Ainda na continuidade
do texto do Joaquim Mexia Alves, recentemente publicado (ver aqui), veja-se como,
dependendo dos interesses pessoais de quem ouve, o resultado de uma conversa
pode ser completamente diferente… Um texto do Zé Belo.
OUTROS OUVINTES, OUTRA
REACÇÃO…
Regressado
de "fresco" do sul da Guiné fui colocado como instrutor no Regimento
das Caldas da Rainha.
Aí se encontravam cinco Tenentes oriundos da Arma de Engenharia que tinham
sido punidos e mobilizados para a Guiné.
O "crime" por eles cometido mais não fora o de terem usado
um direito legal de que dispunham dentro da instituição militar de, como
engenheiros já formados, pedirem a passagem à Reserva depois de um curto
período de serviço nas fileiras.
Poderemos pensar muitas coisas quanto ao facto de estes camaradas se
servirem da instituição militar para tirar gratuitamente o seu curso de
Engenharia e, depois de curto espaço de tempo, o quererem vir a usar
exclusivamente na sociedade civil.
Mas o facto é que a lei que lhes dava tal direito existia então e tinha
sido utilizada por muitos outros engenheiros militares em períodos anteriores.
As autoridades de então decidiram castigá-los pelo requerimento (legal, e repetindo-me,
pense-se o que se pense do mesmo).
Foram compulsivamente transferidos para a Arma de Infantaria e de imediato
mobilizados para a Guiné como Tenentes Atiradores.
Foi nessa situação que os encontrei e, sentados um fim de tarde na messe de
oficiais do Regimento, tive oportunidade de responder às inúmeras perguntas que
tinham quanto à situação militar da Guiné no início dos anos setenta.
Não os conhecendo pessoalmente e tendo em conta os tempos que então se viviam,
recordo não ter feito qualquer comentário pessoal quanto ao que pensava sobre a
guerra da Guiné, limitando-me a responder o mais factualmente que sabia às
inúmeras e mais variadas perguntas que me iam sendo postas.
Curto tempo depois desta nossa conversa sou informado por outros camaradas
que os Tenentes se tinham ausentado ilegalmente do país, encontrando-se alguns
em França e outros na Suécia.
O mundo é pequeno nas suas voltas e, depois do meu pedido de passagem à
Reserva em fins dos anos setenta, com mudança definitiva para a Suécia, vim a
encontrar em Estocolmo um destes senhores Engenheiros, então casado com uma
senhora funcionária superior do nosso Consulado.
Foi um curtíssimo encontro no aeroporto de Estocolmo, não tendo eu tido a
oportunidade de colocar a pergunta que ainda hoje me ponho: …Até que ponto as
minhas respostas às perguntas detalhadas que me colocaram terão sido uma
das "gotas finais" nas decisões que tomaram?
Tempos depois dá-se a revolta do Regimento das Caldas e... o resto são
histórias da nossa História.
Estes então jovens tenentes terão, muito ao contrário da personagem da
história do Joaquim, sabido ouvir.
Só que, talvez, só tenham ouvido o que queriam ouvir!
Um grande abraço desde a Lapónia Sueca
José Belo
3 comentários:
Olá Zé Belo!
Mas não será quase sempre assim?
Cada um 'ouve' ou 'vê' aquilo que quer ver e ouvir, na perspectiva que mais lhe convém!
Portanto.... "nada de novo na frente ocidental"!
Olha, neste preciso momento estou a ver na televisão as cerimónias da comemoração do centenário da Batalha de La Lys.
Uma cerimónia justa e necessária.
Dizem que Portugal é (será) o único País que comemora uma derrota! Não importa, desde que a dignidade esteja presente.
Confesso que me emocionei ao ouvir cerca de 80 crianças francesas cantarem "A Portuguesa" quase, quase, correctamente em termos de pronúncia, mas muito bem quanto ao resto e bem melhor do que tenho ouvido em outras circunstâncias.
Um forte abraço, amigo José.
Hélder Sousa
Meu caro José Belo
Apetece-me dizer como o alentejano da anedota: "Devem ser engenhêros"!!!
Grande abraço
Joaquim
Boa tarde Camarigo José Belo
É sempre um prazer "encontrá-lo" graças as modernices que hoje nos deixam "saltar" no tempo e no espaço.
Em termos de comentário "fico-me" entre o que já escreveram o Hélder Sousa e o Joaquim Mexia Alves.
Estou convencido que os "engenhêros" deram o salto das Caldas da Raínha depois de ouvirem as histórias do José Belo...que bem gostaria de um dia encontrar frente às Torres do "meu" Mosteiro de Alcobaça.
Grande abraço e bora viver.
JERO
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