O ALCE
José Belo |
O
símbolo, aqui por todos aceite como sendo o mais representativo dos
suecos, é sem dúvida o Alce (alce, em sueco, diz-se älg; em inglês, moose).
Numa área 14 vezes
superior à portuguesa e com o mesmo número de população, compreende-se que
vastas extensões do território nada mais tenham que florestas, lagos, rios e
uma riquíssima fauna selvagem.
Em quantidade,
dispersão - e não menos em tamanho - os alces ocupam o primeiro lugar.
Existem, segundo cuidadosas estatísticas estatais, entre 300.000 a 400.000
alces nas florestas suecas. Em cota anual 100.000 são abatidos, tanto para
consumo da carne como para manter um nível saudável entre esta espécie. A cota
de 100.000 não é escolhida ao acaso mas antes por se ter em conta que em média
nascem cerca de 100.000 alces no ano seguinte.
Quanto ao consumo da
carne, as receitas tradicionais, que se perdem na noite dos tempos, muito para
além dos Vikings, são fantásticas.
Um animal adulto pesa
cerca de 700 quilos, tem mais de 2 metros de altura média e cerca de 3,5 metros
de comprimento. Tem pernas muito altas que lhe permitem deslocar-se com
relativa facilidade quando a neve é profunda.
Um adulto é maior que
um cavalo. Os cornos,que, ao contrário das renas, só os machos têm, crescem em
média 2,5 centímetros por dia (!). Atingem enorme dimensões quando os animais
têm entre os 6 e os 12 anos.
Colocados em cima da
cabeça de um tão alto animal ainda o tornam maior à vista.
Deslocam-se com
facilidade 30 quilómetros por dia. Ao correrem podem atingir os 60 km/hora.
Tendo uma
aparência pacífica, são bastante agressivos quando as fêmeas acompanham
crias, ou quando são surpreendidos na floresta.
Quando se dão contactos, e ao contrário do que se poderia esperar - tendo
em conta os enormes cornos (mais usados para combate entre machos) - é com as
longas patas frontais que escouceiam, rápida e violentamente em típico
movimento de "bicicleta". Com isto procuram atirar ao solo o homem,
cão, ou lobo, para depois o pisarem com os seus 700 quilos.
Quanto ao urso, procuram dentro do possível evitar o contacto. São os ursos que os buscam (de preferência animais velhos ou doentes). Devido ao peso dos ursos, são os cornos a arma então usada como defesa.
Ao imaginar-se um animal maior, mais alto e mais encorpado que um
cavalo, a inesperadamente escoucear com as patas da frente (!)
compreende-se que alguns destes encontros sejam fatais para os humanos (*).
Não são estes
encontros que em geral causam as mortes, mas sim os resultantes de
acidentes de viação quando os alces procuram, durante a noite, atravessar
estradas.
E estes acidentes, mortais para os humanos dentro das viaturas, são
muitos. Nas estatísticas oficiais é apresentado o número de humanos mortos em tais
acidentes no ano de 2017 como de 7.300 (!). Em média, em anos anteriores, os
números são semelhantes.
Parece impossível mas torna-se ainda mais grave ao considerar-se as estatísticas que mostram que a cada morto por acidente correspondem mais de seis casos com consequências clínicas graves do tipo paralisias, cegueira, etc,etc,etc.
O cinzento acastanhado da cor da pele destes animais torna-os muito difícil
de ver nas escuras, enevoadas e cheias de nevões noites escandinavas,mesmo com
os potentes faróis que aqui se usam.
Em outro detalhe
interessante,os olhos dos alces, ao contrário da maioria dos animais selvagens
frente aos faróis de um carro, não reflectem a luz dos mesmos.
As longas pernas do
animal colocam-no, em colisões a alta velocidade, não à altura dos
para-choques ou mesmo do motor, mas sim à altura do para-brisas contra o qual os
700 quilos são violentamente atirados, penetrando grande parte do corpo no
veículo.
É por tudo isto que
(para curiosidade e espanto dos turistas que visitam a Suécia vindos de
automóvel) ao longo de todas (!) as auto estradas suecas,e de ambos os lados
das mesmas,corre uma vedação em rede grossa com mais de 3 metros de altura para
deste modo procurar evitar, pelo menos nas auto-estradas, este tipo de
acidentes mortais.
Tendo em conta a área da Suécia e estando a mesma coberta de
auto-estradas, pode-se calcular o custo desta rede de protecção.
De qualquer modo estas "alimárias" sempre encontram maneira de enganar a rede, sejam elas junto a saídas da auto estrada, bombas de gasolina ou restaurantes, isto mesmo que as aberturas sejam mínimas.
É certo que os lusitanos já estarão a pensar que os sacanas dos suecos não querem mesmo que se entre nas auto-estradas sem se pagar!... Mas aqui elas são gratuitas... Ou, a ser-se mais concreto, a sua manutenção é paga pelos cidadãos ao Estado, anualmente, através dos impostos.
Mas, e com saudade do meu querido Portugal, pergunto-me :
Quantos metros de rede seriam retirados todas as noites para fazer capoeiras na minha santa terrinha?
Um grande abraço
José Belo
(*) Dêem uma saltada ao Youtube....Älg på Svanvik ....(também funciona com o teclado portuguës Alg pa Svanvik). Poderão aí ver como o alce procura escoucear o cäo com as patas fronteiras.
Num outro video colocado junto com o nome de Älgen på Utby pode-se
ver um alce calmamente a comer maçãs num quintal. É pena que não mostrem o que
acontece aos alces horas depois de comerem as maçãs,quando estas fermentam no
estômago do animal e o álcool lhes provoca bebedeiras que os fazem
movimentar-se como um Chaplin Bêbedo!)
10 comentários:
Boa noite camarigo José Belo. Gostei imenso do seu post, aliás como já tenho gostado de muitos outros. Mas hoje atrevo-me a escrever algumas palavras para além destas de saudação, para lhe lembrar que por cá as auto-estradas também têm redes protectoras para evifar que animais bravios, e agora que parace haver uma invasão de javalis, e não consta que existam roubos dees redes. Pode haver, porque no melhor pano cai a nódoa, mas devem ser casos muito raos. Um grande abraço e votos de muitas felicidades.
Sim senhor, sempre a aprender.
Com que então 700 kg? 3,5 metros de comprimento? Arre porra! e altos!
Já agora, os alces e renas são só típicos dessas paragens, verdade?
Os cervídeos, como os veados, também existem por aí ou são mais típicos do sul?
Hélder Sousa
Obrigado Zé Belo!
São Pacaças de Angola, são animais nobres, mais nobres que muitos ditos "humanos".
Grane abraço
Joaquim
Caro Camarada Carlos Pinheiro
Para quem vive há mais de quatro décadas demasiadamente longe, uma das maneiras de “manter raízes” é procurar não esquecer o humor lusitano.
Procuro usá-lo sempre que possível ,mesmo em trabalho jurídico e empresarial nos States (por muito incrível que isso possa parecer).
A minha referência à “rede para os galináceos” foi feita nesse espírito e nada mais.
Interessante a notícia quanto ao aumento do número de javalis em Portugal porque o mesmo tem sucedido na Escandinávia.
Nos últimos dois anos tem havido no Centro e Sul,tanto da Suécia como da Noruega,uma verdadeira “explosão” destes animais,tendo o número de javalis a serem abatidos (estabelecido anualmente pelo Departamento que regula a fauna selvagem na Suécia) passado dos vinte mil do ano anterior para trinta e dois mil em 2020.
Um abraço do J.Belo
Caro Helder
As nossas renas escandinavas só existem no extremo Norte da Península.
Os alces vivem em todo o território.
Veados e outros cervídeos vivem no Centro e Sul.
Os números referentes à fauna selvagem local podem parecer incríveis na sua grandeza.
Mas não se deve esquecer que a Suécia é geograficamente 14 vezes maior que Portugal,com um número de habitantes inferior.
O exemplo usado quanto à distância da fronteira norte sueca à fronteira sul ser igual à distância da fronteira sul sueca à cidade italiana de Milão,ajuda a compreender o “espaço livre “ que justifica a numerosa fauna selvagem.
(Um pouco como a praia do Tamariz do Estoril da minha juventude!)
Um abraço do J.Belo.
Meu Caro Joaquim
Concordo totalmente contigo quanto a animais serem mais nobres que muitos humanos.
Não me atrevo a escrever que os meus cães de trenó são mais nobres que muitos humanos....por não querer ofender as “alimárias”.
Um grande abraço
J.Belo
Caro J.Belo
Obrigado pelos esclarecimentos.
Mas devo dizer que a frase final "(Um pouco como a praia do Tamariz do Estoril da minha juventude!)" é então altamente reveladora de quanto estás em dia com o fino humor lusitano.
Um grande "bem haja".
HSousa
Li num escrito de curiosidades, que os Suecos tentaram criar no século VIII esquadrões de cavalaria com alces, dado serem mais corpulentos que os cavalos e utilizarem as suas grandes hastes em combate contra os soldados inimigos.
Parece que desistiram de por em prática tal ideia. Primeiro por os alces serem animais de grande entreajuda, logo a havendo algum ferido entre eles parariam para o ajudar, segundo a manutenção da sua habitual alimentação seria difícil manter e terceiro a dificuldade de domesticação ao ponto de se tornarem perigosos com os seus próprios soldados.
Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Queria dizer: no século XVIII
Caro Valdemar Silva.
Sendo animal corpulento e bem adaptado ao frio e a profunda neve no solo ,os lenhadores e os camponeses procuraram usar o alce como animal de trabalho mas sem bons resultados .
Os músculos dorsais e as longas pernas não suportam pesos de cargas.
Pelas mesmas razões não servem como montada.
(São animais com...sorte!)
São relativamente fáceis de ser domesticados quando nascidos em terrenos vedados e habituados à presença humana .
Usados como atração para turistas,em alguns locais podem ser montados por crianças.
No norte da Suécia ,alguns residentes em zonas mais isoladas ,conseguem fazer que estes animais se aproximem( mediante chamamento!) para comerem em baldes com maçãs colocados perto da casa.
Para os turistas no Verão é espectacular ver estes animais surgir da floresta para comer as maçãs.
(Estes oasis de Paz Bíblica existem junto das vastas Reservas Naturais.
Noutros locais,e na época de caça,os alces não vêem comer...maçãs!)
Quanto ao serem usados como cavalos de guerra foi mito medieval criado por “gente de fora “.
Um abraço do J.Belo
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