MOMENTOS
DIFÍCEIS… QUE NÃO MAIS SE ESQUECEM!
Com pouco mais de 18 anos fui colocado no Tribunal da Covilhã e, com pouco mais de um mês de funcionário da Instrução Preparatória, “calhou-me” a primeira autópsia da minha carreira. Na aldeia de Teixoso, com a fama e o proveito de crimes violentos por causa dos regos de água, que eram disputados por diversos agricultores, tinha-se registado uma morte por agressão violenta à sacholada.
O
meu papel era estar junto dos peritos médicos que realizavam a autópsia e
anotar a descrição dos ferimentos e causa da morte. Os ruídos dos instrumentos
médicos que retalhavam o corpo da vítima ficaram-me nos ouvidos durante meses. Além dos dois médicos estava comigo um represente do Delegado do Procurador da
República – ao tempo um estagiário com a categoria de Sub-Delegado, e a quem
calhava também a primeira autópsia da sua vida.
Quando a autópsia acabou
estávamos os dois “brancos como a cal das paredes do cemitério” e lembro-me de
termos tomado juntos, na taberna mais próxima, uma forte aguardente para
recuperar do mau bocado porque tínhamos passado.
Uns
meses passados “calhou-me” o 2ª. capítulo deste grave delito do Teixoso, com a
reconstituição do crime no local da disputa dos trágicos regos de água, que
tanto sangue já tinham feito correr.
Como era o funcionário mais novo fui “praxado” com o papel de “morto”. Lá tive que me deitar no chão e, depois de várias inquirições a testemunhas por parte de magistrados e advogados, terminou a minha actuação, onde entrei mudo e saí calado.
Como era o funcionário mais novo fui “praxado” com o papel de “morto”. Lá tive que me deitar no chão e, depois de várias inquirições a testemunhas por parte de magistrados e advogados, terminou a minha actuação, onde entrei mudo e saí calado.
Um oficial de diligências
presente na diligência gozou comigo e gritou-me: «Levanta-te lá “ó morto”, que
o julgamento vai continuar no Tribunal». Não
consegui evitar um sorriso e quando me levantei, respondi-lhe: «Morto é a tua
prima”.
O
que eu fui dizer! Estava por perto a mãe do verdadeiro morto que, com lágrimas
na voz me repreendeu em alta voz: «Você ri-se mas o meu filho nunca mais se
levantou desse lugar onde está.»
Foi
momento embaraçoso e difícil com que acabei de forma pouco feliz a minha
actuação na diligência.
Socorrendo-me
da linguagem desportiva foi um autêntico “cartão amarelo”, que não mais
esqueci.
JERO
3 comentários:
Às vezes acontece.
Só nos apercebemos de que devíamos ter a boca fechada, depois de aberta.
Fica o amarelo, e lago a ti que és "vermelho".
Pois... de facto...
Caro Jero
De facto, foi uma situação lamentável.
Mas, como se costuma dizer, "só acontece aos melhores"...
Muitas vezes temos gestos ou expressões impulsivas, em que não temos em conta o enquadramento, e depois da 'pedra atirada' a mesma já não volta atrás.
Referes aí Teixoso. Podia ser para mim apenas um nome, já que nunca fui para esses lados mas, por acaso, trata-se da terra do Padre, Capelão do BCAV 2922, onde estive uns 6 meses, em Piche, e como ele falava bastante da terra o seu acaba por me ser familiar.
Abraço
Hélder S.
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