Nota prévia: Para ver as minhas histórias anteriores basta ir a estes links:
Parte 2 - http://tabancadocentro.blogspot.com/2011/12/aventuras-de-uma-nota-de-10-euros-2.html
Aconchegada no bolso do blusão do Vasco preparo-me para a viagem de automóvel que há-de levar-nos a Monte Real. Como já referi anteriormente estou expectante sobre o que vai ser o meu futuro e receio afastar-me de vez deste pessoal. Mas não ganho muito em pensar nisso agora e o melhor é, do meu abrigo, ir apreciando a viagem. Começo por inspirar o cheiro do mar na zona de Buarcos, coisa que não me tinha sido possível fazer nos dois meses que passei lá em casa. Afinal, descobri durante aquele tempo que o Vasco não é da Marinha – o “Almirante” parece estar relacionado com o nome – e o “Vermelho” não tem a ver com a política mas sim com o futebol… Bom, essa última eu percebi logo ao princípio, que a caneca S.L.B. me tinha explicado tudo quando lá cheguei a casa.
Noto que mais à frente o Almirante resmunga entre dentes, pelo que calculo que já saímos de Buarcos e devemos estar a passar pela Figueira da Foz… A viagem decorre calmamente; o meu dono não aprecia muito conduzir e o tempo não ajuda, por isso ele leva condutor (neste caso condutora, a esposa, que por vezes o acompanha nestas saídas) e aproveita mesmo para, refastelado no assento do lado, tirar uma soneca durante a viagem… e eu faço o mesmo, que não vai haver muito para ouvir a não ser o ressonar dele…
Sou acordada por um movimento brusco do meu dono e percebo que ele já está a sair do automóvel. Pelos vistos já chegámos!
Sou de repente abalada por um grande safanão e apercebo-me de uma voz conhecida que fala com o Vasco. Não me tinha ainda esquecido dela! Era o Joaquim – ou Mexia Alves, como quiserem – que tinha acabado de cumprimentar o Almirante com uma vigorosa palmada nas costas e forte abraço que até me fizeram chocalhar dentro do bolso.
Estamos no Café Central, um sítio que já conheço. Já lá estão alguns dos tabanqueiros habituais e vou-me apercebendo da chegada de outros. Das conversas trocadas, vejo que o almoço tem desta vez um interesse suplementar pois comemora-se - com alguma antecipação, parece – a época de Natal que se aproxima. O tal Miguel, de que já vos falei antes – o tal das fofocas da “Karas” – conversa agora com o meu dono. Pelas palavras trocadas percebo que o Vasco lhe terá pedido para lhe comprar um livro e ele assim fez, entregando-lho. Parece ser obra que ambos apreciam, assim como apreciam o autor – o tal JERO que já referi anteriormente – que é mais conhecido em Alcobaça que o Presidente da Câmara de lá…
Entendo que a entrega do livro implica um pagamento – e vejo-me de repente tirada do bolso do Vasco e posta nas mãos do Miguel! Surpresa completa a minha, pois pensava que a minha mudança de situação poderia ocorrer apenas após o almoço…
Parece que o Miguel não usa porta-moedas nem carteira e vejo-me aninhada juntamente com outras que já lá estavam num bolso das calças que ele reserva para esse efeito.
A situação no Café acalma enquanto o pessoal vai bebendo umas águas e eu aproveito para tentar elucidar-me junto das outras notas sobre quem é o meu novo dono. Dizem-me que, estando o Miguel habituado a utilizar um cartão para pagar despesas mais elevadas – um cartão como aquele que há uns meses me fez sair da caixa do Banco – costuma usar preferencialmente as notas de 5 euros e os trocos daí resultantes para pagar as pequenas despesas. E se despesas maiores exigirem o pagamento em dinheiro, são as notas de 20 euros que estão em maior risco de marchar… Fico a pensar se esse seu comportamento terá a ver com alguma atitude racista para com as notas de 10 euros – vermelhinhas – e lembro-me que ele não é do S.L.B… Bom, isso são preocupações para ter depois; mas fico mais descansada com o meu futuro próximo - a não ser que vá já fazer parte do pagamento do almoço…
Do bolso do meu novo dono apercebo-me das suas andanças pelo meio das mesas do café, tentando encontrar os melhores ângulos para fotografar o pessoal. Finalmente levantamo-nos para nos dirigirmos para o local do almoço – a Pensão Montanha mais os seus cheirinhos apetitosos. Antes ainda paramos para a fotografia de grupo na entrada do Café. Claro que mais uma vez não fico na fotografia – nem eu, nem o meu novo dono, que é o fotógrafo de serviço como habitualmente…
Já no local do almoço um pormenor simpático; Em cada lugar, sobre o prato, está colocado um Pai Natal de chocolate, para adoçar a boca no fim da refeição. As pessoas sabem que o valor é irrisório mas a intenção é que conta. Claro que eu não sei o que é o chocolate, mas já me apercebi que é coisa que as pessoas apreciam.
Dos pormenores do almoço não vou falar para evitar maçar-vos – afinal já os relatei em texto anterior. Apenas refiro mais uma vez o ambiente amigável ali vivido, ainda reforçado pela época festiva que se aproxima e que, segundo alguém presente, “é propensa a ampliar os sentimentos fraternos de cada um para com os outros” (apenas repito o que dizem, pois não estou muito dentro desses assuntos). Ainda, neste caso particular, reparei nas movimentações do Miguel para fotografar tudo e todos, principalmente quando são apanhados desprevenidos… Dizia um que ele aproveita essas cenas maradas para publicar uns cartoons lá no blogue – já tenho algum conhecimento disso, pois na minha estadia em Buarcos tive a oportunidade de acompanhar o Vasco na leitura do que ali era publicado – e pela troca de correspondência vi que eles gostavam de se meter amigavelmente um com o outro.
Um momento interessante foi quando entregaram à D. Preciosa uma prendinha que comemorava a época de Natal que se aproxima, demonstrando simultaneamente o apreço que o grupo demonstra pela forma dedicada como ela os recebe naquela sua casa.
Chega finalmente o momento de se pagar o almoço e temo o que me possa suceder, mas rapidamente descanso quando vejo que o meu novo dono já tinha reservado outras notas para esse efeito. Assim, espera-me mais algum tempo na sua posse. Pelo menos, espero eu, até à sua chegada a Lisboa. E aí, até talvez eu tenha tempo para conhecer mais alguma coisa dessa revista de fofocas, a “Karas”, a que o Miguel está ligado.
Começam as despedidas, pois está na hora de cada um regressar às suas casas. O pessoal parece lamentar o facto de só haver novo convívio daqui a dois meses e eu própria tenho poucas esperanças de poder estar presente nessa ocasião. Mas conto ter tempo suficiente para conhecer mais pormenores sobre o Miguel, pese embora a má vontade que ele parece ter para com as notas de 10 euros como eu…
Comentário do editor:
Pois é! Surgiu aqui um problema de incompatibilidades, como aliás já estamos habituados neste país… Sucede que, tendo vindo a nota de 10 euros parar agora às minhas mãos, mas sendo eu igualmente o editor que se insurgiu com estas “coincidências” que fazem o raio da nota ir parar sistematicamente às mãos de um “tabanqueiro do centro”, achei por bem não me envolver directamente no assunto, sob risco de me acusarem de interferir no desenrolar natural da história ou exercer censura sobre os escritos aqui publicados.
Por outro lado, tenho até uma certa curiosidade em ver o que é que aquela pindérica da nota vai dizer de mim no próximo artigo… Por isso vou deixar a coisa correr, aguardando com expectativa o que aí vem. Mas ela que tenha juizinho, que o Euro circula em muito lado e pode ser que ainda a envie para a Grécia, para ela ganhar juízo!...
O editor
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MP
4 comentários:
Se a nota de 10 euros quiser arranjar umas dezenas, centenas ou mesmo milhares de companheiras e vir instalar-se nos meus bolsos, esteja à vontade que será muito bem recebida, com as suas companheiras!!!
Sempre quero ver até onde a nota vai levada pela inspiração do Miguel.
Grande abraço
Amigo Joaquim. Agradeço os votos de Bom Ano e desejo que o próximo, ainda faça circular a tal nota ou qualquer outra, para mais uma aventura.Hoje gostaria de dizer algo, mas além de não ter inspiração para o efeito, estou bastante trite e não tenho o direito de estragar o momento divertido dos "Tabanqueiros do Centro". Contudo não posso passar em claro com a notícia de mais uma camarada enfermeira Mª Manuela Flores França, que também esteve na Guiné e que hoje,não desceu do Céu, mas partiu para lá.O "Grupo" vai naturalmente diminuindo e muitas das sus vivências se vão perendo. Um abraço para todos e votos de muita Saúde,porque as notas vão diminuir!.. Mª Arminda
Caros amigos
Acho que esta nota de 10 ainda vai ter 'muito que contar', tal como a Nau Catrineta.
Estando agora, como dizem que está (que nos tempos que correm é mesmo 'ver para crer'), no bolso do Miguel, certamente que iremos tomar conhecimento, até porque já nos apercebemos que 'ela' (a nota de 10) é bastante desbocada, das várias aventuras do nosso 'Major Alvega' e não só por Lisboa mas também por Sesimbra e outras paragens marítimas (para não ter tantas saudades do ar de Buarcos).
Aguardamos, pacientemente pelos dsenvolvimentos.
Agora, mais a sério.
A Maria Arminda nos dá conta de que mais um dos 'nossos anjos', neste caso mais uma 'da Guiné', a Maria Manuela Flores França, partiu para a grande viagem. Já começa a ser recorrente.
Paz à sua alma e honra e glória ao seu nome.
Abraços
Hélder Sousa
Camariga Maria Arminda
Tristes noticias nos trazes!
Peço a Deus que tenha a Maria Manuela Flores França, (que eu não conhecia), no seu eterno descanso.
Um grande e camarigo abraço para ti e para todas as enfermeiras paraquedistas que hoje viram partir a sua camarada de armas.
Joaquim Mexia Alves e todos os atabancados ao centro.
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