sábado, 26 de novembro de 2011

P154: DIÁLOGOS EXPLOSIVOS DOS MARRETAS DO CENTRO - 4

CARTA DO COMANDANTE DA FRELIBU

Exmº Sr. Joaquim Mexia Alves, mui conceituado régulo da Tabanca do Centro
Exmº Sr. Miguel Pessoa, digníssimo director da conceituada revista Karas
Exmºs srs.,
Escrevi um texto que agora anexo aproveitando a oportunidade para apresentar o meu mais enérgico, impetuoso, entusiástico e veemente protesto, contra a discriminação que há na publicação dos comentários, a fazerem-me lembrar outros espaços.
Deve andar por aqui mãozinha do senhor de Morais a quem o texto era destinado que até contou as palavras que eu escrevi para se desculpar que não tinha espaço...
Peço aos meus ilustre interlocutores a análise da minha missiva e a sua publicação onde julguem mais consentâneo com a sua elevada qualidade.
Antecipadamente grato,
Comandante da FRELIBU.

Texto enviado em anexo à mensagem anterior:

Exmº sr. Director da revista KARAS,
Ao abrigo da lei da imprensa que, creio, é praticada na sua revista, solicito a publicação do meu texto.
O SENHOR "DE MORAIS" É Um Inveterado Andrade e um perigoso DRAGÃO!
"Dragão" e dos "Supers", capaz de disparar em todos os sentidos, mas olvida-se que os veros intelectuais, como é o meu/nosso caso, para além da sua sabedoria e apuro, cultivam também com desvelo a capacidade que o espírito tem de reconhecer e localizar fenómenos passados que registam no seu livrinho de lembranças a que outros chamam de "memorial".
Apesar de ser Comandante da Frente de Libertação de Buarcos, abaixo designada por FRELIBU, sou um homem pacífico pois, confesso, sinto já alguma dificuldade em desembainhar a espada, ao contrário de algumas gargantas que trocam cores e se armam em grandes “artistas”para inglês ver….
Venho pois a terreiro, sem intuitos bélicos, mas em defesa de dois grandes vultos da nossa sociedade, o senhor Almirante Vermelho e sua Senhoria D’A, personagens de altíssimos conhecimentos que, inclusivamente, vêm os seus escritos publicados desde o círculo polar árctico, nas terras distantes da Lapónia, até terras californianas pátrias do Capitalismo que nos vai conduzindo às sacudidelas…mas lá vamos andando!
O senhor de Morais diz em comentário enviado para o sr. director “ verbum pro verbo”:
             “Temos aqui um nítido caso de desdobramento de personalidade”
Para logo de seguida “azular" com ar de poeta galhofeiro uns pseudo versos , aproveitando para fazer rimar "eloquência" com “demência”!
Sabe-se de fonte segura que o tal de Morais, em férias termais no centro do país, escreveu a versalhada envergando bonito calção azul decorado com pequenas cabecinhas louras de um tal Hulk, conhecida personagem da "banda animada".

Mas sabem os distintos leitores onde é que o tal de Morais bebeu essa do desdobramento? No chefe da banda dele!
Respiguei da revista, das boas, não de qualquer pasquim; "O presidente Costa, conselheiro do  Morais, acusou o grande timoneiro Vieira de sofrer de "desdobramento de personalidade". O "de" Morais, sagaz, logo lhe telefonou a perguntar pormenores, para utilizar  a frase bombástica no seu escrito.

Esqueceram-se das escutas, bem guardadinhas em cofre forte, que eu passo a citar:

"Bom dia, Mestre!"
"Olá, Morais, como vais?" (O tal de presidente também é poeta e dos bons...)
"Explique-me lá essa do desdobramento, que eu preciso de atacar um sacana que tem a mania que é intelectual..."
"O morcon do Orelhas é presidente do SLB, aprendeu a nadar na piscina do Sporting e é sócio do nosso amado "Fêquêpê"."
"Mas isso é tridesdobramento!"
"Ó Morais, não me fales em três que eu ando cá "cum  pressentimento" do pipipipi..."
Mesmo avisado o "de" Morais atacou e atacou mal.

Sabe-se de fonte segura que na sua juventude de fadista “pop”,calcorreava as ruelas do Bairro Alto, protegendo o pescoço com um cachecol da Juve Leo, cantando apenas e só em solares de nobres e viscondes que vinham de Alvalade para o ouvir. Diz-se, ainda   não consegui apurar, que o tal “fado do embuçado” se passou com ele!
Os outros é que desdobram, não é sr. “de” Morais?....

Provada a acusação eu, chefe da FRELIBU, partiria agora para o ataque gratuito arrasando os despautérios do senhor “de” Morais! Mas, não! Eu sou um intelectual, melhor, tornei-me um intelectual após a leitura de recensões e recensões de conceituados psicólogos, pelo que optei pelo tom didáctico, pedagógico, instrutivo e aproveito até para elevar o nível da revisteca Karas que se  abre a qualquer gato pingado escrevinhador, em vez de pugnar pela qualidade dos seus colaboradores, aqui deixando dois poemas:

LIBERDADE

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa…
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca…

Autoria:Fernando Pessoa

BOCAS ROXAS

Bocas roxas de vinho,
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa;
Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.
Antes isto que a vida
Como os homens a vivem
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.
Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.

Autoria: Ricardo Reis

Para os mais distraídos a poesia acima transcrita pertence apenas e só a um grande ser Humano. Os nomes ou se quiserem as personalidades  apenas realizam distintas interações entre o autor e a poesia.
Tal como o faz, aliás com brilho reconhecido, o Almirante Vermelho ou a Senhoria D’A.
O texto está longo e portanto passível de ser cortado pelo director, que se assim proceder, bem pode mudar o nome do pasquim Karas que dirige(?) para outro mais condizente com os amiguinhos, “KARASANTAS”.
O Comandante da FRELIBU
PS - Peço apenas que este artigo fique retido na redacção da sua revista até ao  dia 19 de Novembro para que possa tirar a prova dos três. (Nota do editor: E é que tirou mesmo! Foram três secos...)

CARTA DO EDITOR DA “KARAS”

Ex.mo Sr. Joaquim Mexia Alves
Tendo recebido esta missiva do auto-intitulado dirigente da FRELIBU, tenho a dizer o seguinte:
A revista Karas é uma publicação periódica mensal que se insere num espaço mais amplo, o blogue da Tabanca do Centro, que V.Exª tão sabiamente dirige. A "Karas" responsabiliza-se exclusivamente pelo que nela é publicado e não assume por isso qualquer comprometimento relativamente aos comentários que no blogue são publicados, sejam sobre a revista ou sobre qualquer outro assunto.
Nesse sentido e por considerar ser este um assunto que ultrapassa a área de actuação desta revista, sugiro  que ao abrigo da Lei de Imprensa V.Exª publique os textos enviados pelo Sr. Frelibu no espaço do seu site, como uma carta aberta que, de acordo com o seu conteúdo, presumo que seja dirigida a V.Exª.
Com os meus cumprimentos
O editor da "Karas"

CARTA DO RÉGULO DA TABANCA DO CENTRO

Exmos. Senhores
Vasco da Gama e Miguel Pessoa
Recebidas que foram as vossas mensagens, iremos sem dúvida arranjar um espaço para publicar este protesto agora chegado.
Não sei se o Senhor de Morais terá algo a dizer, mas desde já peço a autorização ao Exmo. Senhor Vasco da Gama, para se chegar às minhas mãos uma resposta do referido Senhor de Morais, a colocar no seguimento deste seu texto, a qual obviamente poderá depois replicar.
Claro que a minha vida não é esta pelo que em devido tempo, tal será publicado.
Com a minha sincera e disponível gratidão
Joaquim Mexia Alves

CARTA DO COMANDANTE DA FRELIBU

Querem a papinha toda feita… pois segue em anexo o comentário do Sr. de Morais, publicado na edição especial (?) da revista Karas de Outubro e que aparece numerado como comentário 13.
Espero, sinceramente, que o sr. Joaquim Mexia Alves não se escude em tarefas muito urgentes para adiar "sine die" a resolução deste protesto que se pode transformar em crise estrutural.
Os meus sinceros respeitos, não sem antes ter apontado no meu "memorial" o silêncio cúmplice do director/editor.
Vasco da Gama

Em 31OUT o Senhor de Morais tinha dito...

Oh pá, isto agora complicou-se!!! Temos aqui um nítido caso de desdobramento de personalidade! O Senhor D’A já não se reconhece como Almirante Vermelho e a fase ilusória da doença já o leva a escrever a si próprio, auto-elogiando-se!!!
A coisa está mal!
Acho que já nem com uma sessão de Cozido à Portuguesa a coisa melhora.
Oh diabo, que aquela eloquência rima com “demência”!!!
Bem, compreende-se: o saber que a força do mar vai atacando o seu querido Buarcos, destruindo-lhe paredões e sabe-se lá mais o quê, teve um efeito devastador no seu equilíbrio e levou tão preclaro amigo a desdobrar-se em personalidades, (ainda falta o comandante de uma tal FRELIBU), já não sabendo quem na realidade é esse distinto atabancado ao Centro, que todos tanto prezamos!
Eu sabia que isto de ter vários pseudónimos não ia acabar bem!!!
Enfim, acredito que um almoço de Natal, na Tabanca do Centro, lá para o fim de Novembro, a coisa volte à normalidade.
Seu admirador preocupado
Senhor de Morais

CARTA DO RÉGULO DA TABANCA DO CENTRO

Sr. Vasco da Gama
O assunto está a ser tratado condignamente como Vossência merece.
A resposta do Senhor de Morais será a este protesto do Comandante da Frelibu.
Mas o referido comandante tem a porta aberta para replicar, obviamente.
Sempre ao dispôr
Joaquim Mexia Alves

CARTA DO Sr. DE MORAIS

Resposta ao Protesto de um pobre iludido

Eu não disse???
Eu avisei que estes desdobramentos de personalidade são perigosos!
Agora já vem o tal de Comandante da FRELIBU.
Que raio de nome!
Até apetece dizer: Frelibu, Frelibu, …! Não digo o resto que me vem à cabeça.
Calculem bem que os devaneios deste Senhor, o levam a comparar-se, SÓ com Fernando Pessoa!!!
E para mostrar a sua pretensa intelectualidade, faz “copy/paste” de uns versos “arrebanhados” no google, assim como se já alguma vez os tivesse lido!!!
O pobre comandante da FRELIBU vem invocar, coitado, como prova da sua ”intelectualidade”, (não me posso rir porque estou com cieiro), uns escritos que terão sido publicados em espaços da Lapónia, ou Califórnia, (nem ele sabe bem).
Espaços, (que distintamente do seu autor, o Sr. De Belo), são conhecidos por apresentarem umas moçoilas louras, de olhares langorosos e por vezes mais ou menos expostas, apesar do frio daquelas paragens, (na Lapónia, está visto).
Ora isto diz bem da “intelectualidade” do dito cujo comandante.
E depois chama-me “Andrade” e perigoso Dragão!!!
Um pobre “Lampião”, armado em Águia que de tão depenada, já não voa, mas apenas se arrasta pelos relvados, que já foram de Luz, mas agora…
E vem invocar pretensas conversas com um tal Presidente Costa, que não deve ser com certeza o Presidente do FCP, pois senão o Comandante, (de quê? Não me lembro do nome?), teria de dobrar a cabeça em sinal de respeito.
Mas, escrevia eu, umas tais conversas acerca de um tal Vieira que, se não sofre de desdobramento de personalidade, sofre sem dúvida de um desdobramento de “orelhas”, ou seja, de um desdobramento de audição que o leva a ouvir coisas que não existem!!!
Enfim, para quê perder tempo com tais dislates, que apenas são fruto de uma cabeça, sem dúvida, com um fortíssimo desdobramento de personalidade!
Quanto ao passado fadista, não se meta o tal de Comandante, (de quê? Ai que não me lembro?), agora ainda por cima que o fado vai ser elevado á condição de património mundial, pelo que, o tal Comandante da …, (ai que me falha a memória), devia era ter muito respeitinho e estar agradecido, homenagear aquele que se dedicou em tempos da sua vida a tão respeitada e honrosa actividade, como é a de fadista.
Quanto às insinuações sobre um tal cachecol, apenas posso afirmar ao tal Comandante, (como é que raio se chama a coisa de que ele diz ser comandante?), que para além de sofrer de um nitido desdobramento de personalidade, também sobre de um terrível atrofiamento da vista!!!

Para si, e para as suas personalidades, aqui lhe deixo uns versos, em boa rima popular portuguesa:

Ó Almirante Vermelho,
grita o Senhor D’A,
chegue-se perto de mim,
para que lhe dê um conselho.
Ó Senhor D’A,
grita o Almirante Vermelho:
pois meu Senhor és tu,
chamas mesmo por mim,
ou pelo comandante da Frelibu?
Alguém falou em mim,
comandante da Frelibu,
ou são os meus ouvidos
que ouvem,
a voz de um homem velho:
será o Senhor D’A,
ou o Almirante Vermelho?
Dão-se as mãos os três,
que afinal são só um,
rodopiam e dançam,
saltitam e esbracejam,
todos a uma só vez.
Depois vem a ambulância,
com aquele “coletinho” branco,
que prende atrás,
com um suspensório,
e acaba a gritaria,
com a entrada no…
sanatório!!!



Mas, sensível como sou às desgraças dos outros, fico disponível para o abraçar no almoço de Natal da Tabanca do Centro, onde espero já tenha tomado os seus comprimidos, e possa assim desfrutar da companhia dos seus camarigos.
Tenho dito
Senhor de Morais


(Apoio gráfico de www.vracimages.com e www.fotosearch.com.br, com a devida vénia)


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

P151: AVENTURAS DE UMA NOTA DE 10 EUROS - 1



Nasci na zona de Lisboa, mas pouco tempo lá estive. Cedo me transferiram para um Banco em Monte Real, onde fui guardada cuidadosamente dentro de um cofre, juntamente com as minhas irmãs. Muitas de nós, sem qualquer experiência da vida, aguardávamos os ensinamentos de outras mais experientes. Finalmente, de um molho de notas evidenciando já um certo desgaste, destacou-se uma que, com base na vida errante já levada, nos explicou o que iria ser o nosso futuro – passadas rapidamente de mão em mão, amassadas por gente que pouca atenção nos dedicaria, facilmente trocadas por objectos de pouco valor, outras vezes aferrolhadas a sete chaves junto com outras por pessoal mais avarento, por isso afastadas do convívio com novos conhecimentos.
Não passou muito tempo até ser colocada junto com outras irmãs dentro de uma caixa à porta do Banco. A mais velha explicou-nos rapidamente que estava para breve o nosso primeiro contacto com as pessoas, aquelas que seriam os nossos donos, de quem iriamos passar a depender e que, com as suas decisões, iriam influenciar totalmente o nosso futuro.
Razão tinha a mais velha no que tinha previsto, que ao fim de umas horas rapidamente me vi disparada de dentro da caixa, juntamente com outras irmãs de 20, 10 e 5 euros e metida numa carteira que rapidamente foi guardada pelo meu primeiro dono.
Sentia-me curiosa e, embora abafados pelo cabedal da carteira e pelo bolso do casaco, tentei ouvir os sons à nossa volta. Compreendia razoavelmente o que se dizia em redor, principalmente o meu dono, possuidor de uma voz forte e imponente. Rapidamente soube que se chamava Joaquim e que era pessoa importante, pelo modo amistoso e simultaneamente respeitoso com que os outros se lhe dirigiam. Foi um tempo algo limitado mas que me deixou boas recordações, dadas as experiências interessantes que tive nesse curto período.
Foi assim que tomei contacto com um local chamado Café Central, onde o Joaquim (a quem por vezes chamavam Sr. Mexia Alves, não percebi muito bem a diferença) se reunia com pessoas suas conhecidas. Eram momentos muito interessantes – umas vezes mais sérios, outros mais divertidos, mas que eu, face à minha inexperiência, tentei aproveitar ao máximo.
Notei que o Joaquim por vezes sacava a carteira do bolso e retirava uma das minhas irmãs, das mais crescidas às mais pequenas. Eu lá ia continuando guardada, mas sabia que o descanso não iria durar muito – alguma vez lá chegaria o meu momento de partir.
Foi então que tive o meu primeiro contacto com um local onde o Joaquim costumava almoçar, que percebi chamar-se Pensão Montanha. À pessoa que mandava chamavam  D. Preciosa e vi que ela mantinha um bom relacionamento com o meu dono. Foi um local que não esquecerei, devido aos cheiros fabulosos que me rodeavam. Pelos vistos o meu dono tinha a mesma opinião que eu pois não se fartava de gabar os cozinhados que lhe apresentavam. Foi por isso com pena por um lado (por me ver afastada do Joaquim) e satisfação por outro (por ficar naquela casa) que um dia vi o meu dono retirar-me da carteira e entregar-me à D. Preciosa. Entretanto ainda ouvi o Joaquim lembrar à minha nova dona: “Amanhã cá estarei com o grupo do cozido”. Claro que fiquei com curiosidade e desejei poder continuar na casa para descobrir o que iria passar-se ali no dia seguinte.
O meu desejo foi satisfeito pois por ali fiquei até ao momento ansiado. E do local onde fiquei guardada apercebia-me dos cheiros que voavam à minha volta – pela conversa dos clientes compreendi que aquilo era o tal cozido de que tinha ouvido falar no dia anterior. Já a hora de almoço ia avançada apercebi-me da entrada de um grupo que, manifestando-se ruidosa e alegremente, ocupou uma parte significativa da sala. Reparei no empenho com que a D. Preciosa e as suas ajudantes apoiaram o grupo durante a refeição. Apercebi-me também que entre os presentes estava o Joaquim, que era facilmente identificado pelo seu vozeirão e tive a esperança secreta de voltar à sua posse.
Esperança desfeita pois bruscamente fui retirada da caixa e entregue a um cliente de outra mesa. Já recolhida na sua carteira vi-me afastada de um ambiente que me tinha agradado bastante, dada a amizade e camaradagem que emanavam daquele grupo.
Os dias seguintes foram sem história, com altos e baixos e trocas frequentes de dono. Tinha-se passado quase um mês nestas andanças. E chegou o dia de voltar a um local que já conhecia: o Café Central! O meu dono, um cliente da casa, deu-me à empregada para pagamento da sua despesa e esta, depois de lhe entregar umas moedas, guardou-me cuidadosamente na caixa registadora. Ali fiquei descansada até ao fim da manhã seguinte.
Foi então que a empregada me retirou da caixa depois de ali ter guardado uma irmã maior e, juntamente com algumas moedas, entregou-me… ao Joaquim! Para além do espanto por este reencontro inesperado, senti uma satisfação enorme por voltar ao seu contacto pois ainda me lembrava do tempo que tinha passado na sua posse.
Apercebi-me então do reboliço à nossa volta e pela conversa que trocavam compreendi que o pessoal presente pertencia ao… grupo do cozido de boa memória! Afinal tinham estado a fazer tempo para o almoço e dirigiam-se agora para a Pensão Montanha para “mandar o cozido abaixo”, como alguém disse! E o mais agradável é que eu também ia, recolhida no bolso do meu primeiro e actual dono…
Sei que vou absorver com satisfação o cheiro delicioso que sai dos cozinhados da D. Preciosa. Também sei que irei sentir-me encantada por acompanhar as conversas, as chalaças e as manifestações de amizade que tinha observado um mês atrás. Apenas uma coisa me preocupa: No fim do almoço onde é que eu vou ficar? Continuo aconchegada no bolso do Joaquim? Sou dada à D. Preciosa como pagamento do almoço? Ou passam-me como troco para alguém do “grupo do cozido”? Bom, o melhor é não me preocupar com isso agora – vou antes aproveitar o momento, apreciando o cheirinho da comida e o ambiente fraterno de um grupo que me parece bem simpático!

MP

sábado, 12 de novembro de 2011

P149: ORGANIZANDO O ÚLTIMO CONVÍVIO DE 2011

Como é habitual, no mês de Dezembro não se realiza o convívio da Tabanca do Centro, por coincidir com o período das festividades de Natal. Assim, o almoço que agora publicitamos - marcado para o próximo dia 30 de Novembro - será o último a ocorrer em 2011. Embora com alguma antecipação este convívio pretende em simultâneo celebrar a época natalícia que se avizinha. Não deixem por isso de aproveitar esta oportunidade para estarem presentes neste nosso último encontro deste ano.


NOTA IMPORTANTE

Foi pedido pela Sra. D. Preciosa, da Pensão Montanha, que lhe dessemos a informação do número de camarigos
para o Último Encontro de 2011 - Almoço de Natal, até às 12h30m do dia 25 de Novembro,
em virtude de ter que gerir as reservas para este dia, por causa dos Encontros Natalícios.

Pedimos assim que tenham em vista este pedido, e não se atrasem, porque  a partir das 12h30m do dia 25 de Novembro
já não poderemos aceitar mais inscrições..

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

P148: O "FISHING" - NOVA MODALIDADE DE COMPRAS

Segundo informações de confiança e tendo em conta a experiência ganha no último inverno, em que a baixa de Buarcos ficou totalmente inundada, os comerciantes da zona resolveram aderir ao "Fishing". Assim, a área da peixaria mantém uma cota de água bastante apreciável e está repleta de peixes vivos (mais frescos não podem ser!), sendo fornecidas aos clientes canas de pesca para que estes possam escolher e sacar o exemplar que mais lhes agrade.
Esta modalidade de "Fishing" tem tido boa aceitação por parte dos clientes. Nos períodos das marés vivas, dada a subida do nível da água é fornecido equipamento de mergulho para a prática da pesca submarina.
Estas iniciativas estão a ser seguidas com atenção por outras cidades, podendo em breve ser abertas lojas idênticas na Ribeira do Porto, Régua, Baixa de Santarém, Sesimbra e Caxias. Pensa-se que outras localidades irão aderir igualmente no futuro. (Informação da Agência Abusa).


 MP                                

sábado, 5 de novembro de 2011

P147: DIÁLOGOS EXPLOSIVOS DOS MARRETAS DO CENTRO - 3

CÁ ESTÃO OS MARRETAS OUTRA VEZ,
A PROPÓSITO DA PUBLICAÇÃO NO BLOGUE DA REVISTA “KARAS” DE OUTUBRO

D’A:

Exmºs Senhores,
Se os comentários são fraquitos, titubeantes e um deles tem até de ser repetido, vá que não vá pois os efeitos do material líquido ingerido vão-se prolongando por mais algumas horas e são cada vez mais potenciados pelos anos que o pessoal vai acumulando pelo que oito horas após a sua ingestão os comentários ainda são feitos a quente!
Mas virem para aqui falar dos filhos advogados e gestores...só de "grandes músicos"!
Façam um conjunto e ponham o director da Karas de vocalista...E se não chegar a sua voz juntem-lhe a do Sr. Morais, assim se arranje microfone da sua altura!
E a que propósito o ferrete, o labéu, o estigma que o director da revista vem para aqui lançar sobre o país ao falar de crise!
A tal revisteca já tem nos seus quadros entendidos na matéria?
Onde é que sentiram a crise? Não estava a D. Preciosa cheia de tanta gente? Treinadores de futebol, combatentes da Guiné e outros "combatentes" garbosamente fardados...., povo anónimo que veio para nos ver...por favor dislates e despautérios deste tipo ferem um intelectual!
Tenha modos senhor director e contrate o Sr. Rogério, o Sr. Vara, o Sr. Melancia e suba o nível, ou um dia destes acorda com grande melão e sem leitores para a revista!
Ponha o Sr. Belo a escrever editoriais em luso-lapão-sueco que darão outro andamento á tal de "KARAS " e vai ver como aumenta o número de leituras, embora diminua o número de leitores, pois o luso-lapão anda a escrever para o arrevesado e até eu já tive de aumentar algumas páginas ao meu dicionário!
E as fotografias, meu Deus!
Fiquei pasmado pela sua falta de qualidade e por a mudança que se vai abatendo sobre essa Tabanca:
O Almirante, esverdeou
O Jero azulou e..."encostou"
A Giselda, fiel, avermelhou
E o cozido terminou!
Sejam justos e vejam se a minha brilhante recensão, modéstia à parte, está ou não nos "conformes".
Olhem que é para vosso bem!
Senhor D'A

MORAIS ALVES:

É a segunda vez na minha vida que me calha num almoço um intelectual pela frente.
O primeiro, (já há largos anos), na perspectiva de me causar qualquer receio, quiçá, espanto ou admiração, disse-me na minha cara, (esta que a terra há-de comer), afirmando alto que eu não sabia com quem estava a falar, pois ele próprio, o meu interlocutor era, segundo ele próprio, um intelectual!!!
Pasme-se!!!
Vem agora um Senhor D'A, afirmar-se também por escrito, como detentor de tal "títalo", ou seja, um intelectual!!!
E depois, pasme-se mais uma vez, vem dar como referências um tal de Rogério, um tal de Vara e um tal de Melancia.
Isto apenas me faz lembrar que talvez um tal Rogério, tivesse uma Vara de porcos a quem dava de alimento Melancia. Será a isto que o Senhor D'A se refere???
Pode o tal primo do Fernando, o Pessoa, de seu nome Miguel, ficar descansado, pois que a sua revista Karas é apreciada nos mais elevados areópagos internacionais.
E ao tal intelectual Senhor D'A, devo informá-lo para ter cuidado com as recensões, não vá ser apanhado nalgum dislate pernicioso!
Disse!
Morais Alves

D’KARAS:

Resolvo relaxar um pouco dando uma vista de olhos aos comentários à última revista “Karas” e deparo com um texto avinagrado, assinado por um tal “D’A”. D’A quê? Lendo melhor o texto, vejo que só pode ser D’A maledicência, pois ao longo da lenga-lenga se adivinha um sujeito azedo, com raiva de tudo e todos…
Insinua o D’A que sou um arauto da desgraça, agitando o fantasma de uma crise que, no seu douto entender, apenas existe na minha imaginação. Pois deixe-me dar-lhe um conselho, Senhor D’A: Deixe de ver o Canal Panda. os “Morangos com Açúcar” e a  “Casa dos Segredos” e debruce-se sobre a vida real, bem visível nas notícias divulgadas pelos órgãos de comunicação social…
V.Exª deita abaixo a qualidade das fotos apresentadas. Para isso também terá contribuído algum dos fotografados, quer na apresentação (lembro-me, por exemplo, do Almirante Vermelho envergando uma camisola desbotada que não fazia jus ao seu nome), quer no seu comportamento conflituoso resultante de um consumo exagerado de sumo (deixo ao critério dos leitores adivinhar de quê…).
E assume-se V.Exª como intelectual (com c, claro, pois certamente pertence àquele parque jurássico que parou no tempo, não aceitando a evolução natural dos tempos.
Numa coisa devo reconhecer que V.Exª terá alguma razão: Tenho por vezes dificuldade em compreender as comunicações do Zé Lapão. Mas reconheço que dois factores poderão contribuir para isso: Por um lado, a dificuldade de escrever um português claro com um computador que não dispõe do til e da cedilha, fundamentais para uma escrita clara da nossa língua; por outro lado, as dificuldades naturais de quem está afastado do país há longos anos e tem como referência principal os textos execráveis que V.Exª  lhe vai fazendo chegar. Bom, isso quando o consegue fazer, pois o dito lapão é das personagens mais escorregadias que eu conheço, dispondo de um computador encriptado que rejeita qualquer contacto – mais parecendo uma daquelas máquinas “Enigma” da 2ª Guerra Mundial.
E por agora me fico.
D´Kara


D’A:

Camarigos,
O director da Karas gosta, eu já tinha desconfiado, de relaxar! Pois relaxe à sua vontade que a mim valores mais altos se alevantam e não alinho no seu clube de “relaxados”, antes pertenço a um grupo de vencedores, de veros combatentes e de bons comedores e bebedores, daqueles que não precisam de vinagre para coisa nenhuma.
Não o conheço mas pelo seu amor/desamor ao vinagre deve ser um desses magricelas que para manter a linha de pipi ingere esse produto de fermentação acética do vinho e de outras substâncias alcoólicas!
Não perco tempo com nenhum dos programas que o director, conhecedor profundo da programação televisiva, enumera, antes me mantenho informado da realidade seguindo com atenção redobrada o Sr. Goucha e sua “partenaire” que com a sua estridente voz me faz lembrar a sirene da Lisnave, ouço com toda a atenção a senhora dona Júlia Pinheiro, outra guinchadora de relevo, e logo pela manhã sigo com toda atenção a senhora dona MAYA, essa conceituada astróloga e grande benfiquista que deita cartas e adivinha o futuro. Como vê, senhor director; para além de profundo conhecedor do presente, sei antecipadamente o que se vai passar! Quem é o ignorante, quem é?
Digo-lhe até que consulto uma Tabanca Maior do que aquela a que o senhor pertence para me preparar para o dia-a-dia na forma mais escorreita de lidar com a “entourage” de intelectuais que me rodeia mesmo quando se trata de análises profundas e polissémicas do órgão copulador masculino! (Ai vais ao dicionário vais, ou então pergunta ao Morais).
No que às fotos diz respeito pelos vistos concorda comigo e se ler com atenção o meu texto lá vem : O Almirante Vermelho, que o senhor diz ter comportamento conflituoso,   esverdeou! Eu, que também não conheço tal personagem, mas que deve pertencer à sua seita, estou de acordo com ele, face ao texto que o sr. Abreu China, outro intelectual de vulto,  tão bem explanou sobre o Verde. Leia e aprenda senhor director, não se fique pelo insulto gratuito!
Da ofensa gratuita passa depois ao dissertar “atrevido”! Quer-me corrigir por eu ser um intelectual com “c”! Sou um intelectual com “c”, sim senhor,  pois o acordo a que faz referência só entra em vigor em 2012, sabia senhor director? (se quer aprender mais, pergunte ao Morais!).
Mas o pior está para vir! O homem, embalado nos dislates de grafia, morfologia e sintaxe  chama a um grande administrador de um dos mais conceituados blogues da nossa estratosfera a “LAPPLAND  KEY - WEST de Zé Lapão!!!! Mas que confiança é essa??? Será que andaram na mesma escola?
Mete-se com o til e com a cedilha de D. José e depois apelida-o de escorregadio! Só lhe faltou dizer que D. José é tão escorregadio como o tal polissémico analisado…
Espero que D. José, que ao que consta é amigo do senhor Obama e está de visita aos States, após ler este meu manifesto venha a terreiro defender a sua cedilha e o seu til e casque no director e no compincha, o tal Morais.
Tenha uma santa e feliz “noute” que agora me vou à deita!
D’A

Zé Belo:

Para já, um esclarecimento da maior importância quanto à "re-puta-bilidade" do meu computador Lapão. Ele não tem estado "encriptado" mas simplesmente... "esquentado". Aguentem lá os cavalos! Esquentado, na linguagem da técnica complicada de "com-putar". Ou seja...com-puta a mais (Ou isto por aqui não fosse a Suécia!). Quanto à qualidade e nível (?),dos textos que um tal D'A vai enviando para aqui (para mais, discretamente metidos em envelopes castanhos, como os de "certas revistas" dos anos sessenta, vendidas por de baixo do balcão) será melhor não se ventilar, pois os traumas sofridos pelos jovens ingénuos, lá para os lados de Buarcos, quando tais revistas lhes eram vendidas (por bom dinheiro!),e vinham a descobrir, já em casa (para onde desde logo corriam),que dentro dos envelopes estava a Revista Paroquial... justificará algumas das atitudes... menos compreensíveis, por parte do Senhor D'A.
Quanto à crítica da morada dos e-mails aí tenho que (humildemente como sempre!) aceitar. Mas tudo terá a ver com uns galdérios e galdérias, esquerdalhas, que decidiram uma voluntariosa proclamação da República Livre da Lapónia Lusitana. (Exmos. Senhores Juízes dos Conselhos Superiores de Disciplina do Exército: Eu não tenho, (mais uma vez!), NADA a ver com isto!). Por aqui as paredes não são muitas, e os muros praticamente não existem, mas não é que esta maralha decidiu começar a pintar murais por toda a parte!? É claro que os nossos murais do PREC, principalmente os mais... "voltados ao Oriente"... tinham outra qualidade artística! Mas isso não é para aqui chamado. Será antes assunto a debater com os meus Caros Amigos Graça de Abreu e Durão Barroso.
Mas este comentário já vai longo e, se repararem na hora do mesmo... está quase a ser altura de mugir as renas.
(…)
O meu e-mail FUNCIONAL é (josephbelo27@gmail.com) e a ligação à Lapónia-Lusitana-Livre é http://www.lapplandkeywest.com/ . O 27 é muito importante! Porquê? Porque faltam 42 para 69! E, 42 é 24 ao contrário. Ao dividir-se 24 por 4 obtém-se o numero 6, que em sueco se escreve… "sex", precisamente como se escreve a palavra"sexo". Estäo a acompanhar o raciocínio? É lógico, profundo, e acaba sempre por ir dar ao mesmo... ao importante! (Espero que os Camaradas e Amigos compreendam as vantagens imediatas de me ter casado há décadas com uma médica psiquiátrica. Ou seja, uns bons descontozinhos no custo dos... electrochoques!)
Mas, mesmo muitos abraços em volta.
Zé Belo

D'A
Senhor D. José, está visto que a reaproximação ao mundo capitalista americano lhe está a fazer mal! Viesse esse comentário do frio e eu calar-me-ia, mas Vossa Senhoria, lembro-lhe, sabe que não é pelos ombros que se mete água e se molhada está a região dos meus espadaúdos ombros, tal se deve á cor da camisola que me obrigaram a envergar!
Como sou alérgico ao verde, aquela água que vê, vem de dentro para fora e não de cima para baixo, pois dessa abrigar-me-ia com toda a facilidade e treinado e bem como o fui na Guiné!
Passe bem e ponha lá um dólar em Las Vegas sem disso fazer alarido, se possível com a mão direita, que estas coisas não casam com o esquerdismo vanguardista.
Atentamente
Senhoria D'A

Moderador:

Bom, a conversa já vai longa e por agora temos que encerrar esta troca de mimos. Mas estamos sempre a tempo de a retomar, sobre este ou sobre outro assunto…
Até à próxima!



 MP

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

P146: CRÓNICAS DO JERO - O ZÉ ARRUDA, PRESIDENTE DA A.D.F.A.

Por JERO

Há um bom par de anos corria habitualmente cerca de 40 minutos no areal de uma praia do litoral Oeste. Do cais até à foz do rio de Salir eram cerca de dois quilómetros.
Numa das minhas habituais sessões de jogging do mês de Agosto avistei um casal que corria em sentido contrário. Aproximaram-se rapidamente e pelo seu ritmo solto, com passada leve e bem ritmada, deu para perceber que eram corredores de “alta manutenção”, numa forma bem melhor que a minha.
O homem era alto, de cabelo grisalho e usava óculos escuros. Durante a corrida amparava com o braço direito o coto do outro braço, pois era amputado da mão esquerda. A senhora era um pouco mais nova e tinha no seu rosto bonito traços achinesados.

Corriam a par, muito próximos um do outro, e pareciam tocar-se com frequência ao nível de ombros e braços.
Fiz um esforço para acompanhar o seu ritmo e o par passou a trio. Falámos da beleza do local onde corríamos e pouco depois percebi, com espanto, que o meu companheiro de corrida era cego. Os óculos escuros escondiam dois olhos que há muito tinham deixado de ver.
Compreendi então a razão dos toques de ombros e braços do casal que serviam para orientar a corrida do homem de óculos escuros.
Com o devido cuidado tentei encaminhar a conversa para um tema que nos aproximasse.
-“É rapaz para que idade ? Andou na guerra do ultramar?”
Respondeu sem qualquer tipo de problemas.
Tinha menos 10 anos do que eu, que na altura já tinha passado dos 65, e tinha combatido em Moçambique, onde em 1974 tinha sido vítima de uma mina anti-carro. O seu rebentamento tinha-lhe causado ferimentos graves na cara, com a perda completa de visão dos dois olhos. A sua mão direita tinha ficado em tão mau estado que obrigou à amputação.
Já tinham passado mais de vinte anos e a bonita senhora de traços asiáticos era a sua companheira.
A partir desse momento a conversa não mais parou e quase se pode dizer que nesse dia falámos mais do que corremos.
A aproximação entre ex-combatentes, dos que “andaram por lá” e falam a mesma linguagem, rapidamente se torna fluida e arrebatada. Combinámos um encontro para o dia seguinte e repetimos a corrida e a conversa, que nos aproximou mais um pouco.
No final desse segundo dia parecia que já nos conhecíamos há anos.
Despedimo-nos com um amistoso e prolongado abraço.
O casal ia viajar no dia seguinte mas contava voltar dentro de 2 ou 3 semanas à praia do litoral Oeste, onde nos tínhamos conhecido.
Passaram 15 dias.
No final de uma manhã de praia, quando ia comprar o jornal, vi do outro lado da rua, a cerca de uns dez metros, o casal: o homem alto de óculos escuros e a senhora bonita de traços asiáticos.
Gritei-lhes com entusiasmo: - "Oh Zé Arruda, Zé Arruda, estás por cá outra vez?”
O homem de óculos escuros virou-se rapidamente e respondeu ao meu grito :- “JERO, és tu JERO, estás bom?!”.
Fiquei momentaneamente sem palavras . Tinham passado duas semanas e ele “identificou-me” numa fracção de segundo!
Trocámos um abraço apertado. “Grande Zé Arruda!”.
Nos dias seguintes voltámos a correr e a conversar. A conversar e a correr.
Acabou o verão e voltámos às nossas vidas.
O tempo passou e não mais encontrei o Zé e a sua bonita companheira, que lhe dava vista na vida.

 O Zé Arruda no lançamento do livro "Dias de coragem e de amizade",
junto ao autor, Nuno Tiago Pinto

De vez em quando via-o na televisão e recordava com a minha mulher a história do grito de São Martinho do Porto. Que me tinha ficado gravado na alma.
Ontem vi de novo o Zé na SIC, a ser entrevistado pelo jornalista Mário Crespo.
O José Arruda estava nos ecrãs da televisão na qualidade  de Presidente da ADFA - Associação de Deficientes das Forças Armadas e no final da entrevista anunciava aos seus pares a boa nova.


«O Governo tinha decido manter sem cortes todos os subsídios dos deficientes das Forças Armadas, levando em conta as “entregas” já feitas no passado de olhos, braços, pernas, mãos e pés… em nome da Pátria.”
Gostei muito de ver o Zé. Está igual.
É claro que nunca mais vou esquecer o seu grito: ”JERO, és tu JERO.”
Sou, e esse grito é uma das “condecorações” da minha vida de ex-combatente. Está no meu coração. Para sempre.
Zé Arruda, mando-te um grande abraço de Alcobaça.
Que Deus te guarde.
JERO