CONTO
DE NATAL 2017
Faltavam
dois dias para o Natal.
Ao
pensar nisso uma tristeza imensa tomou conta dele, porque sabia que seria já o
segundo Natal sem o seu filho.
A
última discussão por causa da vida de drogas sem sentido que o filho levava
tinha chegado a um tal extremo que o filho tinha saído de casa, e ele, pai,
nada tinha feito para o impedir.
Queria
convencer-se de que fora melhor assim, porque o filho tinha que ser confrontado
com a realidade da vida, e, se ele continuasse a sustentar-lhe aquele vício, o
fim, com certeza, não estaria longe.
Mas
vivia atormentado pela ausência do filho, (nunca mais o tinha visto ou falado
com ele nos últimos dois anos), pelo medo de ter errado na sua decisão, e
também porque via a sua mulher definhar em tristeza todos os dias, com a
ausência total daquele seu filho único.
Absorto
nos seus pensamentos, guiava como um autómato, e por isso só no último momento deu
conta da mulher que atravessava a rua na passadeira de peões.
Deu uma
guinada repentina com o volante e foi bater com grande violência num poste de
iluminação na berma da rua.
Apercebeu-se
de imediato que o acidente tinha sido muito grave, sobretudo para ele, porque
sentiu-se coberto do seu sangue, perdendo rapidamente a consciência.
Um
estranho vazio tomou conta dele e percebeu que ouvia umas vozes, mas nada
conseguia entender e também não conseguia abrir os olhos, não conseguia
acordar, enfim, era mesmo um vazio imenso que ele sentia profundamente em todo
o seu ser.
Neste
espaço de tempo, sem tempo, (para ele), ouviu a certa altura, nitidamente, a
palavra Natal, e percebeu que já conseguia abrir os olhos, que estava agora “acordado”!
Abriu então
os olhos e encontrou logo à sua direita a cara sorridente da sua mulher, que
lhe agarrava numa mão, e percebeu-se deitado numa cama de hospital.
Achou
no entanto muito estranho aquele sorriso tão rasgado da sua mulher.
Com o
seu olhar perguntava-lhe insistentemente a razão de tal sorriso, e reparou
então que ela olhava para si e logo de seguida para o seu lado esquerdo.
Voltou
a cabeça com alguma dificuldade, e o seu olhar encontrou o olhar do seu filho,
que, com lágrimas nos olhos e inclinando-se para ele, lhe disse ao ouvido: "Desculpa, pai, desculpa."
O filho
olhou para ele e respondeu: "É noite de Natal, pai, e estás no hospital há dois
dias!"
Fechou
os olhos e interiormente disse com o coração: "Obrigado Jesus, pela mais bela
prenda de Natal que me podias dar". Depois,
apertando com mais força a mão da sua mulher, pediu ao seu filho que se
inclinasse para ele, e dando-lhe um beijo terno na testa, disse: "Feliz Natal,
meu filho, Feliz Natal!"
Marinha Grande,
19 de Dezembro de
2017
Joaquim Mexia Alves
1 comentário:
Comovente, sem dúvida.
Ficção? Talvez.... mas lá que tem correspondência em muitas realidades, isso tem.
Um abraço, Joaquim.
Hélder Sousa
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