Li com grande interesse o
Poste 16801 publicado recentemente no Blogue “Luís Graça & Camaradas da
Guiné” em que o nosso camarada Beja Santos faz uma apreciação do livro “Ten General
Alípio Tomé Pinto, o Capitão do Quadrado”, uma biografia da autoria de Sarah
Adamopoulos.
E chamou-me particular atenção uma frase, quando se refere os ferimentos sofridos por aquele oficial, atingido no decorrer de uma emboscada pelos estilhaços de uma morteirada mal dirigida: “Tomé Pinto cai ferido, o furriel enfermeiro estanca-lhe a hemorragia, pede-se a evacuação”*.
E chamou-me particular atenção uma frase, quando se refere os ferimentos sofridos por aquele oficial, atingido no decorrer de uma emboscada pelos estilhaços de uma morteirada mal dirigida: “Tomé Pinto cai ferido, o furriel enfermeiro estanca-lhe a hemorragia, pede-se a evacuação”*.
Esta frase transporta-me de
imediato para aquela situação vivida no já longínquo dia 5 de Agosto de 1964,
sobre a qual tive a oportunidade de escrever um texto que está incluído no meu
livro “Golpes de Mão’s”. É que, curiosamente o furriel enfermeiro acima
referido… sou eu, José Eduardo Reis de Oliveira, natural e residente
desde 4 de Abril de 1940 em Alcobaça, onde a maioria das gentes me conhece por
JERO.
Por isso aqui fica o que então escrevi sobre aquele dia…
O CAPITÃO DE BINTA
Quarenta e alguns anos depois...
Para quem viveu a patrulha de Santancoto de 5
de Agosto de 1964 a imagem dos homens de camuflado a chorar... ficou para toda
a vida.
Passei a maior parte desses compridos minutos
junto do capitão por «dever de ofício». Era o Furriel Enfermeiro.
A esta distância no tempo consigo brincar um
pouco com a situação. O meu Capitão não era um doente fácil pois recusava-se a
tomar sedativos que lhe aliviariam as dores... sendo certo que eu, na altura,
não lhe conseguia arranjar nem sossego nem tranquilidade...
O barulho era ensurdecedor e o doente continuava (felizmente) a dar ordens e... não parava de comandar.
Cap. Tomé Pinto (1964) |
«...Com frequência, soldados abeiravam-se
do Unimog onde seguia o nosso Capitão perguntando pelo seu estado, não
conseguindo ocultar uma lágrima teimosa que descia pelos seus rostos sujos de
terra e suor.»
Vinte e nove anos depois destes acontecimentos
tive a felicidade de estar numa homenagem ao General Tomé Pinto na terra da sua
naturalidade.
Se a memória não me falha... em 4 de Abril de
1993 o Cine-Teatro de Torre de Moncorvo rebentava pelas costuras.
Falaram ex-militares de outras Companhias, que
tinha servido sob as suas ordens .
Quando subi ao palco para falar em nome da «675» o «Capitão de Binta» sabia que... eu ia falar da Patrulha de Santancoto.
Foi um momento de grande cumplicidade e, no que
me diz respeito, de grande emoção. Quando não me deu um enfarte dessa vez...
Quando no final o General Tomé Pinto agradeceu,
leu um longo discurso, que previamente tinha preparado, para não correr o risco
de esquecer alguém.
Quando chegou à vez da «675» já lá estava escrito tudo que tinha acontecido nos minutos anteriores... Dava a ideia que tinha feito o discurso de agradecimento naquele mesmo momento!
Também importa recordar que aqueles momentos
vividos em 5 de Agosto de 1964, em cima da viatura da «Breda», nos aproximaram
para toda a vida...
Era um mau doente mas... um grande Comandante. Transmontano,
com tudo o que isso quer dizer: valente, determinado, antes quebrar que torcer.
José
Eduardo Reis de Oliveira
(JERO)
(*) Extracto reproduzido
com a devida vénia ao nosso camarada Beja Santos e ao blogue “Luís Graça &
Camaradas da Guiné”, onde o texto foi publicado.
2 comentários:
As décadas väo passando e o ano é já 2017.
Quem nos diria ,nos nossos verdes anos, que tudo o que por lá aconteceu nos iria acompanhar intensamente... até ao fim dos nossos dias.
Um grande abraco ao Jero e restantes Camaradas.
José Belo
Boa noite caro Amigo José Belo
Grato pela simpatia do comentário. Na verdade já temos tanta juventude acumulada que há assuntos que parece que aconteceram com "outros"...
Memórias de meio século !!!
Grande abraço e Feliz 2017
JERO
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