UM ALMOÇO EM BAFATÁ
Ao remexer em coisas do passado descubro de repente uma fatura do restaurante “A Pinguin”, em Bafatá, de Outubro de 1972.
Vêm-me imediatamente à memória as “asneiras” que de vez em quando fazíamos e que, colocando as nossas vidas em risco, acabaram todas bem e sem problemas.
Naquele tempo comandava eu o Pel. Caç. Nat. 52 e estava, salvo o erro, no Destacamento da Ponte de Udunduma, (coisa de muito “luxo”), na estrada que liga o Xime a Bambadinca.
Ia por isso várias vezes a Bambadinca onde estava sediada a C. Caç. 12, comandada então pelo meu grande amigo Cap. Bordalo e os seus quatro Alferes, e onde, à volta de umas cervejas e uns whiskies, íamos rindo, galhofando, e acabando a guerra com ideias “brilhantes”.
Algumas vezes, (não foram muitas), entediados com a monotonia dos “procedimentos”, íamos buscar as G3 e outro armamento leve, e conduzidos pelo Cap Bordalo num jeep ou unimog, lá íamos os cinco até Bafatá, sozinhos, almoçar à Pinguin, comer o célebre “rancho”, ou os camarões do Geba, ou o que houvesse para comer.
Eram umas viagens um pouco loucas mas que, graças a Deus, sempre acabaram bem, embora o Comandante do Batalhão “desse por paus e pedras” com essas nossas aventuras; mas como já estávamos nas “africanas”, nada mais havia a fazer, e que raio, a gente fazia falta ao comando do Batalhão, que logo a seguir me enviou com o 52 para outro resort de luxo situado no Mato Cão.
Julgo que este almoço deve ter sido numa dessas saídas malucas, pois verifiquei tratar-se de um Domingo, e que um dos Alferes da 12 deveria estar de férias, porque pela fatura se percebe que eramos apenas quatro.
Enfim, histórias que não prejudicaram ninguém, mas nos davam um pouco mais de vida para suportar tudo aquilo.
É de reparar no valor total da refeição, 133 escudos, o que em moeda actual diz que gastámos a enorme quantia de quase 60 cêntimos (do euro…) num almoço para quatro!!!!
Lembro ainda que havia uma sobremesa na Pinguin, (curioso nome para um restaurante na Guiné, devia ser por ter gelados), que tinha o belo nome de “minete” e que julgo ser um gelado.
Aqui fica para a posteridade, certamente com algumas falhas de memória, mas no fundo retrata o que se passou.
Curiosamente tenho saudades!!!
Joaquim
Mexia Alves
4 comentários:
Bom dia amigo Mexia Alves.
Uma fortuna para a época, mas nos tempos que correm, dá para pouco, um café e não é em todos os estabelecimentos.
Boa recordação de sã camaradagem que não se esquece.
Um abraço amigo.
M Arminda Santos
Era comer beber e ainda tínhamos direito a charuto e uísque . Bem não sei onde ficava o pinguim mas no libanês era assim. Abraço
Pois é, Joaquim
Como dizes, por vezes era preciso fazer "coisas estranhas" para contrabalançar a (a)normalidade.
Coisas que nos fizessem lembrar o que se fazia, ou poderia fazer, se se estivesse em Portugal (continental, entenda-se).
Dentro desse tipo de atuação recordo um Furriel que, em Piche, no quartel, depois do banho, gostava de usar "Brut" e também uma "eau de toilette" que agora não recordo o nome. Claro que não ia assim para o mato...
Percebo muito bem o teu "desabafo" final de "curiosamente tenho saudades!!!"
Também eu!
Hélder Sousa
Meu caro Hélder.
Essa de ir para o mato perfumado não era boa ideia, diziam os nossos soldados fulas da minha CART11, o pessoal bandido apanhava o cheiro a manga de longe.
Mas o Pechincha, aquela peça que também conheceste, esquivava-se sempre de alinhar, principalmente em emboscadas nocturnas. Uma vez, não só foi todo encharcado em perfume por causa dos mosquitos, como levou, imagina, um relógio despertador de campainha externa. Escusado será dizer que antes de aparecer a claridade matinal eis que somos todos surpreendidos pelo despertador em alto tilintar. Está na hora de recolher ao Quartel, dizia ele, teve de ser assim por não haver corneteiro, adiantou. Mais uma de maluco, pensou ele.
Também não me lembro deste "Pinguim", lembro-me de restaurante à entrada de Bafatá quem vinha de Nova Lamego, que tinha a particularidade de ter dois menus, um deles com "Pratos da Metrópole" mais caro evidentemente.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
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