Uma descrição exemplar de uma zona da nossa Tabanca do Centro, pela pena do saudoso poeta António Lúcio Vieira, nosso camarada, que nos deixou em Junho de 2020.
NO CENTRO DE
PORTUGAL
Invulgarmente diverso e rico em atractivos turísticos é, indubitavelmente, todo o espaço, numa cintura de poucas dezenas de quilómetros, que circunscreve a periferia de Torres Novas.
Situada na fronteira entre a região
estremenha e o Ribatejo, erguendo-se numa paisagem única em Portugal, a uma
altitude que atinge os 678 m, distingue-se, na região, o Parque Natural das
Serras de Aire e Candeeiros, mais de dois terços do Maciço Calcário Estremenho,
no qual se englobam as duas serras que lhe dão o nome e abrange os municípios
de Alcobaça e Porto de Mós, no distrito de Leiria; Alcanena, Rio Maior,
Santarém, Torres Novas e Ourém, no distrito de Santarém.
Numa área bela e agreste, recheada
de escarpas, de grutas e algares, encontram-se, em profundos vales e encostas,
para além de uma vasta e diversa fauna e flora, muros de pedra solta, rústicas
aldeias de pedra, por onde, de quando em vez, deambulam praticantes de
desportos radicais, do montanhismo ao BTT, da espeleologia aos passeios
equestres.
No alto da longa Serra de
Candeeiros, de onde se desfruta toda a vasta paisagem circundante, o visitante
pode sentir-se nas “nuvens” e reparar em cada pormenor de uma belíssima
paisagem, que se estende de Peniche ao Cabo da Roca e da Serra de Sicó a Torres
Vedras.
Naquele que é um dos maiores
reservatórios de água doce subterrânea de Portugal, reproduzem-se mais de
seiscentas espécies vegetais, (cerca de um quinto das espécies existentes em
Portugal) muitas das quais não se encontram em qualquer outro local do
planeta.
É neste rico e tão diversificado
território classificado, que se conservam as Marinhas de Sal, de Rio Maior,
importante jazida de sal-gema, em pleno sopé da Serra dos Candeeiros, a trinta
quilómetros do mar. Rodeadas de arvoredo e terras de cultivo, as Salinas riomaiorenses
(das poucas de origem não marinha existentes em Portugal) apresentam-se como
uma minúscula aldeia, com ruas de pedra e casas de madeira, onde se destacam
uns peculiares tanques de formas e dimensões irregulares, os quais, a partir de
meados da Primavera, se enchem de água salgada e dão origem a verdadeiras
pirâmides de sal.
Faça-se então uma ronda pela região
e comece-se pelas jazidas, com as marcas de trilhos de dinossauro, na antiga
“Pedreira do Galinha”, exactamente na linha de fronteira que separa o concelho
de Torres Novas do de Ourém. O Monumento Natural, posto a descoberto no extremo
oriental da Serra de Aire, na povoação de Bairro, em pleno Parque Natural das
Serras de Aire e Candeeiros, contém um importante registo fóssil do período Jurássico,
as marcas de alguns dos maiores seres que povoaram o planeta Terra: os
dinossáurios saurópodes, na laje calcária onde as pegadas de dinossáurios se
conservaram ao longo de 175 milhões de anos, podem ser observados cerca de 20
trilhos ou pistas, uma delas com 147m e outra com 142m de comprimento.
Escassos quilómetros adiante,
chega-se ao santuário mariano da Cova de Iria, na cidade de Fátima, que a
Igreja Católica designa por Altar do Mundo e que se assume como um dos locais
de peregrinação mais importante da Cristandade. Aí se diz ter Nossa Senhora
aparecido, em 13 de Maio de 1917, a três crianças que pastoreavam rebanhos.
Desde esse distante ano de 1917, não
mais cessaram de acorrer à Cova da Iria milhares e milhares de peregrinos,
oriundos de todo os continentes, fazendo do local, com a sua presença, um dos
lugares de oração mais concorridos do mundo.
Não muito distante daquele local de
peregrinação, abrem-se, aos olhos dos visitantes, as deslumbrantes grutas
naturais, ainda no maciço calcário do Parque Natural das Serras d’Aire e
Candeeiros. Presentes em todos os roteiros turísticos da Europa, as grutas de
S. António e de Alvados, nas proximidades, respectivamente das aldeias de Serra
de Santo António e de Alvados e a dos Moinhos Velhos, em Mira d’Aire (esta
última eleita, em 2010, como uma das Sete Maravilhas Naturais de Portugal)
todas abrigadas no rendilhado subsolo da serra de Santo António, constituem
outros dos aliciantes desta privilegiada região do centro do país.
Em terras de Ourém, uma antiga
fortificação muçulmana terá dado origem ao singular
castelo da cidade, já que se acredita ter sido a mesma reconstruída nos
primeiros tempos da monarquia, uma vez que remonta a 1178 a primeira referência
a um castelo de planta triangular no alto do monte.
Antiga residência dos Condes de
Ourém e muito ligado à figura de Nuno Álvares Pereira, o castelo, com os seus
invulgares torreões, erguidos em 1450, o paço dos condes e a antiga cidadela,
são igualmente motivos justificativos de uma visita.
Ainda no concelho oureense, na
margem esquerda do rio Nabão, a praia fluvial e os banhos quentes com águas
termais, indicadas para doenças de pele, fazem de Agroal um dos locais da
região mais procurados na época estival.
Integrados no mesmo perímetro
geoturístico, que abraça o concelho de Torres Novas, encontram-se a vasta
albufeira do Castelo do Bode, fonte de vida, espaço de lazer, cuja reserva de
água abastece parte de Lisboa, assim como alguns concelhos vizinhos do alto e
médio Ribatejo e na qual o turismo e os desportos aquáticos, servidos por
deslumbrante paisagem natural, encontram espaço particularmente privilegiado.
Do passado medieval da região,
emergem, próximo do perímetro militar de Tancos, o romântico castelo de
Almourol, cofre de lendas, encimando pequena ilha rochosa no leito do Tejo e o
Convento de Cristo, sobranceiro à bela cidade de Tomar, ambos seculares legados
dos cavaleiros Templários, cuja sede da ordem Gualdim Paes aquartelou na cidade
do Nabão.
De deslumbre em deslumbre, parte-se
à descoberta, ali mesmo ao lado, do Parque temático de Astronomia, do Centro de
Ciência Viva, do enlace dos rios Tejo e Zêzere, do horto e da Casa de Camões,
tudo ali na romântica e cativante vila de Constância, a quem o poeta Vasco de
Lima Couto chamou “vila-poema”; do aprazível oásis, constituído pela cativante
praia fluvial, rodeada por espaços verdes, estruturas de apoio e restauração,
parques de campismo e infantil, de um outro moderno Centro de Ciência Viva e de
um exemplar Observatório dos Morcegos, na aprazível região de Olhos d’Água,
junto à nascente do rio Alviela, em Alcanena.
A nordeste, à beira da N1 e já
próximo da costa atlântica, ergue-se o Mosteiro de Santa Maria da Vitória,
vulgarmente conhecido por Mosteiro da Batalha, caracterizado pela singularidade
das suas capelas inacabadas: as Capelas Imperfeitas.
Um pouco abaixo, depara-se o
visitante com o majestoso e romântico Mosteiro de Alcobaça, oficialmente
designado por Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça; morada dos eternos
amantes Pedro e Inês. Ambos os monumentos são jóias histórico-arquitectónicas e
autênticas páginas vivas do passado de Portugal.
Mais para oeste, estendida no regaço
da Pederneira abre-se, na costa marítima, a enseada da típica praia da Nazaré,
a mais bela e romântica, a mais cantada das praias de Portugal. Lugar eleito
pelos amantes do surf, cavaleiros das gigantescas ondas que fazem daquela
privilegiada zona atlântica o cartaz turístico-desportivo mais divulgado no
mundo entre os amantes da modalidade.
A Feira Nacional da Agricultura e do
Ribatejo, em Santarém e a do Cavalo, pelo S. Martinho, na vizinha e
característica Golegã, a Festa da Bênção do Gado, na vila de Riachos, no
concelho torrejano e a dos Tabuleiros, em Tomar, a Festa dos Rios, na
encantadora Constância, que o Tejo e o Zêzere abraçam; o Festival da Enguia, na
aldeia torrejana de Boquilobo, berço do lendário Humberto Delgado, tal como a
Feira Nacional dos Frutos Secos, que há muitos anos tem lugar na torrejana
cidade almondina, são outros tantos eventos de legítimo destaque, nesta
multifacetada e tão bafejada região do centro do país.
Na cidade ferroviária de
Entroncamento abrem-se, entretanto, as páginas da história do comboio em
Portugal, no Museu e na Rotunda das Locomotivas, da Fundação do Museu Nacional
Ferroviário.
Servida pela mais estratégica rede
rodoferroviária nacional, através da qual se parte para a Europa, ou dela se
chega e onde, no espaço de escassos quilómetros, que se estendem por uma nesga
de terra, aqui se descobre e se desfruta de um mundo de cativantes atractivos,
onde os ecos da História, as belezas naturais, os costumes, a aventura e o
laser, a fauna e a flora, a gastronomia, o artesanato e as tradições religiosas
e profanas, os monumentos e a actividade turístico-desportiva, se conjugam para
fazer deste pequeno rincão, do centro de Portugal, um museu vivo, um manual de
História, de estórias e de lendas, um caleidoscópio de belezas e visões e
sabores, um pequeno mundo, afinal, onde tudo se oferece e se desfruta.
Um pedaço de Portugal, tão diverso,
mágico e cativante, como um bazar oriental, tão deslumbrante e colorido e tão
singular, que nenhuma outra região do país o iguala.
António Lúcio Vieira ©
23-3-2015
2 comentários:
Saudades este nosso camarigo e grande poeta ribatejano.
Meus amigos da TABANCA DO CENTRO;desde que comecei a ir aos vossos convívios, só não vou quando mesmo não posso. Estarei sempre presente enquanto a minha saúde o for permitindo. Só que pelo dia não posso levar a minha MADRINHA DE GUERRA que muito me orgulhava de a ter sempre na minha companhia.
Pois à 56 anos que ela me atura.
Se fosse à 6ª feira estava mos sempre os dois de folga. Como estamos a poucos dias do ano de 2923, desejo a todos os TABANQUENSES DA TABANCA DO CENTRO E SEUS FAMILIARES, um FELIZ ANO NONO De 2023 com muita saúde e alegria e lhes mando muitos abraços e beijinhos cá dos jovens da FAMÍLIA MENDES DE LEIRIA.
Quanto ao local é bom, mas o preço corresponde à qualidade do produto. BOM.
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