Inserido na sua Série Especial "A minha Guerra", o Correio da Manhã publicou na sua edição de sábado 26 de Março um pequeno texto sobre a nossa camarada Giselda Pessoa, texto que aqui reproduzimos com a devida vénia ao Correio da Manhã e à sua autora, Manuela Guerreiro.
domingo, 27 de março de 2022
segunda-feira, 21 de março de 2022
P1335: RELATIVIZANDO...
AS VIRTUDES (OU O CONFORTO) DA “RELATIVIZAÇÃO”
Relativizar, será sempre, talvez, uma forma de nos sentirmos confortáveis com situações que normalmente podiam ser incómodas.
E isto, sendo certo, vem a
propósito de quê?
Bem, às vezes, pequenos
apontamentos, pequenas coisas trazem-nos à memória factos já tão afastados no
tempo que acabamos por os recordar com saudade, por um lado e com a bonomia,
com um sorriso, por outro.
Há dias, a propósito duma troca
de impressões e/ou comentários com o Joaquim Costa, autor de um livro
intitulado “Memórias de guerra de um tigre azul”, em que o “azul” é uma
referência iniludível à preferência clubista do autor, desenvolveu-se a teoria
de que certos jornais desportivos eram órgãos oficiosos de outros certos Clubes.
Isto é uma verdade
conveniente, preconcebida e desenvolvida para alimentar as animosidades que, a
pretexto das questões desportivas, leia-se questões do “pontapé-na-bola”,
alguns sectores vêm propalando para defesa dos seus pontos de vista e das práticas
das suas ações.
Hoje por hoje diz-se que os
jornais de Lisboa promovem o Benfica e às vezes o Sporting e por isso foi
necessário arranjar um outro jornal desportivo diário que promovesse o F.C. do
Porto. Teríamos assim consumada, também em termos jornalísticos, uma (falsa) divisão
norte/sul (mais uma) que tanto tem sido prejudicial ao desenvolvimento
harmonioso e progressista do País.
E falsa porque, por um lado,
nem sequer é o “Norte”, é mais algumas elites do Porto que, a pretexto das
questões futebolísticas, procuram congregar o Norte à sua volta para obterem
vantagens e, por outro, também não é o “Sul”, porque na realidade o que se está
“contra” é o propalado centralismo do eixo Lisboa-Cascais e assim, duma penada,
ostracizam mais de metade do País.
Tudo isto é triste, mas como
se diz na canção, tudo isto existe, embora nem tudo seja Fado.
Temos então o jornal “O Jogo”
como porta-voz oficioso do F. C. do Porto, dos seus interesses e pontos de
vista, desportivos e outros menos claros, o jornal “A Bola” veiculando a “boa
imprensa” do Benfica e o jornal “Record” como órgão do Sporting. Será assim? Não
sei responder, pois deixei de ligar a esse “fenómeno desportivo”, tanto em jornais
como nos inenarráveis “debates” televisivos. Por isso, façam o favor de escolher
e tomar e formar as vossas opiniões.
Do que me lembro bem, quando tinha aí 15/16 anos é que havia ali bem perto da casa onde vivia, em Vila Franca de Xira, a cerca de 30 metros da porta, uma leitaria (naquela época havia “leitarias”), na esquina do quarteirão, a “Leitaria Popular” que era propriedade dum casal, o Heitor e a Irene. O Heitor era um homem afável, pacato, muito calmo, que tinha feito o serviço militar com o meu pai nas Caldas da Rainha e creio que também em Cabo Verde. A Irene era uma mulher trabalhadora, mas muito impulsiva e isso era pretexto para alguns clientes da Leitaria a provocarem quando as situações desportivas não eram favoráveis às suas, dela, simpatias. Além da leitaria tinham também uma espécie de banca de venda de jornais e coisas assim, tabaco, por exemplo, no átrio da Estação dos Caminhos de Ferro em Vila Franca e por isso as presenças de ambos eram alternadas sendo que às vezes o filho Carlos (um ou dois anos mais velho que eu) ajudava num desses locais.
À tarde e noite, tendo uma televisão,
coisa que ainda não era corriqueira na maioria das casas (estas recordações
reportam-se aos anos 1963/64), era essa “caixinha mágica” que prendia as atenções
e eu era cliente das séries do “Ivanhoe”, do “Bonanza”, do “Mister Ed”, do “Homem
Invisível”, etc. mas durante as manhãs, quando calhava, ia lá ler os jornais,
principalmente os desportivos. E havia o “Record”, o “Mundo Desportivo” e “A
Bola”. Neste último gostava de ler, não só as novidades desportivas e futebolísticas
mas, principalmente, as reportagens e outros artigos sobre coisas e lugares do
Mundo. Havia quem dissesse que esse jornal era mais que um mero órgão desportivo,
era também formativo….
A relativização que referi no
princípio advém das situações da época em que após anos de hegemonia futebolística
do Sporting, emergiu o Benfica após as passagens de treinadores como o
Valdevielso, o Otto Glória e o Béla Gutmann, que assim guindaram esse Clube a
uma época de grande protagonismo.
A Irene era sportinguista,
ferrenha, como se dizia, e o “desporto favorito” de alguns clientes da leitaria
era “picarem-na” com os desaires do Sporting (uma espécie de coisa parecida com
o que se passa hoje nas chamadas redes sociais, nomeadamente o “Facebook”,
embora com menos violência verbal) e recordo então, num determinado dia de
grande provocação, a Irene, no meio do seu desespero ter dito “tá bem, tá bem,
o Benfica é campeão, mas quem é o vice-campeão, quem é, quem é?”.
Portanto, como se vê, é sempre
possível relativizar. Aprendam!
Hélder
Sousa
Fur. Mil. Transmissões
TSF
segunda-feira, 7 de março de 2022
P1334: AOS PREÇOS DA ÉPOCA...
UM ALMOÇO EM BAFATÁ
Ao remexer em coisas do passado descubro de repente uma fatura do restaurante “A Pinguin”, em Bafatá, de Outubro de 1972.
Vêm-me imediatamente à memória as “asneiras” que de vez em quando fazíamos e que, colocando as nossas vidas em risco, acabaram todas bem e sem problemas.
Naquele tempo comandava eu o Pel. Caç. Nat. 52 e estava, salvo o erro, no Destacamento da Ponte de Udunduma, (coisa de muito “luxo”), na estrada que liga o Xime a Bambadinca.
Ia por isso várias vezes a Bambadinca onde estava sediada a C. Caç. 12, comandada então pelo meu grande amigo Cap. Bordalo e os seus quatro Alferes, e onde, à volta de umas cervejas e uns whiskies, íamos rindo, galhofando, e acabando a guerra com ideias “brilhantes”.
Algumas vezes, (não foram muitas), entediados com a monotonia dos “procedimentos”, íamos buscar as G3 e outro armamento leve, e conduzidos pelo Cap Bordalo num jeep ou unimog, lá íamos os cinco até Bafatá, sozinhos, almoçar à Pinguin, comer o célebre “rancho”, ou os camarões do Geba, ou o que houvesse para comer.
Eram umas viagens um pouco loucas mas que, graças a Deus, sempre acabaram bem, embora o Comandante do Batalhão “desse por paus e pedras” com essas nossas aventuras; mas como já estávamos nas “africanas”, nada mais havia a fazer, e que raio, a gente fazia falta ao comando do Batalhão, que logo a seguir me enviou com o 52 para outro resort de luxo situado no Mato Cão.
Julgo que este almoço deve ter sido numa dessas saídas malucas, pois verifiquei tratar-se de um Domingo, e que um dos Alferes da 12 deveria estar de férias, porque pela fatura se percebe que eramos apenas quatro.
Enfim, histórias que não prejudicaram ninguém, mas nos davam um pouco mais de vida para suportar tudo aquilo.
É de reparar no valor total da refeição, 133 escudos, o que em moeda actual diz que gastámos a enorme quantia de quase 60 cêntimos (do euro…) num almoço para quatro!!!!
Lembro ainda que havia uma sobremesa na Pinguin, (curioso nome para um restaurante na Guiné, devia ser por ter gelados), que tinha o belo nome de “minete” e que julgo ser um gelado.
Aqui fica para a posteridade, certamente com algumas falhas de memória, mas no fundo retrata o que se passou.
Curiosamente tenho saudades!!!
Joaquim
Mexia Alves