quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

P616: PUBLICADO NO "JORNAL DE LEIRIA" EM 19 DE FEVEREIRO

Começa já na próxima 6ª feira, 27 de Fevereiro o segundo ciclo de tertúlias "A História somos Nós", com uma sessão subordinada ao tema "O Sistema de Saúde no Ultramar", em que se pretende abordar os impactos da guerra sentidos na vertente dos serviços e cuidados de saúde nas províncias ultramarinas, tanto para as comunidades colonas presentes como para as populações nativas.



Deixamos-vos aqui a notícia publicada no "Jornal de Leiria", associado a esta iniciativa, lembrando ainda que a sessão decorrerá nas instalações da Livraria "Arquivo" (em Leiria)  - Avª Combatentes da Grande Guerra, nº 53 - pelas 18H00 de 27 de Fevereiro. A entrada é livre.

Para quem participar no nosso convívio em Monte Real, com almoço na Pensão Montanha no mesmo dia, é uma boa oportunidade para assistir depois a esta sessão organizada por aquela Livraria e pelo núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes, com o apoio do "Jornal de Leiria".



domingo, 22 de fevereiro de 2015

P615: JÁ À VENDA NOS GRANDES ESPAÇOS

“NÓS, ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS”

A Tabanca do Centro fez em devido tempo (NOV2014) a divulgação da apresentação do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas".

Estamos agora em condições de informar que o livro já está à venda nas grandes superfícies (Bertrand, FNAC, etc.) a um preço que rondará os 19,00 €. Deverá ser num desses locais que os interessados deverão fazer a sua aquisição. 


Aproveitamos ainda para informar que estão já previstas duas apresentações do referido livro:

A primeira em Aveiro, pelas 18H00 de 26 de Março, no Centro de Congressos de Aveiro Cais da Fonte Nova, contará com a presença do Senhor Professor Adriano Moreira.

A segunda pelas 15H00 de 9 de Abril, na Messe de Oficiais da Batalha, no Porto, com o apoio do Núcleo da Liga dos Combatentes.
A informação sobre estas duas apresentações foi-nos transmitida por um responsável pela Editora "Fronteira do Caos", que publicou o livro, podendo ainda ser passível de pequenas correcções. Divulgaremos mais pormenores quando deles tivermos conhecimento.

A Tabanca do Centro

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

P614: O MUNDO É PEQUENO...

UMA GRANDE COINCIDÊNCIA!

No final dos anos 60, já com 19/21 anos, conheci na Base Aérea de Monte Real vários Pilotos da Força Aérea com quem me dava muito bem, apesar de alguma diferença de idades.
Entre eles conheci um (que interessa a esta história), o então Ten. PILAV Luís Quintanilha, o qual, com a minha ida para a Guiné, perdi totalmente de vista.

Como julgo já ser do conhecimento dos meus camarigos, a seguir à minha saída da Guiné, em Dezembro de 1973, por causa da minha inadaptação (chamemos-lhe assim) à Metrópole, acabei por ir para Angola trabalhar, ficando a morar em Luanda, cidade da qual guardo as melhores recordações.

Aí reencontrei o Luís Quintanilha, que ao tempo era Comandante dos TAM, (Transportes Aéreos Militares), e por isso mesmo quase todas as semanas, mais coisa menos coisa, levava o Boeing 707 militar em viagem para Luanda, onde acabava por ficar sempre alguns dias.

Acabámos por nos tornar quase inseparáveis, numa grande amizade, aliás fácil, porque ambos tínhamos nesse tempo uma certa dose de “loucura” que os tempos revolucionários tinham o condão de provocar.


Mas a história é muito simples e trata-se de uma coincidência engraçada, que acaba por envolver a Guiné.

É que em 1974, aproximando-se o mês de Dezembro, o Luís, numa ida a Luanda, disse-me que tínhamos de combinar um jantar em grande, porque ele fazia anos no dia 21.

Achei graça à data, e disse-lhe que tínhamos de comemorar até muito bem, porque era o dia em que eu tinha saído da Guiné, em Dezembro de 1973.

Ele perguntou-me então se tinha saído de barco ou de avião, e eu disse-lhe que tinha vindo no Boeing dos TAM.

Ele então riu-se e disse-me: Então fui eu quem te trouxe para Lisboa, porque nesse dia dos meus anos eu fui a Bissau em missão com o Boeing 707.

Aqui fica a coincidência para a posteridade.


Marinha Grande, 6 de Janeiro de 2015
Joaquim Mexia Alves

Nota:

O meu grande amigo Luís Quintanilha acabou por falecer num acidente de avião civil (nos anos 90), lá para os lados de Sintra, com mais dois Pilotos, entre eles outro amigo meu, o Cor. PILAV João Carlos David, que foi Comandante da Base Aérea de Luanda e do qual também hei-de contar uma história.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

P613: TEM INÍCIO NO PRÓXIMO DIA 27 DE FEVEREIRO

Coincidente com a realização do nosso 43º encontro da Tabanca do Centro, no próximo dia 27 de Fevereiro, vão iniciar-se na mesma data as II Jornadas do Ciclo de Tertúlias dos Combatentes.

Embora sujeito eventualmente a pequenos acertos, deixamos-vos aqui o que pretende ser o programa deste ciclo de tertúlias, organizado pela Livraria Arquivo e pelo Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes, contando com o apoio do Jornal de Leiria. 

As sessões decorrerão na Livraria Arquivo, Avª Combatentes da Grande Guerra, nº 53, em Leiria, pelas 18H00 das datas indicadas, e têm entrada livre.

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CICLO DE TERTÚLIAS DOS COMBATENTES
A História Somos Nós
II Jornadas
A guerra colonial e o impacto na sociedade civil

Organização
- Livraria Arquivo
- Núcleo Leiria Liga Combatentes
Apoio
         - Jornal de Leiria
Local: Livraria Arquivo.
Início pelas 18h00 e duração de 1H30
Entrada Livre
Objectivo:
Nas primeiras jornadas do ciclo das tertúlias sobre este tema pretendeu-se abordar a nossa história recente ao nível da presença militar com especial enfoque à guerra colonial, como uma oportunidade para que antigos combatentes partilhassem histórias, análises, opiniões e sentimentos sobre o que vivenciaram no ultramar, aproveitando o relato em primeira mão das memórias desse importante período da nossa história.
Nestas segundas jornadas procura-se agora alargar a discussão às vertentes menos tratadas, mas igualmente importantes do impacto da guerra colonial nas diversas áreas sociais e cívicas. Os temas serão tratados de um perspetiva mais civilista, procurando identificar a perspetiva da guerra vista pelos civis presentes ou afetados pela guerra e confrontá-la com os impactos positivos ou negativos da presença militar nos territórios ultramarinos.
É objetivo importante neste 2º ciclo envolver as estruturas locais afetas aos assuntos tratados, nomeadamente, profissionais e serviços de saúde, professores e serviços do sistema educativo, grupos eclesiásticos, missionários e leigos envolvidos nas missões religiosas e humanitárias.

1ª Sessão – 27 Fevereiro 2015: O sistema de saúde.
Abordar os impactos da guerra sentidos na vertente dos serviços e cuidados de saúde nas províncias ultramarinas, tanto para as comunidades colonas presentes como para as populações nativas.
a.   Estruturas de saúde existentes antes da guerra (genericamente)
b.   Capacidades e carências antes da guerra
c.   Acesso aos cuidados de saúde dos colonos e das populações nativas
d.   Impacto da chegada das forças militares;

2ª Sessão – 27 Março 2015: Estruturas religiosas e iniciativas humanitárias.
Conhecer a organização da assistência religiosa nos territórios ultramarinos. Analisar o papel e o funcionamento das estruturas missionárias. Debater a amplitude e enquadramento de iniciativas humanitárias e da sua convivência com o sistema político vigente.
a.   Estrutura da igreja católica nos territórios antes do conflito e transformações derivadas da guerra e da chegada das forças militares;
b.  Análise das consequências da guerra no trabalho de evangelização e do papel dos religiosos junto das populações nativas;
c.   As missões, o seu enquadramento e a sua ação durante o conflito;
d. Assistência humanitária, iniciativas, estruturas e o seu enquadramento;
e.   Outros atores envolvidos.

3ª Sessão – 24 Abril 2015: O Sistema educativo.
Analisar a estrutura do sistema educativo implantada nos territórios ultramarinos e as transformações decorrentes tanto da deflagração do conflito armado como da chegada das forças militares.
a.   Rede escolar existente (genericamente)
b.   Programas ministrados e confrontação com os currículos seguidos no território continental
c.   Acesso à educação
d.   Impacto da chegada das forças militares.
  
4ª Sessão – 29 Maio 2015: Missões de voluntariado.
Identificar diversas iniciativas e missões de grupos de voluntariado no apoio ao esforço de guerra, no apoio às populações ou na vertente humanitária e apresentar as suas atividades mais marcantes.
a.   Madrinhas de guerra;
b.   Missionários (religiosos e leigos)
c.   Organizações Não-governamentais
d.   Grupo de aviação voluntária
  
5ª Sessão – 26 Junho 2015: A guerra colonial na imprensa nacional e local.
Elaborar sobre a perspetiva da guerra colonial através dos relatos da imprensa da época e compará-la com as leituras posteriores e particularmente com a visão atual nos media.
e.   Meios de comunicação disponíveis;
f.    Imprensa de nível nacional
g.   A guerra colonial na imprensa local
h.   Liberdade de imprensa ou falta dela
i.     Posicionamento dos militares perante os meios de comunicação




terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

P612: JERO - CRÓNICAS DOS TRIBUNAIS / 4

PALAVRAS E PALAVRÕES

O Juiz Dr. João Solano Viana era na vida pessoal e profissional um “gentleman”, que não dizia nem gostava de ouvir palavrões. Mas nem sempre se conseguia livrar desse desconforto pois em certos processos-crimes palavrões era o que não faltava…

Ao longo do tempo em que com ele trabalhei como escrivão foi-se estabelecendo entre nós um “código”, no que respeita a palavrões que eram ditos nas audiências. Concluída a prova era chamado ao seu gabinete no Tribunal de Alcobaça para dactilografar a sentença. Quando era preciso escrever palavrões o Dr. Solano Viana fazia uma pequena pausa e usava o “nosso” código: “cozer” e/ou  “carvalho” escrito pelo claro, claro está.

Um dia, no julgamento de um crime de estupro, uma testemunha chamada a depor pelo advogado de defesa afirmou ter visto o réu a ter relações sexuais com a queixosa, acrescentando pormenores que não eram nada vulgares serem vistos por terceiros…

Intrigado o Meritíssimo Juiz interrogou directamente a vizinha da queixosa, que vivia no lugar de Bemposta-Alcobaça. «Mas a senhora testemunha viu mesmo o réu meter o pénis na vagina da ofendida?»

Vi perfeitamente a cara de espanto da testemunha, que segundos depois respondeu: «Qual “peres”, qual “virgínia” Sr. Doutor Juiz. Foi mesmo o “carvalho”…»
E disse-o, pelo claro!

A veemência do seu testemunho teve peso do juízo final do Dr. João Solano Viana.

O réu escapou da cadeia porque entes da execução da pena juntou ao processo uma certidão de casamento, que provava que a queixosa tinha passado a ser a sua esposa.

Tenho uma vaga ideia de que o seu primeiro nome era Virgínia...

JERO

sábado, 14 de fevereiro de 2015

P611: MOMENTO DE DOR PARA ESTE NOSSO CAMARIGO

        Para o José Belo
  
É sempre muito difícil escrever para dar notícias terrivelmente tristes.

Mais difícil se torna quando envolvem um amigo a quem não podemos abraçar fortemente nos nossos braços, por se encontrar milhares de quilómetros longe.

Não há modos mais suaves ou melhores de dar estas notícias.

Em escassos três meses, depois de diagnosticada uma doença do foro oncológico, faleceu a Britt-Marie, mulher do nosso camarigo José Belo, que vive longe na Suécia.

Como Português que é, a distância do seu Portugal, da sua língua materna, não ajuda nada a viver estes momentos dolorosos, que eu nem calculo o que sejam.

Podia escrever aqui um “tratado” de palavras doces, de conforto, de solidariedade, mas tenho, por experiência própria, que nestes momentos as palavras são escusadas e que o melhor é o beijo na face, o abraço forte, apertado, de tal modo que ele sinta que os nossos corações batem no mesmo compasso do dele.

E é isso que aqui te queremos dar, José Belo, querido camarigo, um abraço que envolve todos nós, mas um abraço de tal modo que sintas que estamos contigo agora e sempre.

Joaquim Mexia Alves

P610: EM FLAGRANTE DELITO...

FRUTA DA ÉPOCA

No meu tempo na Guiné os tomates cultivados pelo capelão da BA12 eram muito cobiçados, muito por nossa culpa, pois sempre que podíamos fazíamos uma colheita na horta que o capelão mantinha junto à igreja da Base.
Era generalizada a opinião, entre quem deles se servia, de que os referidos tomates, embora pequenos, eram sumarentos e saborosos e enriqueciam qualquer salada. E sabe-se o gosto que o pessoal tinha por tudo o que lhe lembrasse a metrópole. E era vê-los a "deitar abaixo" uma saladinha feita com tomates fresquinhos, acabadinhos de apanhar...
É claro que o capelão calculava perfeitamente quem eram os malandros (neste caso as malandras...) que lhe andavam a roubar a fruta, mas pactuava simpaticamente com a situação, dado ser por uma boa causa.
Mas não se ficava pelos tomates a razia que íamos fazendo nos produtos da base. Para além da fruta que íamos comprando ao responsável pela horta da Base, lá iam marchando de vez em quando uns limões, umas papaias, que o pessoal a alimentar era muito e de bom apetite.
Nem o cajueiro do Comandante escapava (do Comandante é um modo de dizer, que estava junto ao comando da Base), sendo que, um dia, havendo uma escada à mão, duas de nós (de que não vou referir os nomes...) resolveram atacar o dito cujo. Estavam elas neste preparo, penduradas nos ramos altos, quando passa o Comandante da Base, com o seu séquito. 
O facto é que o Comandante não reconheceu "as intrusas", pois se viam apenas as calças do camuflado, pelo que invectivou energicamente as duas "delinquentes", julgando que eram soldados da Polícia Aérea; e as duas no topo da árvore também não reconheceram a voz do Comandante, pelo que reagiram verbalmente em termos que não vou reproduzir aqui...
Tendo as partes procedido à identificação mútua, o incidente acabou por ficar sanado, pese embora o Comandante tenha prosseguido a sua viagem resmungando contra a lata daquele pessoal, sublinhado por um sorriso complacente dos militares que o acompanhavam.

Giselda Pessoa


domingo, 8 de fevereiro de 2015

P607: MAIS UM TESTEMUNHO

Publicado recentemente nas páginas de uma publicação regional, o Boletim da Freguesia "Notícias de Vermoil", deixamos-vos com o depoimento do nosso camarigo Manuel Mendes da Ponte que, simpaticamente, não quis deixar de fazer referência aos encontros da Tabanca do Centro e à amizade que une este nosso grupo há já cinco anos.

Uma sugestão que já aqui fizemos anteriormente: Podem aumentar o tamanho do texto premindo simultaneamente o botão "CTRL" (do lado esquerdo no teclado) e rodando o "scroll" (aquela rodinha no meio do rato...). No fim, para repôr o tamanho habitual, basta fazer a operação inversa.





sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

P606: CRÓNICAS DO JOSÉ BELO

Desafiámos o nosso camarigo José Belo, a viver há quarenta anos no extremo norte da Suécia, a descrever-nos o tipo de vida e as adaptações a que um lusitano se teve que sujeitar para viver num ambiente que para nós é difícil de imaginar... e de suportar...
A resposta está aqui, explicada pormenorizadamente por este nosso camarada. Apreciem...

VIVER NA LAPÓNIA

Perguntam-me como se consegue (sobre)viver na Lapónia. Em primeiro lugar há que ter em conta que  esta vastíssima área do Círculo Polar está enquadrada pelas fronteiras da Noruega, Suécia e Finlândia.

Não sendo propriamente países com dificuldades económicas, as realidades locais estão muito distanciadas das realidades árticas russas, para citar o exemplo mas próximo.

As auto-estradas e estradas que ligam os centros populacionais estão bem mantidas e a funcionar 365 dias por ano, independentemente das temperaturas, com um  sistema de limpeza de neve e gelo, assim como os aeroportos locais, com carreiras regulares a funcionar também 365 dias por ano, independentemente das temperaturas extremas.

Muito importantes para a economia local (exportação que sai da maior mina Europeia de ferro situada em Kiruna, para o porto atlântico norueguês de Narvik) as vias férreas estão sempre abertas.

Um serviço de urgências, com helicópteros-ambulância estrategicamente distribuídos, garante um máximo de 30 minutos de voo até aos locais mais isolados.

Os custos destes serviços, somados ao facto de todas as auto-estradas, pontes (com excepção da que liga a sul a Suécia à Dinamarca), barcos transportadores de viaturas (serviço muito importante num país com inúmeros lagos) são obviamente muito elevados. Não será por acaso que os países Escandinavos, com a Suécia à frente, são mundialmente conhecidos pelos seus altos impostos.

Quanto ao "porquê" de eu viver largos períodos do ano em tal exílio, e procurando tornar uma longa história curta... A minha mulher é filha única de um conhecido industrial sueco com negócios na Escandinávia e nos  Estados Unidos.

Este senhor mandou construir uma casa para convidar os amigos e outros industriais para umas férias exóticas, com passeios de trenó, pescarias várias, e nas horas vagas dar uns tirinhos nos animais selvagens circundantes.

Como não seria propriamente parvo, fez construir a casa junto do maior parque natural europeu (e dos mais espectaculares da Suécia), que é o de Abisko.

A casa está situada na margem norte do lago Torneträsk, precisamente a meio caminho da cidade fronteiriça sueca de Karesuando a nordeste, e o porto atlântico norueguês de Narvik a oeste. 

A pequena localidade de Karesuando é a situada mais ao norte da Suécia, onde termina a estrada Europa-45 e a estrada do Reino-49.

Será talvez interessante para alguns uma vista de olhos às fotos aéreas do Google-Earth, tendo como referência a estrada que liga Kíruna a Narvik na costa atlântica. Aí poderão observar montanhas e lagos mais espaços infindáveis... mas casas?!

Cerca de 2/3 da população sueca vive a sul de Estocolmo e Estocolmo está a 1.700 quilómetros lá para o sul daqui.

A Suécia tem uma área 14 vezes maior que Portugal com uma população menor (Para nos "situarmos", a distância da fronteira norte sueca à fronteira sul é a mesma que a da fronteira sul sueca à cidade italiana de Milão). Dentro deste contexto não se torna tão estranho o facto de o meu vizinho mais próximo viver a 200 quilómetros da minha casa… ou mais.

Como é que aqui se vive tendo em conta os Invernos de 9 meses e os 4 meses de escuridão total nas 24 horas do "dia", a somarem-se ao curto Verão de semanas em que o Sol nunca se põe?

Uma casa de madeira nórdica (e é importante ser de madeira!), com paredes duplas e largo material de isolamento intermediário.
Isolamentos extremos tanto em alicerces como no tecto.
Janelas de vidros duplos que criam uma almofada de ar quente entre eles.
Porta exterior dupla seguida de uma entrada que permita encerrar a porta da rua antes de entrar propriamente na parte residencial.
Uma boa caldeira dupla (!) de aquecimento a óleo, construída na cave da casa.
Um muito razoável depósito exterior (subterrâneo) para o óleo.
Óleo fornecido periodicamente por camiões cisternas.

A temperatura em toda a casa mantém-se entre os 22 e os 24 graus, sendo esta a recomendada como saudável. Nesta zona ártica tanto o óleo como a electricidade são subsidiados em percentagens muito elevadas pelo Estado, numa política inteligente de procurar manter alguma ocupação populacional da área.

Aquecimento eléctrico em forma de serpentina envolvendo os canos que ligam o furo de água sob a casa (Esta água obtida de furos profundos mantém uma temperatura de 8 graus positivos ao longo do ano).

Um "pequeno detalhe" a não esquecer... os esgotos. Os canos são também electricamente aquecidos até atingirem o depósito exterior, também subterrâneo, sendo este esvaziado periodicamente pela mesma firma que fornece o óleo para aquecimento.

Quanto a alimentos, e tendo em conta as quantidades necessárias para garantir aprovisionamentos confortáveis,  o problema é inverso.

A serem guardados em arrecadação exterior esta tem que estar aquecida (!!!) às temperaturas normais de um frigorífico, que estão à volta dos 8 graus positivos.

Arcas congeladoras também são importantes para guardar durante todo o ano as grandes quantidades de carne selvagem aqui abatida e consumida, para além dos diversos peixes locais como a truta e o salmão.

Entrando em detalhe, um alce fornece muitos mais quilos de carne consumível que um cavalo. As renas funcionam um bocado como os porcos na Lusitânia... tudo se consome, desde o lombo, filé, febras, perna fumada, sangue para enchidos etc.

A isto somam-se as lebres e perdizes (ambas brancas!), alguns tipos de gazelas e... por muito que aí me não acreditem... enchidos de carne de urso (Um pouco como o nosso paio)!

E, um detalhe importante: Toda esta lista, tanto de carnes como de peixes, é obtida a umas centenas de metros da casa sem ser necessário o uso de dinheiro.


Quanto a bebidas para fins "medicinais... não há casa sem um alambique (dos antigos em cobre) que não produza vodka com percentagens de álcool que aí seria vendido nas farmácias…

Para frutas, vegetais, vinhos, drogarias e tudo o resto, tanto a cidade sueca de Kíruna como a norueguesa de Narvik estão a cerca de 200 quilómetros.

Tenho que concordar que talvez seja "um pouco" para se comprar tabaco ou o jornal da tarde, mas por outro lado o bacalhau norueguês que para aí vai é em grande parte da região de Narvik, só que... aqui se compra a menos de 80% do preço que custa na Lusitânia. Deste modo, bacalhau e "coubinhas quentes" por aqui não faltam.

Quanto ao isolamento, ou dificuldades de transporte, é claro que quando os temporais de neve, gelo e nevoeiro apertam não se pode esquecer que estamos muitas centenas de quilómetros dentro do Círculo Polar.

Dá por vezes trabalho extremo mas é um preço que vale a pena pagar tanto pelo sossego, silêncio quase místico, e a grandiosidade desta natureza envolvente, nas suas montanhas, bosques, rios e lagos que se veem de todas (!) as janelas da casa.

Detalhes práticos... Um bom Jeep com tração às quatro rodas, de modelo de fábrica aconselhado para estas condições extremas.

Pelo menos duas "scooters" para a neve. Uma para transporte pessoal e outra para rebocar trenós de cargas várias.

Existe um aparelho muito prático que consiste essencialmente numa larga pá facilmente adaptada à frente do Jeep, que permite remover a neve e gelo nas estradas secundárias que ligam as casas às estradas principais (as tais que têm a neve continuamente removida por empresas do Estado).

No que me diz respeito, a casa fica situada a 10 quilómetros da estrada principal.
A ter que deslocar-me coloco o aparelho á frente do jeep, e ao atingir a estrada principal o mesmo é facilmente colocado sobre o tecto da viatura. É aconselhável repetir esta operação nas estradas secundárias (mesmo que não se tenha que viajar) para evitar um acumular demasiado de neve e gelo.

Mas, e como tudo na vida, com um pequeno pagamento "amigo" aos condutores que limpam dia e noite as estradas principais, estes por vezes "enganam-se" e fazem também uns percursos pelas estradas secundárias. Tendo em conta as centenas e centenas de quilómetros que limpam dia e noite… não se notam estes "enganos" a nível central.

Quanto a renas à frente dos trenós, ou os cães, claro que aqui os usamos. Mas definitivamente não nos trabalhos ou actividades do dia a dia.

As renas... são mais para passear os netos ou outros visitantes.

Os cães de trenó... servem para algumas passeatas em busca de bons locais para abrir um buraco no gelo para a pesca, ou, mais uma vez, para aquando da vinda de alguns visitantes "turísticos", tanto suecos como dos Estados Unidos.

Em verdade, os cães servem hoje mais para companhia do que para transporte útil.

Mas se julgam que os cães comem pouco (8 de trenó e 4 de reserva)... posso garantir que é um alto consumo "por quilómetro"... mesmo quando estão parados! E não é propriamente ossos o que comem!

Nestes bilhetes-postais românticos não se pode esquecer que, hoje em dia, as manadas de renas em deslocamentos são seguidas durante o Inverno por modernas e potentes scooters para a neve, e nos reagrupamentos de Primavera e Verão são utilizados helicópteros. Desde o ano passado começaram a ser aqui também utilizadas os modernos "drones" aéreos para esse fim.

Para a minha família, esta casa mais não é que um refúgio de paz.
Para a manter com os níveis de conforto, modernidade e funcionalidade neste isolamento extremo, é claro que se torna necessário um custo económico considerável e, não menos, um planeamento contínuo e sempre bem antecipado.

As profissões, tanto da minha mulher como a minha, permitiram, felizmente, os largos períodos em que aqui nos refugiámos.

Já aqui me visitaram alguns Lusitanos amigos, e por esta zona passeou um simpático casal frequentador dos almoços da Tabanca do Centro.

Aos restantes… Sejam bem-vindos!

 José Belo

Nota: Boa parte das fotos apresentadas neste texto foi retirada do blogue da Lapónia, http://laplandnearkeywest.blogspot.pt/ , com a natural autorização do nosso camarada José Belo. Os nossos agradecimentos.