quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

P416: DAS MEMÓRIAS DO JERO

Do blogue do JERO, http://jeroalcoa.blogspot.pt/ , "respingámos" (com a devida vénia) este texto recentemente ali publicado. Regozijamo-nos com este novo fôlego do referido blogue, com vários textos apresentados nestes últimos dias, passada a sobrecarga de trabalho que a publicação do seu último livro ("Memórias de Quarenta") representou para este nosso camarigo. E, neste caso particular, esta sua conversa pode ser um bom "abrir de olhos" para aqueles nossos camaradas que pensam que afinal não estivemos a fazer lá nada. É pena que esse nosso esforço desenvolvido naquele tempo de guerra não tinha tido posteriormente a continuidade que merecia...


STRESSES


"O stress de guerra é contagioso e crónico", como afirmam especialistas.
A quarenta e tal anos da minha passagem pela guerra alguns dos meus stresses de paz sobrepõem-se ainda aos de guerra…
Vivi em tempo em guerra uma experiência comunitária tão intensa e tão próxima de uma sociedade perfeita que nunca mais encontrei nada parecido.
Refiro-me, obviamente, à sociedade dita normal, em que tive de me integrar depois do regresso da guerra em 1966.
A minha experiência comunitária foi ainda muito marcado por um chefe. Também não voltei a encontrar ninguém do seu gabarito nos quarenta e tal anos seguintes…


No Norte da Guiné, em Binta e sua região, criámos uma comunidade «ancorada» numa unidade militar que (re)fez uma aldeia, onde chegaram a viver cerca de mil pessoas. E…mais importante que tudo, ajudámos as populações. Assegurámos-lhes condições de vida que, talvez, nunca tivessem tido anteriormente. E que, na actualidade estão infelizmente longe de ter.
Quando saímos de Binta tivemos direito a lágrimas de saudade dos que ficaram.
Tínhamos sido importantes para eles e para nós próprios.
O último ano em Binta aconteceu n’outro mundo! Quase que tínhamos esquecido o mundo para onde regressámos em Maio de 1966!


Quando regressámos à Metrópole e à vida civil chocámos com um mundo onde a nossa importância anterior rapidamente se esbateu.
Já estava tudo feito - éramos apenas um pequeno parafuso de uma máquina gigantesca que girava sem cessar – e à nossa volta já não tínhamos a malta da Companhia. Todos tinham partido para as suas vidas. Para longe.
O tempo…o passar dos anos… atenuou as memórias daquele tempo excepcional.
Mais tarde, muito mais tarde…na idade do condor, maduros pela passagem dos anos e com netos por perto…percebemos que…afinal a guerra, a nossa guerra foi uma experiência única quando conseguimos construir a paz.
Se calhar fomos uns privilegiados. Nós conseguimos com as mãos que fizemos a guerra fazer também a paz!
Essa experiência única nas nossas vidas perdura ainda.
Não foi fácil ultrapassar o streess da paz…mas conseguimos.
Por alguma razão o emblema da Companhia referia que a 675 nunca cederá.
Não cedeu.
Em Binta….no Norte da Guiné…vivemos alguns dos melhores tempos da nossa vida. Lá longe…junto ao Cacheu… nos idos de 60!


Passou quase meio século. E ainda “volto lá”…vezes sem conta!!!

                                                          JERO

2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Jero, ao ler esta sua descrição, senti-me um pouco como o amigo.Estivemos na guerra, principalmente mais numa missão de paz e que muitos teimam em não entender e dar-lhe o justo apreço. Vá-nos contando (esses estados de alma), por que passou que nós gostamos de ler. Um abraço. Mª Arminda

joaquim disse...

O Jero e as suas palavras sentidas e vividas!

Um abraço amigo