segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

P28: 1º Encontro da Tabanca do Centro

.
.
A Reportagem do camarigo José Dinis


O autor da reportagem documentando-se fotograficamente.

O autor da reportagem documentando-se gastronomicamente.
É de reparar no ar prazenteiro com que o faz!



Já temos Tabanca do Centro, mesmo no meio, tendo em conta as auto-estradas que servem as grandes cidades do jardim. Foi inaugurada com pompa e cozido à portuguesa. Tinha que ser, com o mais representativo dos menus da nossa nacionalidade, nem era preciso mandar convites, ameaçar com numerus clausus, porque o pessoal desloca-se com certeza: é com certeza um cozido à portuguesa...
Mas esta Tabanca teve génese.
Imagino não errar, se disser que foi uma ideia germinada por quatro amigos da boa mesa, invejosos de outros já organizados, lá para as bandas de Matosinhos, no exacto momento em que, desvairadamente esfomeados, durante o regresso daquela terra de pescadores após uma refeição poética, congeminaram, também eles, organizar uma tertúlia afilhada da Tabanca Grande, onde lhes fosse permitido empanturrar e receber amigos. Os nomes? Bem, se os revelar não será, certamente, um acto de delação, por isso aí vai: ao volante, vi com estes que a terra há-de comer, o Juvenal Amado; depois, amontoados conforme as dobradiças lhes permitiam, o Pimentel e o Mexia Alves, dois matulões em qualquer parte do mundo; falta outro matulão, um insigne animador das hostes e que teria lugar de relevo na estória da Branca de Neve e dos anões, refiro-me ao grande Vasco.
Já os imagino, a devorar os quilómetros na direcção sul, sempre com o Código da Estrada como guia espiritual, e o Juvenal às guinadas na direcção, de cada vez que algum dos outros soltava uma risada ou procurava ajustar as carnes no espaço exíguo.
Cá para mim a responsabilidade foi, e é, deles. Porque uma tal responsabilidade pode perpetuar-se.
Escolhido o local, num estabelecimento cuja proprietária lançou invectivas temerárias, de cada vez que o Mexia Alves ia lá acrescentar um nome à lista dos convivas, a senhora puxou dos galões, que proprietária orgulhosa tem que comandar a tropa laboral, e fabricou um cozido que não a deslustrasse.
O pessoal mastigante foi chegando de maneira que não posso testemunhar, porque fui talvez o último, e abancaram numa mesa organizada num dispositivo em L, uma manobra inteligente, com vista ao ataque das carnes se elas se refugiassem no centro. Quando entrei em cena, já se afiavam as dentuças para o impreterível assalto.
O estudo da manobra, se correcto, era contestado pela formatura, um bocado irreverente, com gente a falar em todas as direcções, numa descompostura que me fez imaginar o pior. Fui, por isso, procurar um lugar discreto, junto das esposas, onde fui recebido com carinho entusiasta, pois ao surgimento das travessas, mimaram-me com belos pedaços de chispe, nabo doce, batatinha, enchidos muito gabados, e profusão de couves.
No outro lado da batalha, sem um comando disciplinador, era um vê se te avias, mas não chegou a registar-se qualquer baixa.
Atenta, a Dona Preciosa, a simpática comandante do local baconiano, veio junto de mim, por mais que uma vez, interessar-se sobre as minhas preferências, e lá voltava, de seguida, com um pratinho disto e daquilo, sobre o que manifestava vontade. As senhoras também se interessavam em saber sobre o meu nível de satisfação. Garanto, que a toalha ficou impecavelmente limpa, excepto no sítio do copo, onde o Belarmino despejou desajeitada e propositadamente, para manchar a alvura do pano e comprometer-me. Mais uma vez, as senhoras compreensivas, registaram que era sinal de alegria, e a Dona Preciosa voltou a inquirir sobre as minhas eventuais necessidades, ao nível da alimentação, bem entendido.
Claro, depois do repasto, já o pessoal se estendia pelas iguarias doceiras, e algum acompanhamento escocês, desenvolveu-se a confraternização. Foi muito engraçado. Uma quantidade de machões deu largas à camaradagem, contavam-se estórias, recordavam-se passados, prometiam-se vinganças futuras, afloraram-se estratégias, recordaram-se momentos e comportamentos de notáveis, trocaram-se contactos, discursou-se, sobretudo sobre acções de solidariedade, tudo num quadro de grande camaradagem.
Mas... há sempre um mas, a coisa tinha que degenerar para a vulgaridade, e lá veio o Mexia Alves, com uma listagem de presenças retirada de um programa informático, a informar os perplexos aderentes à festa, de que tinham que esportular oito aéreos e meio, e o resto ficava para uma obra auxiliadora. Ninguém refilou.
Cambada! Um português que se preza refila sempre, nem que seja com as aparições televisivas do ministro dos carcanhóis. Parecia um encontro de emigrantes, tudo a pagar excessivamente. E lá se orientou a obra.
Bem, para acabar, devia referir a lista de presências, mas não sou capaz de o fazer, que o disco rígido já acusa desgaste. No entanto, julgo que ninguém me levará amal, registar a vinda de um nórdico, da Suécia do ártico, que não resistiu ao apelativo da ementa, e permaneceu cá no jardim durante vinte e quatro horas. Ou a fama do cozido é extraordinária, ou anda fugido às autoridades. Trata-se do Zé Belo, por sinal um belo rapaz, que fica aqui denunciado. E não acrescento mais nada, porque hoje já foi dia de escassez, e ninguém teve a bondade de me prover um "tupperwere" com provisões suplementares.
Relativamente aos restantes, desafio o Mexia Alves a publicar aquela relação de almas saídas do computador.
Abraços fraternos
JD
__________________________________
Nota: O José Dinis coloca o Pimentel na viatura do Juvenal, o que não corresponde à realidade.
Para nosso conforto, era o Manuel Reis, o que sendo igual honra, sempre é mais maneirinho para caber no carrinho!
A "relação das almas" já estava publicada.
Aos camarigos que enviaram textos, peço compreensão, pois que estou sozinho nesta barca!
Quem me quer ajudar?
.
.

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Pois, lá está, o Zé Dinis cada vez revela mais jeito para os escritos em tom de relatório.
Um ou outro errozito, um ou outro lapso, não lhe tira o brilho...
E quanto a aptidões para 'dar ao dente', vai lá, vai! ninguém me consegue tirar da idéia que aquilo é conseguido à custa da 'caixinha azul'.
Também sempre ouvi dizer que "quem não é para comer não é para trabalhar", daí poder facilmente concluir que o Zé é um grande trabalhador...