequena fortuna.
Os governos de há 20 ou mais anos é que deveriam ter tido a ideia de construir um lar para Combatentes, pelo menos um por cada Distrito, porque daqui a outros 20 anos a maioria de nós já cá não estará.
Mas veja lá que até a esmola de Outubro 75, 100 ou 125Euros, penso que é assim, quanto a mim é uma ofensa à nossa dignidade de combatentes e ainda por cima pagamos IRS dessa tal esmola….
Por outro lado, a Liga, como sabe, tem um Lar em Estremoz e outro no Porto e seria bom que tivesse muitos mais porque, infelizmente somos ainda muitos os sobreviventes das campanhas de África e estamos espalhados por todo o País.
Mas são precisas muitas boas vontades para que certas obras apareçam e funcionem porque o dinheiro como sabe não abunda especialmente este tipo de obras, não sei bem porquê.
Os meus cumprimentos
Carlos M Pinheiro

Carlos Pinheiro disse...

O meu comentário saiu em dupliocado, nem sei bem poprquê. as minhas desculpas

Manuel Mendes disse...

Carlos Pinheiro, obrigado pelo seu comentário e explicação. Quanto à esmola que os sugas que nos governam dão, eu só recebo 75 euros Com os descontos fica em 50 e tal euros, tendo estado quase 26 meses sempre em Zona ZIN Norte de Angola. Meus colegas recebem 150. Eu só porque paguei os descontos desse tempo para contar para a reforma só me dão 75 desde 2009 pela lei do socrates. Reclamei e até para o provedor de justiça e teve a amabilidade de me mandar escritas 9 folhas À 4 para me dar a explicação que não tinha direito. Paguei porque era funcionário publico e nesses tempos diziam que só pagando tinha esse direito. Quanto à liga de Leiria, alguns anos atrás, pouco antes de o Sr. Ley Garcia deixar de ser presidente com mais 2 colegas tivemos uma reunião para ver se era possível fazer um monumento digno dos combatentes no centro de Leiria para memória futura, auma vez que não existe nada de jeito. Entretanto o Sr. Ley Garcia saiu e ficou lá o outro; reuni com eles combinamos que seria uma estátua de um soldado abaixado com uma G 3 na mão e essa pessoa mandou procurar um escoltor, pessoa que depois de procurar quem seria melhor encontrei uma escultora para lá da Cruz da Legua, contei lhe ao que ia e ela ficou de com o marido se deslocar a Leiria e ver onde seria o melhor sitio. Depois ela iria contactar o tal presidente da liga para combinarmos um encontro com o Sr. Raul Castro o resto para tal fim. A escultora deslocou se a Leiria com o marido e verificaram que ali junto ao jardim onde tem as placas na parede das homenagens dos combatentes tinha duas pequenas arvores e entre elas logo em frente que apenas precisava de 4 metros quadrados para tal fim. Ficava bem sim, mas quando ela ligou a presidente da liga ele respondeu lhe que não se fazia nada. Fez de mim uma cobaia e andei a gastar tempo e dinheiro por causa desse burra. Nunca mais lá entrei na liga nem paguei a cota e agora que soube já não estava lá voltei a ser sócio. Mesmo nos termos responsabilizado em ver se arranjava mos ajudas externas levamos com os pés. Tenho pena, mas sei que nunca iremos ver nada de jeito em Leiria. Desculpem o meu desabafo, mas fiquei muito magoado. Um abraço e os meus cumprimentos.