DA LAPÓNIA, COM QUASE… SAUDADE
Uma inocente história que leva à mistura militares de Abril e Novembro, a Praça Vermelha de Moscovo, Conferência do Conselho Mundial da Paz, somadas ao Conselho Superior de Disciplina do Exército, duas meninas com tanto de bonitas como de voluntariosas, noites de luar, enfim... uma verdadeira caldeirada de Peniche.
Estaríamos em 1977 ou 1978?
Enquanto aguardava (em casa) a decisão do Conselho Superior de Disciplina do Exército quanto à minha futura situação militar, continuava a receber mensalmente o meu soldo de Capitão de Infantaria.
Com pouco que fazer decidi contribuir nas actividades do Conselho Português para a Paz e Cooperação então presidido pelo Senhor General Costa Gomes.
Dele faziam parte intelectuais
representativos, socialistas politicamente activos e com importantes cargos
públicos, independentes, comunistas, jornalistas, escritores, sacerdotes, etc, etc.
As Conferências Internacionais multiplicavam-se um pouco por toda a parte - Europa Ocidental e Oriental, África, Médio Oriente, Ásia e América do Sul. Tive oportunidade de participar em algumas delas em países então bem exóticos e bem fora das rotas turísticas do Portugal de então.
No regresso de uma destas Conferências realizada na Índia e acompanhado por um outro então Capitão de Infantaria, fomos obrigados a passar quatro dias em Moscovo enquanto aguardávamos ligação aérea para Lisboa.
A viagem aérea tinha sido longa, cansativa e monótona. Chegámos ao hotel por volta das onze, de uma noite de verão em Moscovo, com temperatura agradável e uma incrível lua cheia.
Depois de demasiadas horas sentado em cadeira de avião apetecia-me “esticar as pernas”. O hotel, de seu nome Rússia, ficava a umas escassas centenas de metros da Praça Vermelha, do Kremlin e do mausoléu de Lenine.
Um silêncio total nas ruas e Praça Vermelha. Completamente desertas, exceptuando as sentinelas na entrada do Kremlin e junto ao túmulo de Lenine.
Vestido à “menino fino” lisboeta, de blazer e bem engravatado (uniforme muito útil em tais Conferências), encetei o meu passeio solitário pela Praça Vermelha. As enormes e bem polidas pedras da calçada que a cobria como que brilhavam à luz dos monumentos.
Com as mãos displicentemente nos bolsos considerava quantas tragédias e acontecimentos históricos aquelas pedras teriam presenciado ao longo dos séculos.
Sinto inesperadamente uma mão firme em cada braço.
Tendo em conta a hora, o local histórico e completamente deserto, de imediato pensei... o que é que terei feito? Depois de Custoias e outros presídios militares lá vou agora parar à Sibéria?
Olhando por cima do ombro verifiquei ter atrás de mim duas jovens, tão bonitas que “fazia doer”!
Num inglês primitivo e com fortíssima pronúncia russa uma delas disse: - “A hora tão tardia, sozinho, tão pensativo... certamente que tens problemas!”
Para mim pensei... problemas não tinha mas, aparentemente, vou tê-los!
Com um sorriso quente a outra menina afirmou convincente: - “Vamos ajudar-te quanto à tua solidão. Custa 40 dólares! Vinte para mim e vinte para a minha amiga. Amanhã acordas mais feliz!”
Tendo em conta que as “meninas” eram mesmo lindas, tais propostas feitas na madrugada a um pobre macho ibérico deviam ser proibidas!
Na Praça Vermelha deserta na madrugada? A 200 metros do mausoléu de Lenine? Frente às sentinelas do Kremlin? Como era esta situação minimamente possível?
Para mais, nesse ano, o dono do Kremlin ainda era o Senhor Brejenev, dirigente de “barba dura” se comparado com os que lhe sucederam no cargo.
Olhando em volta e quase instintivamente, resolvi regressar ao hotel... sozinho... acabando por ter que enfrentar as infindáveis gargalhadas do outro Capitão sentado no Bar do hotel…
Hoje, quase meio século depois desta história?
Pois...
Um abraço do
José Belo
5 comentários:
Caro J.Belo
Não posso adiantar-me muito em comentários a não ser, talvez, constatar que, uma vez militar, sempre militar e parece-me que perante a "situação no terreno", o quase desconhecimento do mesmo (mandam as regras militares que o combate deve ser travado onde queremos e não onde o inimigo determina), o que efetivamente foi feito foi uma "retirada estratégica".
Terá sido?
Abraço
Hélder Sousa
Diriam alguns machos latinos que foi uma retirada pouco honrosa, dirão outros, que foi estratégica face ao numero e armamento do inimigo que estava bem entrincheirado e em terreno bem conhecido.
Haveria sempre o perigo de ser um golpe de mão salvo o seja.
Há luz dos acontecimentos hoje sempre se poderá fazer uma análise mais profunda da situação.
Aguardemos talvez pelo o Nuno Rogério pessoa muito entendida sobre relações de forças.
José Belo espero que estejas bem e recebe um abraço
Meu caro amigo José Belo
Também me passeei por essa praça nos idos de 1998, salvo o erro, quando demandei Moscovo por causa de um Congresso Internacional de Termalismo.
Mas ia acompanhado pela minha Catarina pelo que as meninas não se aproximaram de mim!!!
Mas no Hotel onde ficámos havia umas quantas e uma delas tinha umas pernas quase tão altas como eu, passe o exagero!!!
Grande abraço
Joaquim
Caro José Belo
Aí vai poema, d'après Bécaud:
AS NATÁLIAS
La Place Rouge était vide
elles, avec ses cheveux blonds,
m'on pris les bras
j'ai souris...
d'un sourire jaune
avec l'invitation
d'un chocolat chaud...
mais je m'enfuis.
Natalinhas!...
____________
Ora,pois! Deux fois vingt dollars était beaucoup d'argent... e sabe-se lá o que aconteceria depois (ou mesmo antes).
Deixa lá. Há (havia...) mais marés que marinheiros. (TIDES...)
Abraço
Alberto Branquinho
”Todos os meus Amigos não são demais”
Um grande abraço do J.Belo
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