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Na
Guiné, que me lembre, tive apenas um amigo civil, com quem partilhei longas
conversas e uma amizade sincera.
Tratava-se
do Jamil Nasser, comerciante libanês no Xitole, com quem logo desde o início da
minha estadia de “férias” naquele lugar, estabeleci relações de companheirismo
e amizade.
Assim,
era muito rara a tarde em que ao fim do dia não me dirigia para sua casa, para,
no alpendre/varanda que dava para a estrada Bambadinca/Xitole, beber com ele
uns “uísques”, acompanhados de pedaços de tomate vermelho salpicados com sal
grosso.
Poder-se-ia
pensar que tal ligação não combinava, mas digo-vos que era uma coisa de se lhe “tirar
o chapéu”.
Ali
estávamos, uma ou duas horas, conversando e ouvindo as noticias em árabe, o
que, como podem calcular, a mim me dava imenso jeito!!!
O
Jamil, se bem me lembro, era o primogénito de uma grande família libanesa, de
posses, mas que tudo perdeu na guerra daquele país.
Para
que os seus irmãos mais novos pudessem estudar, o Jamil demandou terras da
Guiné, onde se estabeleceu no Xitole, enviando dinheiro para os seus irmãos no
Líbano.
Um
dos seus irmãos chegou mesmo a Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano,
(segundo sua informação), e embora já estivessem todos bem, o Jamil, habituado
à Guiné, já não quis regressar à sua terra natal.
A
fotografia aqui colocada, foi tirada no fim de um almoço que o Jamil ofereceu
na sua casa, em Abril de 1972, (julgo que tendo como “desculpa” o meu
aniversário), cuja ementa foi um saborosíssimo chabéu, coisa que eu nunca tinha
comido na minha vida.
Lembro-me
que uns dias antes o Jamil me pediu para o ajudar a carregar a arca frigorifica
com garrafas de vinho branco, para ser mais preciso duas caixas de 12, e eu lhe
ter dito que era demais, pois eramos cerca de 12 pessoas!
Ele
respondeu que se beberia tudo e se calhar não chegava!
Percebi
depois porquê, porque ao meter a primeira garfada do chabéu à boca, pareceu-me que
tinha engolido uma fogueira!
O
Jamil disse para insistir, porque depois das três ou quatro primeiras garfadas,
a boca se habituava ao picante e depois é que se podia saborear o chabéu.
E
assim foi, sem dúvida, pois não me lembro de comer outro tão bom como este!
É
curioso que por vezes tenho saudades desses fins de tarde no Xitole!
Hei-de
voltar ao Jamil Nasser e a outras histórias com ele.
Monte
Real, 10 de Julho de 2012
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1 comentário:
Estou a ver o Jamil com um lenço entre o colarinho e o pescoço para absorver o suor enquanto o nível do
whisky ía baixando na garrafa.Foi com ele que conheci essa do tomate com whisky...sabia bem !!!
Comi alguns almoços em casa dele,o "criado"era um excelente cozinheiro e o "chabeu"óptimo...
Aos Domingos,no tempo da CCAÇ 2701,o Jamil ía com frequência almoçar ao Saltinho,e após almoço eram umas duas garrafas de scoth e uns quantos tomates a serem aviados.
O Jamil era tio de um jornalista da revista Manchete,muito conhecido no Brasil,e também em Portugal,chamado David Nasser.
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