À laia de prefácio, diz-nos o Zé Belo, autor do texto:
Relendo
atentamente (!) o texto que cuidadosamente escrevi, em parte alguma encontro
algo de ofensivo, tanto para Portugal como para os nossos heróis da Guiné que…
foram muitos!
Aponto
unicamente páginas “negras” de alguns dos mais medalhados na busca de um justo
(!) contraste com medalhados que não recorrerem a procedimentos criminosos à
luz do Direito Internacional e suas Convenções, devidamente assumidas por
Portugal desde há muito.
Ao
considerar-se “fracturante” o separar-se “o trigo do joio “ mais não é que um
atestado de algo profundamente errado na sociedade envolvente.
Um
tipo de auto censura para não nos tonarmos inconvenientes.
E
as auto censuras, sob mais ou menos discretas pressões sociais, definem tipos
de sociedades não evolutivas.
José
Belo
HERÓIS… E HERÓIS
Tendo em conta a duração da guerra e o número de militares nela envolvidos nos 3 teatros de operações, foram muitos os actos de heroísmo nela praticados.
Como em todas as guerras alguns procedimentos criminosos terão existido
mas, pelo seu número e frequência, não foram representativos.
No caso da Guiné, elementos nativos integrados nas forças militares
portuguesas salientaram-se pela sua extraordinária coragem pessoal e dedicação
no cumprimento das missões que lhes foram atribuídas.
São inúmeros os militares portugueses que a eles devem a vida.
Infelizmente entre alguns dos medalhados, acções do maior heroísmo são acompanhadas por frequentes procedimentos dentro de uma área que legalmente se pode considerar abrangida por sevícias ou mesmo crimes de guerra.
Não só sevícias, a seu modo justificáveis por praticadas no calor dos
combates, como também praticadas a “frio” e em situações “resguardadas”.
O contraste com a generalidade do procedimento do PAIGC para com os prisioneiros portugueses foi marcante. Considerados pelo PAIGC como prisioneiros de guerra, foram tratados de acordo com as Convenções Internacionais.
O governo português não querendo caracterizar a situação na Guiné como uma
situação de guerra recusava-se a aplicar tais Convenções aos seus prisioneiros
o que permitiu uma impunidade quanto ao tratamento dos mesmos.
Impunidade que levou ao “desaparecimento” da maioria deles às mãos da
polícia política, das milícias e tropas especiais formadas por naturais da
Guiné.
O facto de estes actos serem praticados por naturais da Guiné ao
serviço de Portugal sobre outros guinéus, não deverá levar a considerá-los
menos graves, sob o perigo de uma “graduação” não aceitável por profundamente
racista nos seus fundamentos.
No contexto do Direito Internacional referente aos conflitos armados,
englobando as leis das Convenções de Haia e Genebra, Portugal sempre se
referenciou como um país respeitador das mesmas.
Especificamente, a Convenção de Genebra define normas para as leis
internacionais relativas ao Direito Humanitário Internacional que mais não são
que um conjunto de normas que procuram limitar os efeitos dos conflitos armados
tanto no respeitante a indivíduos como às populações não combatentes.
Tendo em conta as numerosas violações destas regras por alguns dos mais
representativos (e díspares) países da cena internacional, alguns mais
“pragmáticos” têm dificuldade em aceitar a existência de uma “moral
internacional” apoiada em princípios jurídicos.
Mas, com todas as reconhecidas limitações, é a única forma de defesa dos
verdadeiramente mais desprotegidos, sejam eles prisioneiros de guerra,
populações civis em áreas de combates, ou refugiados.
Uma nítida demarcação entre valores civilizacionais e a lei do mais forte.
4 comentários:
Ainda os…crimes de guerra.
A ser-me permitido,gostaria de salientar que o facto de compreender,e respeitar, alguns dos ideais das lutas dos povos pela sua autodeterminação,não sinto “necessidades interiores “ de dar palmadas nas costas de antigos inimigos com quem lutei de armas na mão.
Respeito por ideais não representa….amizade.
Não se pode,ou deve,escamotear alguns dos crimes de guerra do PAIGC mesmo que pontuais.
O assassinato dos Oficiais portugueses que no “Chão Manjaco “ negociavam com uma facção do PAIGC.
O assassinato dos graduados portugueses num Destacamento atacado pelos guerrilheiros,depois da população os ter denunciado.
O assassinato de um Oficial português em plena picada depois de ferido em combate.
Certamente que mais algum grave caso pontual terá existido, mas facto é que não faziam parte da praxis do PAIGC.
Os trágicos fuzilamentos dos Comandos Africanos já se tratam de crimes abrangidos por todo um outro contexto.
Procedimento extra judicial exercido por um governo soberano sobre os seus cidadãos.
Um abraço do J.Belo
Caro JBelo
Estas questões são, sempre, muito "susceptíveis"....
Certo, é que, aquando dos "nossos tempos" de infância, foram-nos incutidos os feitos e as imagens de vários "heróis".
Quase sempre "mártires". Lembro do Martim Moniz, entalado na porta do castelo de s. Jorge, do "Decepado", agarrando a bandeira com os dentes depois de ficar sem mãos. E muitos outros.
Em tempos mais recentes os "heróis" passaram a ser os que "matam muito e depressa".
Claro que também os há ("heróis") em desportos vários. No guarda-redes que defende o penalti decisivo, no jogador que marca o golo decisivo.
A minha grande dúvida é exatamente saber quem é "herói", o que o torna "herói".
Depois, talvez, possa ter alguma opinião mais consistente.
Abraço
Hélder Sousa
Caro Helder
É com melancolias várias que tenho que acabar por aceitar que os meus quarenta e tal anos de “distâncias” geográficas e,não menos importantes as outras,tornam de tal modo difícil comunicar o que busco com o meu texto.
Não é ,nem pretende ser,um texto quanto às definições etimológicas da palavra “herói”,assim como não é um texto de análise das ontologias que levam à formação do mesmo herói.
O texto busca unicamente separar muitos dos heróis que lutaram na Guiné,na maioria dos casos reconhecidos pelo seu procedimento,de outros que,apesar de reconhecidos e medalhados,recorreram a práticas criminosas para com o inimigo ou inimigos.
Infelizmente também os houve.
Não se torna necessário um curso aprofundado em moral para se conseguir distinguir actos praticados em ações de combate,de outros como as por alguns referidas orelhas inimigas guardadas em frascos com álcool.
Quando,para mais,quem as colecionava se orgulhava de o propagandear.
Tanto a referida moral como as Convenções Internacionais que detalhadamente abrangem tais situações deveriam facilitar-nos este separar o trigo do joio.
Os “resguardamentos”políticos em que alguns sempre acabam por se “embrulhar” não dão respostas a estas perguntas directas.
Porque no respeitante a crimes demonstrados(!) o acordo com o criminoso e com a sua vítima será uma redundância total.
Um abraço do J.Belo
..
Caro JBelo
Obrigado pelo teu complemento.
Devo dizer que as minhas questões não eram propriamente dirigidas ao artigo/texto em sim mesmo. Eram dirigidas ao "leitor anónimo".
Acho que hoje em dia se utilizam muitas palavras sem se aprofundar o seu real significado, usam-se por "moda". Um exemplo disso é a associação da palavra "liberdade" ao fim da obrigatoriedade do uso de máscara. Acho que pode ser ignorância mas mais possivelmente será para "abandalhar", para vulgarizar.
Abraço
Hélder Sousa
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