JÁ LÁ VÃO 48 ANOS!
Como recordar é viver, há dias que nunca esqueceremos, e o dia 23 de Outubro de
1968 é um desses dias.
Era meio-dia em ponto
quando o UÍGE silvou várias vezes a querer dizer que estava pronto para mais
uma viagem, como Transporte de Tropas para a Guerra Colonial, neste caso para a
Guiné.
O pessoal, de onde se destaca o Batalhão de Caçadores
2856 do RI 15 de Tomar, um Pelotão da Policia Militar e inúmeros militares em
rendição individual, já tinha embarcado ao som de marchas militares. Os
cumprimentos oficiais, da praxe, já tinham sido feitos. As escadas já tinham
sido retiradas. O cordame também já tinha sido recolhido. E os dois
rebocadores, que o haviam de levar até ao meio do Tejo, já estavam a postos.
No cais a multidão ainda era imensa. Os lenços brancos
acenavam das varandas da gare a corresponder aos lenços que das amuradas do
barco também acenavam. Eram as despedidas.
A banda militar estava a acabar os seus acordes e o
UÍGE lá se encaminhou para o melhor local do Tejo para iniciar mais uma viagem
de 5 dias até às terras da Guiné. Depois foi o passar sob a Ponte Salazar a
caminho do Oceano e tudo isso pareceu muito rápido.
Depois foram cinco dias de
mar e céu, com mais ou menos acompanhamento dos chamados peixes voadores, a
passagem relativamente perto das Canárias e a chegada ao largo de Bissau a 28
de Outubro.
Foram só cinco dias, mas dias inesquecíveis. E como a
maioria viajou nos porões, nessas grandes caves fechadas de onde só se via a
luz do dia pela buraco por onde entrávamos, nem vale a pena dizer nada sobre
essas “maravilhosas” acomodações. O ambiente era irrespirável. Mas era o que
tínhamos. E lá aguentámos tudo aquilo.
Foi um bom princípio, sem dúvida, para o que nos
estava guardado. Depois, bem depois, foram mais de vinte e cinco meses,
passados todos naquela terra quente e húmida que, ao fim deste tempo todo,
nunca mais consegue encontrar uma paz duradoura a que tem direito e de que
tanto precisa.
Carlos Pinheiro
2 comentários:
Originário de Tomar, embarquei no Niassa no dia 1 de Maio de 1968 com o meu Pelotão de Canhões s/recuo 2054. Seguiu também o 2053.
As condições de viagem com certeza não diferiam muito de um barco para outro.
São datas que para sempre recordamos.
Um abraço a todos os camaradas
Caro amigo e camarada.
É sempre com muita admiração e alguma emoção, que leio relatos com o que acaba de descrever.
Devia ser muito penosa, a viagem nessas condições.
Felizmente, que depois de passar todos esses meses num ambiente adverso, pôde regressar e hoje dar-nos o seu testemunho.
Um obrigada.
Um abraço.
M Arminda
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