O “NHACA”
O
soldado-atirador nº. 2226/63, António Machado de seu nome, era mais conhecido na
Companhia por “Nhaca”, sendo, entre várias coisas, aprendiz de enfermeiro nas
horas vagas.
O "Nhaca" |
A
seu respeito ficaram algumas histórias, esbatidas pelo tempo, que recordamos
com o auxílio do “Diário” da C.Caç. 675.
Para
já, deve referir-se a maneira curiosa como se iniciou para as “medicinas”. Era
um cliente tão assíduo do posto de socorros – era certo e sabido que depois do
toque a doentes o Machado lá estava a pedir a sua aspirina diária para as dores
de cabeça – que um dia foi convidado a ficar, passando de “doente profissional”
a curioso da enfermagem.
E
não se pode dizer que o Machado não tivesse habilidade e não fosse útil,
despachando a preceito e com rapidez os pensos que se reconheciam estar já ao
alcance dos seus conhecimentos, embora por vezes os seus ares “doutorais” não
fossem muito bem aceites pelos fregueses do posto de socorros.
Alguns
conflitos com o cabo enfermeiro Martins, que não simpatizava muito com o Nhaca,
levaram-no a afastar-se temporariamente… mas a sua boa vontade e gosto pela
enfermagem faziam-no voltar a aparecer principalmente quando o seu “amigo”
Martins não estava ao serviço.
Assim aconteceu mais uma vez em Guidage (na fronteira da Guiné com o Senegal), onde esteva instalado temporariamente o pelotão a que pertencia. Quando o cabo enfermeiro Adelino substituiu o Martins, o nosso amigo Machado voltou a ser “ajudante de enfermeiro” e a fazer valer os seus dotes e saberes, repetindo com frequência aos nativos que acorriam ao posto de socorros o seu nome e “posto”, já que a “especialidade” era rendosa pois em troca de uma injeção os doentes do Senegal traziam uma galinha, o que reforçava a sua alimentação.
Assim aconteceu mais uma vez em Guidage (na fronteira da Guiné com o Senegal), onde esteva instalado temporariamente o pelotão a que pertencia. Quando o cabo enfermeiro Adelino substituiu o Martins, o nosso amigo Machado voltou a ser “ajudante de enfermeiro” e a fazer valer os seus dotes e saberes, repetindo com frequência aos nativos que acorriam ao posto de socorros o seu nome e “posto”, já que a “especialidade” era rendosa pois em troca de uma injeção os doentes do Senegal traziam uma galinha, o que reforçava a sua alimentação.
O anterior
enfermeiro teve “lucros” tais que chegou a fazer uma capoeira normalmente
sempre bem recheada de galinhas senegalesas.
Assim
o “Doutor” António Machado passou a ser mais conhecido entre a população nativa,
com direito a ter quase todos os dias “rancho” melhorado.
Até
que um dia – há sempre um dia – houve tanta gente no posto de enfermagem que o
Machado foi encarregado de, além dos pensos, dar duas ou três injeções de hidromicina,
que ele despachou com ligeireza.
Terminada a consulta e quando se limpavam as seringas para serem de novo fervidas, verificou-se faltar uma agulha de injeções intramusculares.
Terminada a consulta e quando se limpavam as seringas para serem de novo fervidas, verificou-se faltar uma agulha de injeções intramusculares.
O
Machado teve um sobressalto, bateu com mão na testa, e sem dizer palavra saiu
disparado do posto de socorros.
Um
sprint de 200 metros e eis que o nosso “enfermeiro” volta cansado mas com a
agulha em falta recuperada por ter seguido indevidamente na nádega de uma
bajuda (rapariga jovem).
Ficou
tudo certo no material sanitário mas o “prestígio” do Machado saiu da história
um pouco abalado embora alguns o consolassem dizendo-lhe que azares daqueles
acontecem aos melhores, sendo conhecidas histórias de médicos cirurgiões que se
esqueceram de pinças e tesouras nas entranhas dos seus pacientes.
E
o Machado voltou a fazer enfermagem embora se dedicasse a partir dessa altura a
fazer mais pensos e seus “derivados”, com algum prejuízo para o stock das “suas”
galinhas que lhe chegavam do outro lado da fronteira.
Mas não deixou a sua fama e proveito por “mãos alheias”. E aqui é recordado mais de
meio século depois da sua passagem pela Guiné (1964-66), o soldado-atirador nº.
2226/63, António Machado de seu nome. Mais conhecido por “Nhaca”.
JERO
2 comentários:
Grande história no meio da História!
Um abraço José Eduardo
Joaquim
Gostei da estorinha.
. Não gostava era de estar na situação da "bajuda".
Coisas da tropa e de um aprendiz de enfermeiro.
Um abraço amigo, JERO.
M Arminda
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