MEMÓRIAS DA MINHA INSPECÇÃO MILITAR
...já lá vão 58
anos e tantos amigos e camaradas que já partiram...
Carlos Pinheiro
Alcanena 01.06.1965 - A Inspecção Militar
A Inspecção Militar era um acontecimento local, regional e nacional pois
era aí que eram lidas “as sortes” dos rapazes que nesse ano faziam vinte anos,
os “mancebos”, já em linguagem militar. A mesma era feita nos primeiros dias de
Junho no ano em que os “mancebos” completavam 20 anos. Não era preciso fazer-se
inscrição. Eles não se esqueciam de convocar a malta através de edital e
ninguém faltava porque era perigoso.
De qualquer forma, sempre havia um ou outro que antecipadamente, à socapa,
dava à sola e ia até França. Era a época da emigração clandestina, a “salto”
como se dizia, porque não nos esqueçamos, o país estava em guerra em três
frentes – Angola, Guiné e Moçambique.
Mas o acto da Inspecção em si merece ser recordado. Em Alcanena a malta
comparecia no Salão Nobre do Edifício dos Paços do Concelho. Depois de
identificados, passado pouco tempo era distribuído um papel para ser
apresentado aos médicos militares que estavam no Gabinete ao lado, o Gabinete
do Presidente da Câmara, mandavam despir o pessoal e ali estavam, todos nus com
um papel na mão, até à chamada ao Gabinete.
Os mancebos eram medidos, pesados, auscultados e lá vinham todos contentes,
“apurados” para todo o serviço militar. Logo ali, havia sempre um soldado ou um
cabo que vendia uma fita verde e vermelha a significar o apuramento e que a
malta, para ser bem referenciada, colocava logo na lapela do casaco do fato que
era estreado nesse dia.
Os raros, raríssimos, que ficavam “livres” também tinham direito a uma
fita, mas neste caso branca, que também era paga. Nesse ano, em Alcanena,
falando da freguesia, houve dois que ficaram “livres” sabe-se lá porquê.
Havia ainda os “esperados”, que passavam para o ano seguinte, porque não tinham peso, porque tinham peso a mais, ou por outro motivo qualquer. Depois o dia era de festa por um lado, mas por outro também de alguma preocupação acerca do futuro que já estava marcado, primeiro com a Índia e depois com a Guiné, Angola e Moçambique. Nesse dia havia almoço em casa com a família, mas o jantar era de convívio entre todos e o baile até às tantas estava garantido e era sempre muito concorrido.
Carlos Pinheiro
Fotos da época, em baixo:
Reprodução do Cartaz do Baile da Inspecção de 1965, devidamente selado e assinado por um companheiro que já nos deixou, o Arlindo Abrantes.
Mancebos de 1945 - Fotografia do jantar da véspera da Inspecção no Restaurante do “Primo” Necas que nessa noite esteve por nossa conta.
Fotografia do palco do baile da Inspecção de 1965, com o Conjunto os
Kalifas, no Pátio do lagar de azeite da Viúva de José Bento, junto à Igreja.
4 comentários:
Memórias...
Olá Carlos
Como não podia deixar de ser, também no ano em que faria 20 anos, ou seja em 1948, fui "às sortes". Não tenho ideias (memórias) muito claras sobre pormenores, embora o que relatas me "soe" familiar.
Sei que fui a Santarém com todos os rapazes da minha aldeia, Vale da Pinta, mas não recordo com nitidez se havia mais rapazes de outros locais, embora esteja inclinado a pensar que sim.
A festa/comemoração dessa passagem à "idade adulta", ocorrida a 1 de Agosto, foi transferida para a ocasião da Festa da aldeia, no último fim de semana de Agosto mas aí não compareci pois estava em "viagem de prospeção" em que fiz turismo estudantil em França, Bélgica e Inglaterra.
E, por tal, não tenho registos desse evento.
Abraço
Hélder Sousa
Caros amigos
Foi alertado pela "revisão de textos" da gralha existente na data da "ida às sortes" que foi, evidentemente em 1 de Agosto de 1968. O ano de 1948 foi o de nascimento.
Ao atento "revisor" os meus agradecimentos.
HS
Já tinha reparado no lapso. SE fosse eras VCC. Um abraço.CP
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