segunda-feira, 28 de outubro de 2013

P390: NO RESCALDO DA SESSÃO DE 25 DE OUTUBRO



TERTÚLIAS DOS COMBATENTES EM LEIRIA


Organizadas pelo Jornal de Leiria e pela Livraria Arquivo, com a colaboração do Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes estão a decorrer naquela cidade as Tertúlias dos Combatentes.

A sessão da tarde do passado dia 25 de Outubro teve lugar em Leiria - numa sala da Livraria Arquivo, no nº. 53 da Av. Combatentes da Grande Guerra – e foi dedicada à guerra da Guiné.

Na mesa de honra estiveram presentes e relataram as suas experiências Raul Castro, Presidente da Câmara Municipal de Leiria e Joaquim Mexia Alves, ambos ex-combatentes da Guiné, sendo moderador o Coronel Ismael Alves, do Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes.

O moderador começou por apresentar o tema e referir as regras: Cada orador presente na mesa usaria da palavra 15 a 20 minutos; iniciar-se-ia depois o debate com a assistência, pretendendo-se que cada intervenção fosse breve e objectiva.

O primeiro orador da tarde foi o nosso Camarigo Joaquim Mexia Alves, que norteou a sua comunicação por 3 tópicos e mais um:

A Guerra da Guiné;
As Companhias Africanas;
Efeitos colaterais positivos, apesar da guerra e por causa da guerra (de que poucos falam)
O abandono dos ex-combatentes.

JMAlves começou por referir a sua chegada à Guerra, a um mundo diferente, a uma realidade que nada tinha a ver com o que até então todos tinham vivido. Mas a África exerce um fascínio que ele sentiu de imediato. Estava-se em 1971. Tinha 22 anos, o posto de Alferes Mil. Op. Especiais e ia comandar o 1º Pelotão da CART 3492, a que se seguiriam o Pelotão de Caçadores Nativos 52, e depois ainda a C.Caç. 15.

Sentiu especialmente essa responsabilidade de comando no primeiro ataque que sofreu à Ponte dos Fulas. Daí a necessidade que sentiu de “mostrar” aos seus homens que estava ali para o que desse e viesse; resolveu levantar uma mina, numa segurança a uma coluna de abastecimento, correndo um risco desnecessário. Enquanto o suor lhe corria pela cara abaixo os minutos pareceram-lhe horas. E, mais tarde, veio a saber que tinha “lá estado” apenas 10 minutos…

Referiu ainda o mito da “guerra ganha”, justificando ser um mito com o tamanho da Guiné, (talvez próximo do tamanho do Alentejo), e assim possibilitar os ataques e consequente fuga pelas fronteiras.
Isto para além do facto de que, os ataques mais mediáticos consistiam num esforço total do PAIGC junto dos aquartelamentos de fronteira, deixando o resto da Guiné com ataques esporádicos.

Sentiu a estranheza dos primeiros contactos com os homens das Companhias africanas. Realmente, ao comandar o Pel Caç Nat 52, com soldados de várias etnias diferentes, apercebeu-se das enormes diferenças entre eles, o que tornava bem mais difícil a sua unidade e integração. Mas bem depressa percebeu que lidava com bons combatentes, leais e amigos. A ligação com os seus homens tornou-se profunda. 

O seu regresso em 1973 foi uma “página” inesquecível da sua passagem pela Guiné. Não esquece os abraços nem o brilho dos homens que deixou. Homens que, na sequência do 25 de Abril de 74, foram abandonados pelo País cuja bandeira tinham jurado defender. Abandonados, perseguidos e mortos por fuzilamento.
No entanto apesar da guerra e por causa da guerra muita coisa positiva aconteceu, junto das populações, e tal deve ser recordado. As populações tinham assistência médica, com profilaxia para doenças como as do sono e paludismo, acompanhada da distribuição de alimentos. Conseguiu-se, através de furos e de tratamento adequados, uma riqueza única para as populações: água potável. 


Construíram-se estradas e pontes. E também muitos militares regressaram da guerra com diplomas escolares, depois de nos seus quartéis terem feito exames da 4ª.classe, para além do facto de que muitos militares se disponibilizavam para alfabetizar as populações jovens de guineenses. Ninguém de boa fé pode acusar o Exército Português de ter feito a guerra só pela guerra.


Finalmente, um tema bem triste e longe de estar resolvido. Há ex-combatentes a viver na rua – sem trabalho e sem família – que vivem no limiar da pobreza e sem a dignidade a que têm direito.

Felizmente que vão aparecendo algumas luzes de esperança e é tempo de saudar a dinâmica da actual direcção do Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes. O seu papel é positivo e a nossa Tabanca do Centro está inteiramente ao seu lado no apoio a todos ex-combatentes que dele precisem. Em todos os convívios das últimas 4ªs. feiras do mês, em Monte Real têm sido recolhidos donativos que encaminhamos para a Liga dos Combatentes de Leiria.

Joaquim Mexia Alves cumpriu à letra os 20 minutos a que tinha direito (e resumir em 20 minutos 2 anos de Guiné não é tarefa fácil…) e o moderador de serviço, depois de alguns comentários adequados ao seu testemunho, passou a palavra ao outro “Homem Grande” presente.
Falou depois Raul Castro, que começou por lembrar o seu azar (para não dizer “mala pata”) a uma disciplina que nos seus velhos tempos de estudante o tinha “tramado”. Por causa da Matemática do 7º.Ano não tinha “chegado” ao curso de Oficiais Milicianos, motivo pelo qual, quando foi mobilizado, avançou para a Guiné como Furriel Miliciano.

Antes disso andou por Vendas Novas e deu uma “especialidade” de Artilharia a um grupo de 15 alunos universitários castigados quando da crise académica de Coimbra de 1969. Desse grupo, entre outros, lembra-se de Barata Moura e Celso Cruzeiro.

Raul Castro cumpriu serviço militar na Guiné no período de 1970-72 na CCART 2743, Batalhão 2920. Passou por Babadinca/Bafatá, até se fixar em Geba, onde descobriu uma nova sensação, chamada “medo”… À sua volta sentiu e constatou muita impreparação do pessoal. Um Alferes da sua Companhia foi castigado e com isso teve a responsabilidade de comandar um Pelotão.

 Era uma zona de Fulas, e Raul Castro lembra-se de algumas tradições que hoje consegue recordar com um sorriso. Aos olhos de um europeu um casamento parecia um funeral. E um funeral parecia um casamento!

O ritual do lençol manchado de sangue que, após a consumação do “acto ”era mostrado na tabanca, com algumas vozes a dizer em voz baixa que era “sangue de galinha”…

Recordou a importância do “dia do correio”, com a chegada da avioneta com a mala “cheia de notícias”, que atenuavam algumas saudades. Recebia também o jornal “A Bola”.

Depois havia a guerra. Com ataques e emboscadas. Em datas e circunstâncias estranhas. Muito estranhas. O comandante da Companhia, o Capitão Miliciano Ilídio Moreira tinha sido na vida civil engenheiro agrónomo e colega de curso de Amílcar Cabral. A sua mulher e a do fundador do PAIGC eram amigas desde o tempo da Faculdade.

Lembra-se de algumas coincidências e circunstâncias estranhas que se passavam no dia-a-dia. Quando o Capitão Ilídio Moreira estava no quartel não havia ataques. A maior tragédia da CART 2743 aconteceu em Agosto de 1970, quando sofreu um ataque em Cantacunda, de que resultaram 7 mortos (um cabo e seis soldados). O Comandante de Companhia estava de férias. Depois desse episódio o Alferes do pelotão que foi emboscado entrou em depressão.

O segundo ano da sua comissão foi muito complicado. Convenceu-se que não ia regressar e preparou a sua mãe para o pior. Também levantou minas e podia ter lá ficado.

Noutra altura o quartel foi atacado. Soube-se posteriormente que alguém estranho tinha estado no quartel e deve ter dado informações ao inimigo.
Independentemente destas “coincidências” também é verdade que houve muitos acidentes na Guiné, com consequências fatais.

Para terminar, Raul Castro, salientou que foi no perigo que se constroem os laços mais fortes da amizade, que vai durar até ao resto da vida. Aqueles homens eram capazes de dar a vida uns pelos outros. 

Será que perdemos ou ganhámos 2 anos de vida enquanto andámos na guerra? A guerra da Guiné foi diferente de todas as outras e deixou laços fortes – com os outros que lá estiveram connosco e com a população.

Tem uma grande nostalgia desses tempos. Já voltou por quatro vezes à Guiné. Uma das vezes – há cerca de 20 anos – fez todo a viagem de jeep. As populações continuam a gostar dos portugueses e perguntam vezes sem conta: ”Quando é que você voltam?”.

As elites não pensam assim. O negócio da droga é altamente lucrativo para uma minoria, que tem poder. E está no poder. As populações vivem miseravelmente. E pagam a pesada “factura” destes novos tempos.

Depois da intervenção de Raul Castro voltou a pedir a palavra Joaquim Mexia Alves para relatar que na sua zona também tinham acontecido “coincidências”. A propósito contou a história de um comerciante do Xitole, Jamil Nasser, com quem estabeleceu amizade, que ao saber que ele ia fazer uma coluna em estradas altamente perigosas o tentou dissuadir de fazer tal coluna. Não conseguindo demovê-lo do intento, o Jamil apresentou-se com duas camionetes de mancarra para ir também na coluna. O resultado foi que a coluna decorreu sem qualquer incidente.

Depois das duas intervenções seguiu-se o período aberto ao debate. Apesar dos esforços do moderador, este nem sempre correu da melhor maneira devido a intervenções demoradas.

Foram focados os fuzilamentos dos militares nativos que tinham combatido pela Bandeira de Portugal e cujas famílias nunca receberam qualquer ajuda do Estado Português.

Um sargento do Quadro, que fez 2 comissões da Guiné, falou longamente do sofrimento que passou durante esses 4 longos anos da sua vida. 


Outro testemunho de um ex-militar de tropas especiais referiu a falta de preparação da “tropa macaca”, e que não se orgulhava da sua passagem pela guerra. Da mesa Joaquim Mexia Alves salientou que ninguém, até ali, tinha feito a apologia da guerra.

Um oficial presente, com uma comissão em Catum (Mata do Cantanhez), também relatou a sua experiência pessoal entre 1963 e 1965.

E depois Guileje e o seu abandono pelas tropas portugueses foi um tema também longamente tratado.

Muita coisa foi dita. E muito mais terá ficado por dizer. Razão teve Raul Castro quando disse que uma reunião deste tipo deveria começar às 9 da manhã e acabar às 9 da noite.

Uma noite dormida sobre a tertúlia 25 de Outubro faz-me dizer que… não me saem da cabeça as “coincidências” em teatros de operações de que falaram Raul Castro e Joaquim Mexia Alves.

Se a “Intelligence” portuguesa tivesse funcionado melhor muita coisa podia ter acontecido de maneira diferente. Ou não ter acontecido… A PIDE terá talvez andado demasiado “com o olho em cima” dos militares portugueses e não atentou à realidade local !!!

 

JERO





domingo, 27 de outubro de 2013

P389: JÁ NÃO HÁ VAGAS!

ENCERRARAM AS INSCRIÇÕES PARA O
ALMOÇO DE 30 DE OUTUBRO!

Reproduzimos o texto inserido como comentário no poste anterior:

"Com estas duas inscrições e mais uma que veio por mail completámos as 60 inscrições e conforme hoje combinado com a Pensão Montanha, não poderemos aceitar mais inscrições.

Poderemos um mês pensar em alargar o número de inscrições, mas então o prazo limite terá que ser mais encurtado.

Vamos ver se é possível.

Um abraço a todos e viva a Tabanca do Centro
Joaquim Mexia Alves"

Chamamos a atenção para o interesse em fazerem as vossas inscrições para os nossos encontros com a maior antecedência possível, de modo a garantirem a vossa presença.

sábado, 26 de outubro de 2013

P388: LEMBRANDO O NOSSO CONVÍVIO DE 30 DE OUTUBRO


NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA
Completadas 60 inscrições, já não podemos aceitar mais camarigos para este mês.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

P387: SABER APROVEITAR OPORTUNIDADES...


É claro que tudo isto só se poderá concretizar se a água não se escoar nos próximos tempos...

                                                                                         Miguel Pessoa + Almirante Vermelho

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

P386: LANÇAMENTO DE NOVO LIVRO, NO MUSEU DO ORIENTE



“TODA A CHINA”, DE ANTÓNIO GRAÇA DE ABREU

 Publicitado nestes últimos dias nas páginas do blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, decorreu no passado dia 22 o lançamento de nova obra do nosso camarigo António Graça de Abreu, membro da Tabanca Grande e com alguma regularidade conviva nos encontros da Tabanca do Centro em Monte Real e da Tabanca da Linha em Cascais.

O local escolhido para a apresentação – o Museu do Oriente – terá sido o sítio mais adequado ao tema do livro agora lançado, “Toda a China” (Vol. I), escrito por quem, segundo o editor e o apresentador da obra, será “o português que mais bem conhece a China, toda a China”.

Logo nas primeiras palavras de apresentação, Manuel Fonseca – da editora “Guerra e Paz”, que editou a obra - refere a já longa associação do nosso camarada António Graça de Abreu com a sua editora, que remonta ao tempo da sua fundação e incluiu a edição do seu “Diário da Guiné”, culminando agora neste novo livro (e no que se segue, dizemos nós...).. 

Todas as 23 províncias, 5 regiões autónomas, 4 municípios centrais e 2 regiões administrativas especiais, foram visitadas ao longo de trinta e seis anos de jornadas e estadas do autor na China, país imenso, tão grande como a Europa. A sua experiência e o profundo conhecimento adquirido da geografia, história e do património cultural deste país estão bem presentes na obra agora editada. Por essas razões a editora refere o seu grande prazer e honra por ver que esta associação se mantém depois de todos estes anos.

O embaixador João de Deus Ramos, que teve a seu cargo a apresentação da obra, lembrou a amizade que mantém com o autor desde o longínquo ano de 1979, quando chegou à China na abertura da nossa Embaixada em Pequim. 
Não tem dúvidas sobre a afirmação de ser o autor o português que melhor conhece a China, o que aliás é confirmado por esta sua nova obra. Não apenas pelo facto de ele ter chegado a todos os cantos do país, mas antes pelo conhecimento profundo que adquiriu da sua história e das gentes que ali habitam.


Naturalmente uma obra de pouco mais de 360 páginas não pode escalpelizar um país imenso como a China. Assim, o livro é uma acumulação de pequenas histórias passadas nos mais diversos locais, descritas com o estilo e sentido de humor que todos conhecemos deste nosso camarada, e que no seu conjunto dão a conhecer a história, o património cultural, as transformações sociais e políticas e a forma de vida daquele povo.

Rodeado por muitos amigos que quiseram estar presentes nesta apresentação, o António Graça de Abreu pensa já certamente em ver nos escaparates das livrarias o segundo volume, programado para 2014!
                                                                               Miguel Pessoa

Link para fotos da apresentação:
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.578507752215631.1073741858.441239522609122&type=1

P385: NA LIVRARIA "ARQUIVO", EM LEIRIA



SESSÃO SOBRE A GUINÉ, NO PRÓXIMO DIA 25 DE OUTUBRO
ÚLTIMO AVISO

Relembramos os nossos camarigos que já se iniciaram as designadas “Tertúlias dos Combatentes”, organizadas pelo Jornal de Leiria e pela Livraria Arquivo, com a colaboração do Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes.
E, já no próximo dia 25 de Outubro, pelas 18H00, com especial interesse para o pessoal da nossa Tabanca, realizar-se-á mais uma “tertúlia”, que terá como tema a Guiné.

A sessão decorrerá numa sala da Livraria Arquivo, na Av. Combatentes da Grande Guerra, nº 53, em Leiria (refª  A no mapa junto). Estarão presentes e irão relatar as suas experiências Raúl Castro, Presidente da Câmara Municipal de Leiria, Jorge Martins, industrial e Joaquim Mexia Alves, todos eles combatentes da Guiné.

Se estiveres disponível  junta-te ao grupo para partilharmos as nossa vivências naquele território e naquela época, pondo-se mesmo a possibilidade de o convívio poder prosseguir durante um jantar na zona, após a sessão.

Lá vos esperamos!
Joaquim Mexia Alves