domingo, 18 de maio de 2014

P491: DO MANUEL MAIA - 12



O CARECA, O SABIDÃO, O CURTIDO, O HOMEM
QUE TINHA JOGADO EM TODOS OS CLUBES
DO RIO DE JANEIRO

Corria o ano 72,estava em em Bissum/Naga, e recordo ter lido num jornal desportivo (“A Bola”) um artigo duma mordacidade fabulosa  que me fez rir sem parar até ficar sem fôlego e com as lágrimas a soltarem-se em catadupa...
E não fui só eu, aos que estavam comigo aconteceu a mesmíssima coisa.

Vou fazer um exercício de memória para tentar fidelizar o mais possível o artigo em questão...

Era comum naquele tempo os jogadores de nomeada percorrerem os clubes descendo de escalão consoante a idade ia avançando, usando cada vez mais a ronha e vários tipos de habilidades para se perpetuarem no "métier"...

O jogo estava para começar e era de importância vital para a equipa da casa que não poderia perder pois desceria de divisão...

Inicia-se o encontro e a determinada altura um jogador forasteiro entrou a driblar na área e fez um golo de belo efeito...

O árbitro não podia anulá-lo...

O tempo vai passando e a equipa da casa, que não poderia perder, ia ficando desorientada com os seus jogadores a cometerem faltas sobre faltas que o árbitro na maioria das vezes ignorava...

O capitão abeirando-se do árbitro disse-lhe:  - Como é sr. árbitro?

O capitão era o único elemento da equipa que tinha estado num jantar/reunião com dois dirigentes do clube e o árbitro do jogo, no dia que antecedera o dérby...

O árbitro disse-lhe:

- Atire-se para o chão...

O tempo ia passando, o capitão entra na área adversária e de repente, sem intervenção de nenhum jogador da outra equipa, joga-se no chão com algum aparato...

Trrrriu, Trrrriu ...

O jogo parou e para espanto de todos, menos do capitão caído, o árbitro assinalou grande penalidade...

Chovem os protestos fora e dentro do campo, mas o árbitro, inflexível, assinala o castigo máximo e mostra vários cartões amarelos a jogadores forasteiros protestantes...

Bola na marca e surge o careca, o sabidão, o curtido, o homem que tinha jogado em todos os clubes do Rio de Janeiro para proceder à marcação do castigo máximo...

Parte para a bola, dispara… e bola para fora...

Ouve-se um enorme bruá, e entretanto o tempo vai passando com a equipa da casa numa aflição tamanha...

Os adeptos roem as unhas e assobiam os falhanços dos seus jogadores...

Atingem-se os dez minutos finais e o capitão da equipa da casa abeira-se de novo do árbitro dizendo-lhe: - Como é sr. árbitro ?

- Atire-se para o chão! segredou-lhe...

O capitão momentos depois encosta-se a um adversário em jogada sem bola e cai espalhafatosamente...

Ouvem-se algumas gargalhadas na bancada da própria equipa visitada...

Trrrrrriu, trrrrrrriu...

O árbitro corre para a marca da grande penalidade... desta vez os protestos da equipa forasteira já são bastante ténues...

O homem do apito coloca a bola na marca da grande penalidade, e o careca, o sabidão, o curtido que tinha jogado em todos os clubes do Rio de Janeiro, foi ajeitar mais um bocadinho a chincha...

Recua, parte para a bola e dispara...

Desta vez foi para o lado contrário e novamente para fora a uns bons dois metros do poste...

Ouve-se um bruá ainda maior os assistentes roem as unhas, gritam, esbracejam, gesticulam...

O desânimo é a expressão comum em todos os rostos, dos jogadores aos adeptos...

Entra-se no último minuto do jogo e o capitão, abeirando-se do árbitro,  diz-lhe:

- Então sr. árbitro ?

- Atire-se para o chão, ordena-lhe o juiz...

Ainda a uns bons três a quatro metros da linha delimitadora da grande área forasteira, o capitão da casa estatelou-se...

Trrrrriu, trrrrrrrrrrrrrriu.

Uma  estridente  apitadela do árbitro e a equipa forasteira já nem protesta, ao ponto de ser um seu jogador a ir colocar a bola no local de marcação...

Gargalhada geral, dentro e fora do campo...

A marcação do penalty será o fim do jogo que permitindo o empate à equipa da casa evitará a sua descida...

Apresta-se o careca, o sabidão, o curtido, o homem que tinha jogado em todos os clubes do Rio de Janeiro para marcar a penalidade, quando o árbitro grita:

- Não, esse não!

É que a equipa da casa comprara o árbitro mas a forasteira subornara o careca, o sabidão, o curtido, o homem que jogara em todos os clubes do Rio de Janeiro...

Manuel Maia

6 comentários:

Anónimo disse...

Excelente "estória", Manel. Passando o exagero da dita quase que podia jurar que nos tempos actuais se passam coisas parecidas, eventualmente com outras nuances. Até porque consta que em alguns clubes da 1ª. divisão se treinam maneiras de cair para enganar o árbitro.E com campos relvados é cada vez fácil cair sem aleijar o fundo das costas...Abraço, Manel, e venham mais "estórias"...JERO

Anónimo disse...

Está engraçada a historieta, que em algumas partidas acontece. Pena foi que na final da Taça em que o Benfica "foi roubado", não tivesse aparecido do lado do adversário, um que atirasse todas as bolas para fora! Mas ficaram com 3 Taças o que foi um grande feito. Eu não sou benfiquista, mas o valor dá-se a quem o merece!.. Um abraço. Mª Arminda

Hélder Valério disse...

Pois é..... práticas velhas, situações novas... ou melhor, renovadas!

Abraço
Hélder Sousa

Anónimo disse...

É sempre um prazer ler o "Manel"

Cá está um senhor do apito que via "demasiado" ao contrário do outro "safado" do alemão que não via a ponta de um "penalti"

Abraço amigo.

Vasco A. R. da Gama

Joaquim Mexia Alves disse...

Esta faz lembrar uma imagem mais ou menos recente de um jogador de um equipa que pega no braço de um jogador da outra equipa e faz com que ele lhe bata na cara, para depois se atirar para o chão com grande aparato!

Aldrabões hão-de existir sempre!
Também se não existissem não tinha tanta graça!!!

Grande abraço Manel.

Anónimo disse...

O tempo passa, mas as histórias vão sendo as mesmas.
Então sr. árbitro?!?!
Um abraço para o Maia,
BS